domingo, 22 de fevereiro de 2015

‘Agitprop’, por Ilimar Franco

O Globo


Desde o 2º mandato do ex-presidente FH **, um presidente não iniciava uma gestão debaixo de tamanho tempo feio. A oposição tem material à vontade para deitar e rolar — Lava-Jato, CPI da Petrobras, ação da PGR, crise econômica, rebelião na base, derrota na presidência da Câmara e ajuste fiscal. E o Planalto fomenta: não negocia medidas previamente nem com o PT e nem conversa ou ouve, de fato, os seus aliados.
O método e o desarranjo político
Cientistas políticos, de todos os quadrantes, consideram “patético” o PT ter apresentado inúmeras emendas contra as MPs 664 e 665. Sem falar na rejeição das mesmas por organizações sociais, como a CUT e o MST, que apoiaram a presidente Dilma na eleição. Reproduzem a fala da oposição, de que Dilma traiu seus eleitores. Os petistas fazem pose para o público como se fossem de oposição. Para os analistas, o desacerto é fruto da falta de diálogo e da visão mandonista, na qual a base é tratada goela abaixo. Lembram que, quando FH propôs a reforma econômica, em 1995, reuniu parlamentares dos partidos de sua base antes da posse do novo Congresso.
A exclusão do PMDB
O Planalto preferiu o confronto a um acordo na eleição para a presidência da Câmara. E, debaixo do temporal, mantém do lado de fora o principal aliado: o PMDB. Nenhum de seus quadros integra o chamado núcleo duro da articulação política.
Confiança
Na crise do Mensalão, o ex-presidente Lula não tinha somente petistas entre os seus conselheiros. Ele também consultava o vice José Alencar e os ministros Thomaz Bastos, Aldo Rebelo (PCdoB), Eduardo Campos (PSB) e Ciro Gomes (ex-PPS).
Sempre cabe mais um
A oposição tem estratégia caso a lista de políticos denunciados na Lava-Jato seja mais acanhada que a especulada. A ideia é acusar a PF e a PGR de sucumbir à pressão do Planalto. A tática deu certo em 2005, quando o líder do PT no Senado, Humberto Costa, caiu do Ministério da Saúde. Ele foi inocentado no caso de fraudes em licitações.
Luz no final do túnel
Mesmo que o Planalto e o PT consigam mobilizar aliados e movimentos sociais, vários consultores políticos avaliam que o governo só conseguirá superar a crise se a economia voltar a crescer. Lembram que essa foi a receita do mensalão.
Com lupa no varejo
Integrante da CPI da Petrobras, o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) quer se debruçar sobre os contratos de terceirização da estatal. Segundo levantamento que recebeu, são cerca de 300 mil funcionários terceirizados, e 100 mil contratados.
*A expressão “Agitprop” é usada pelos partidos de esquerda como abreviatura de suas atividades de agitação e propaganda em defesa de uma causa.