Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? E quem criou o esquemão e deflagrou a roubalheira da Petrobrás: as empreiteiras ou os partidos que a dominaram e depois fatiaram?
Essa dúvida vai permear todo o desdobramento político e jurídico do maior escândalo investigado neste País. Vai virar um empurra-empurra e sua resposta vai definir, não o destino, mas o tamanho do buraco dos sabe-se lá quantos deputados e senadores a serem processados pelo Supremo Tribunal Federal.
No site do Ministério Público Federal, encontra-se um "Entenda o Caso" sobre a Operação Lava Jato que explica a história como um complô das grandes empreiteiras para predeterminar os resultados de licitações e pós-remunerar altos funcionários da Petrobrás. Em vez de esclarecer, o texto e seus diagramas aprofundam a dúvida atroz sobre ovos e galinhas.
Lê-se ali que as empreiteiras, "com o objetivo de aumentar a margem de lucro e obter favores, pagavam propina". Que agentes públicos "aceitavam propina para facilitar a atuação dos cartéis". E que os doleiros "intermediavam e entregavam a propina para os beneficiários" (incluindo políticos).
Nesse caso, os maiores vilões são as empreiteiras, que criaram uma organização criminosa para assaltar a Petrobrás. Elas teriam tomado a iniciativa, elas teriam cooptado diretores como Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque, e elas teriam contratado doleiros para lavar a sujeira.
Mas onde entra, por exemplo, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto? Ele não é executivo de empreiteira, nem diretor da Petrobrás, nem doleiro...
Por isso, as suspeitas - no mundo jurídico, por exemplo - é de que a origem não está nas empreiteiras e sim no PT, no PMDB e no PP. Com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os sindicalistas do PT assumiram a Petrobrás (além do Banco do Brasil...) e se deslumbraram diante do oceano de oportunidades. Aí começou tudo.
Nessa segunda hipótese, os partidos articularam o esquemão para financiar a eternização do PT no poder, convenceram as empreiteiras, cooptaram os diretores e listaram os doleiros. Um crime quase perfeito, não tivesse ficado fácil demais, abundante demais, e a turma não tivesse exagerado na dose, deixando rastros e uma montanha de sinais exteriores de riqueza que atraíram a atenção da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça.
Um parênteses doloroso, constrangedor: nunca tantas pessoas - dos governos, da área privada e principalmente dos quadros da empresa - lavaram as mãos, fecharam olhos e ouvidos e calaram diante de tamanho descalabro. Ninguém via aquilo tudo?! Durante tanto tempo?!
Mas isso foi uma digressão. O essencial é discutir se foram as empreiteiras que arrastaram os diretores e os partidos para a farra, ou se foram os partidos que cooptaram quadros da Petrobrás e atraíram as empreiteiras para o grande roubo do século no País.
Vai ser muito divertido assistir à guerra dos advogados, ao custo de mais alguns milhões de reais. Quem foi o mentor, o mandante, o gênio do mal? Quem corrompeu quem, e quem "apenas" se deixou corromper? Ou será que, em todo esse caso, o corruptor e o corrupto, o ativo e o passivo se embolam de tal maneira que é simplesmente impossível desembaraçar?
É assim, sem saber quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, que chegamos à reabertura do Congresso e à eleição para as presidências da Câmara e do Senado. A única certeza é que partidos, empreiteiros, diretores e doleiros estavam envolvidos. E que a nossa Petrobrás era a galinha dos ovos de ouro deles.