quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

"Na máxima em 10 anos, dólar sobe mais por motivos internos", por Miriam Leitão

O Globo




A cotação do dólar bateu em R$ 2,83 e ficou no maior patamar desde 2004. Para entender o que se passa com a moeda americana mais vale olhar para o real. Mais especificamente, para o país que o emite. Os motivos do galope na cotação do dólar estão principalmente aqui no Brasil.
Não se trata (ainda) do efeito da subida dos juros nos EUA, tão temida, que vai deixar o investimento em países emergentes comparativamente menos atrativo. O estimulante do dólar é a situação da economia brasileira, que está ficando claramente preocupante.
— Volta a predominar um certo grau de incerteza com um pouco de negativismo quanto a 2015. Joaquim Levy é confiável, entende o que deve ser feito com a economia, mas o setor produtivo não está tão confiante. A herança do governo passado é pesada e há muita incerteza sobre a água e a eletricidade —, resume Sidnei Nehme, da NGO Corretora de Câmbio.
Quando o ministro foi anunciado, em novembro, o dólar caiu a R$ 2,5. Na virada do ano, estava em R$ 2,65. Nesta terça-feira fechou 13,2% e 6,8% acima daquelas marcas, respectivamente. É mais uma pressão sobre a inflação, na casa dos 7%. A lua de mel com Levy acabou e a culpa nem é dele.
Em Istambul, o ministro da Fazenda — para quem o dólar tem que ser livre — falou nesta terça-feira no encontro do G20 sobre as oportunidades de investimentos em infraestrutura no Brasil. Um pacote de concessões poderia atrair dólares e segurar o câmbio. Mas bastava ao investidor olhar os indicadores das outras economias participantes do evento para a propaganda de Levy perder seu encanto.
O salto da moeda americana também não é culpa do BC, que continua atuando no mercado de câmbio com o mesmo ritmo, conta Nehme. O dólar sobe aqui porque a realidade tem sido dura com o Brasil.