sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Frota brasileira cresce onze vezes mais rápido do que a população e já é suficiente para cobrir Barbados, no Caribe

Mariana Barros - Veja


     congestionamento
Saída para o feriado deve gerar 250 quilômetros de congestionamento nas estradas paulistas
 
Véspera de Carnaval é também conhecida como o Dia Nacional do Congestionamento nas Estradas. Em São Paulo, as filas de carros tentando sair da cidade para aproveitar o feriado devem alcançar 250 quilômetros de extensão, equivalente à distância entre a capital e Brotas, no interior paulista. Segundo especialistas, a razão para a intensa paralisia nas estradas é uma só: excesso de carros.

Na última década, o aumento percentual do número de veículos foi onze vezes maior que o da população. De 2001 a 2012, a frota brasileira passou de 24 milhões em 2001 para 50 milhões de veículos. Ou seja, em apenas dez anos, surgiu nas ruas a mesma quantidade de carros criada ao longo de todas as décadas anteriores.  Os dados são do Denatran, compilados pelo Observatório das Metrópoles, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia e podem ser acessados na íntegra aqui.


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O mais impressionante é o espaço que esses carros ocupam. Se fossem colocados lado a lado, demandariam uma área semelhante à de Barbados, no Caribe, terra natal da cantora Rihanna e cenário paradisíaco – está aí uma boa imagem para se ter em mente na hora de colocar o carro em ponto morto no meio da rodovia. Se o ritmo de crescimento da frota brasileira for mantido nos próximos anos, chegaremos a 2022 com mais de 94 milhões de carros circulando pelo país, o que demandaria uma área maior do que a de Singapura para comportar todos eles lado a lado.

Essas comparações partem de uma situação imaginária, em que seria possível colocá-los grudados uns aos outros a ponto de não ser possível nem abrir a porta. Se estacionados de maneira real, claro que demandariam mais espaço. Circulando, então, nem se fala. Apenas para que rodem em segurança e em baixa velocidade, em torno de 40 quilômetros por hora, seria preciso criar uma distância quinze metros entre o carro da frente e o de trás. Noves fora, até o Brasil pode ficar pequeno.

Criar mais espaço para os carros está longe de ser solução. Obras de ampliação ou duplicação de pistas até melhoram o fluxo de imediato, mas em pouco tempo ficam saturadas, insuficientes para comportar uma frota que só aumenta. O impasse então pode ser resolvido de três formas. Uma é através do desenvolvimento tecnológico dos carros que, com cada vez mais funções autônomas, em trinta anos dispensarão a necessidade de motorista e viajarão no modo piloto automático, como os aviões. Sistemas inteligentes de bordo, parecidos com o aplicativo de sugestão de rotas Waze, deixarão a cargo do veículo a preocupação com trânsito, caminhos e melhores horários para viajar.

Google e montadoras como a Volvo têm investido neste segmento (leia mais aqui).

A segunda alternativa é o transporte sobre trilhos: recuperar e criar linhas férreas com alta capacidade. Sem oferecer outro meio de transporte viável, é difícil convencer qualquer um a deixar o carro em casa, quanto mais obrigar alguém a fazer isso. A medida ajudaria até mesmo a desafogar o já carregado tráfego aéreo. Uma terceira solução passa por recuperar e melhorar os espaços de lazer das metrópoles, com mais opções de diversão e maior qualidade de vida. O esforço ajudaria a reduzir o êxodo de quem não suporta passar um feriado em meio à paisagem urbana — em São Paulo, a previsão é que mais de dois milhões de veículos deixem a cidade.

Mas, por enquanto, com investimentos apenas em rodovias, os congestionamentos pré e pós Carnaval têm tudo para permanecerem no calendário nacional.

Barbados, no Caribe, comportaria toda a frota brasileira. Mas é muito melhor do jeito que está
Barbados, no Caribe, comportaria toda a frota brasileira. Mas parece muito bem do jeito que está