segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ministros de Dilma ´trambique` em guerra: Armando Monteiro contesta Levy e defende 'previsibilidade' no câmbio

Roberta Scrivano - O Globo


Em sua segunda reunião do dia em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro Neto, passou 2h30 às portas fechadas com empresários do setor industrial na sede da Fiesp. O objetivo do encontro foi alinhar as diretrizes do Plano Nacional de Exportação, encabeçado pelo Mdic e que deve ser colocado em prática em março, disse Monteiro Neto. Segundo o próprio ministro, o câmbio foi um dos assuntos mais debatidos. 

Pela manhã, Monteiro Neto aproveitou um encontro com representantes do setor varejista para rebater as declarações do seu colega da Fazenda, Joaquim Levy, que na última sexta-feira afirmou que o empresariado não deveria contar com medidas do governo no câmbio para ganhar competitividade.

— Há uma situação que deve ser evitada: considerar que o cambio é um instrumento de combate a inflação, e ter apenas essa visão. Ora, o cambio é um preço importante para a economia e pode produzir um desequilíbrio nos preços relativos — reforçou ele à noite, depois de reunião na Fiesp.

Ele completou que o câmbio, do ponto de vista da indústria, "tem que ser um elemento que crie condições de competitividade" ponderando que isso deve ocorrer "sem artificialismos, sem manobras artificiais".

Perguntado sobre o déficit de US$ 3,174 bilhões na balança comercial em janeiro, divulgado na tarde desta segunda pelo Mdic, Monteiro Neto embora reconheça que resultado tenha sido "negativo, ele é melhor que o de janeiro de 2014". Ele salientou que o déficit é US$ 900 milhões inferior ao do mesmo mês do ano passado.

— O resultado de um mês não traduz uma tendência. E é um mês em que se registra um número menor de dias úteis e isso tem reflexo — afirmou.

Pela manhã, Monteiro Neto aproveitou para esclarecer, após questionamentos de jornalistas, qual a sua posição em relação ao câmbio e o impacto sobre as exportações brasileiras.

— Eu gostaria de adicionar a essa colocação do ministro Levy, uma que eu também faço: o câmbio não pode ser usado como instrumento de combate à inflação. Câmbio é um preço importante para a economia e precisa produzir um equilíbrio no processo concorrencial — defendeu Monteiro, que assim como Levy está há pouco mais de um mês no cargo.

Monteiro admitiu que uma boa cotação do câmbio, ou seja, um dólar mais caro, é peça chave para o sucesso do seu Plano Nacional de Exportações, e que é importante que as taxas não sofram grandes oscilações, já que o empresariado precisar ter “o mínimo de previsibilidade”.

AJUSTE FISCAL CAUSARÁ “RESTRIÇÕES”

Essa foi a primeira reunião do ministro do Desenvolvimento com representantes do comércio e do setor de serviços. Monteiro afirmou que as medidas de ajuste já anunciadas pelo governo vão "impor custos e restrições" ao mercado interno. A estratégia apresentada por ele, de reforço das exportações como compensação do enfraquecimento da atividade doméstica, no entanto, não foi bem recebida pelos empresários presentes.

— Essas medidas do processo de ajuste, em que associamos o corte de gastos, aumento de tributos e outras medidas, lamentavelmente, terão impacto mais contracionista. (...) Acreditamos que a exportação pode ser um vetor para manter o nível de atividade econômica — afirmou o ministro.

Ao final da fala do ministro, Abraham Szajman, presidente da Fecomércio de São Paulo, se apressou em rebater a estratégia apresentada pelo ministro:

— Estamos preocupados com o mercado interno — disse.

Na sequência, Luiza Trajano, fundadora do Magazine Luiza e presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), criticou a maneira como o governo tem comunicado as medidas de ajuste. Segundo ela, a forma de condução dos anúncios está derrubando os índices de confiança dos consumidores, impactando diretamente o varejo.

Armando Monteiro ponderou diversas vezes que os ajustes fiscais são necessários para que o Brasil busque "no prazo mais curto possível o reequilíbrio macroeconômico". Ele acrescentou que a desburocratização de processos e dos impostos à iniciativa privada também estão na agenda de trabalho do ministério.

Flávio Rocha, dono da Riachuelo e ex-presidente do IDV, foi mais duro e disse ter "receio de o varejo perder muito para esse foco nas exportações". Ele defendeu que haja a elaboração de uma "cadeia integrada, não com produção aqui e comércio lá fora ou produção na China e venda aqui".

— Não dá para parar a locomotiva da demanda. É preciso azeitar os vagões — disparou Rocha.

Na tarde desta segunda-feira, o ministro terá reunião com o empresariado do setor industrial, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Monteiro reforçou que o papel do ministério é ser uma "plataforma para levar ao governo essas posições".

— Queremos encarar com realismo e assumir uma agenda que seja de interesse do setor privado — afirmou o ministro.