sexta-feira, 22 de agosto de 2025

'Um pesadelo totalitário', por Flávio Gordon

Longe de ser um evento isolado, a farsa brota do solo envenenado de um pacto que se cristalizou no coração do poder brasileiro


Ilustração: Revista Oeste/Feito por IA 


“O Estado totalitário não tolera a liberdade do espírito, pois nela vê uma ameaça à sua pretensão de absoluto.” (Luigi Sturzo, O Estado Totalitário, 1935) 


O Brasil, hoje eviscerado pela opinião pública mundial tal qual um besouro por um entomologista, consolidou uma distopia que faria perplexos os grandes mestres do gênero. A Polícia Federal, outrora instituição de Estado, e hoje reduzida a uma Gestapo tropical, alardeia ter desmantelado uma “conspiração internacional” de proporções apocalípticas. No centro da trama estão Jair Bolsonaro e Martín de Luca, advogado americano do Rumble e da Truth Social, que teriam cometido a ousadia de desafiar o intocável (ma non troppo) Alexandre de Moraes. 

As evidências apresentadas são um escárnio à razão: mensagens de WhatsApp, áudios triviais trocados em conversas informais e esboços de estratégias jurídicas que, em qualquer democracia minimamente digna do nome, não passariam de um corriqueiro aconselhamento jurídico. Aqui, contudo, sob o olhar fanático de um tribunal que opera com a lógica inquisitorial de regimes totalitários, esses elementos são carimbados de “golpe de Estado”, numa dinâmica perversa onde a mera suspeita faz as vezes de veredicto inapelável. 

Longe de ser um evento isolado, a farsa brota do solo envenenado de um pacto nefasto que se cristalizou no coração do poder brasileiro, o consórcio STF-PT-Globo. Trata-se de uma aliança simbiótica, na qual a toga, com seu verniz de legalidade, legitima as ambições autoritárias do Partido dos Trabalhadores, enquanto este, em retribuição, garante à corte uma aura de divindade intocável, blindada contra qualquer escrutínio. Esse regime, que não dispensa o espetáculo da força bruta, opera também com a precisão venenosa da caneta dos juízes e a subserviência de uma polícia que, despojada de seu distintivo e da chancela da lei, abraçou a lealdade partidária simbolizada pela estrela vermelha. 

Como num pesadelo totalitário em que o poder não se contenta em governar, mas exige reescrever a própria realidade, o consórcio transforma dissenso em crime, opinião em heresia e pluralidade em ameaça. Tudo sob a direção de cena dos apparatchiks globais… O caso de Martín de Luca é apenas um capítulo dessa pantomima que se autoproclama “defesa da democracia”, mas que, na prática, reduz o conceito a um privilégio exclusivo de uma casta que se arrogou o direito de decidir quem pode falar, escrever, legislar ou mesmo existir no cenário político. 

Prints de WhatsApp, interpretados com o fervor literário de delegados em busca de holofotes (e promoções), são alçados à categoria de provas de alta traição, numa lógica que remete aos tribunais de regimes em que a acusação é a própria sentença. A essa perseguição soma-se o ataque ao pastor Silas Malafaia, figura proeminente do evangelicalismo brasileiro, e relevante opositor ao regime.


Martin de Luca, advogado da Trump Media e do Rumble | Foto: Reprodução 

Sintomaticamente, ele também se tornou alvo de medidas restritivas draconianas, tendo os celulares apreendidos (cujo conteúdo particular foi logo vazado pela imprensa sicofanta), o passaporte retido e os sigilos quebrados. 

Ademais, o líder religioso foi proibido de manter contato com Jair e Eduardo Bolsonaro, sob a acusação de “coação” e “obstrução de Justiça”. O suposto crime são áudios nos quais Malafaia sugeria condicionar a suspensão de tarifas comerciais americanas à anistia de investigados pelos atos de 8 de janeiro — a defesa de uma causa humanitária que, em qualquer sociedade livre, seria protegida como liberdade de expressão, e que, proviesse da esquerda, renderia prêmios e menções honrosas na imprensa e em fóruns internacionais. 

Paralelamente, um vexame de proporções internacionais expõe a verdadeira natureza do déspota que comanda toda essa cruzada. Atingido pela Lei Magnitsky, Alexandre de Moraes teve seu cartão de crédito internacional bloqueado pelo Banco do Brasil. Embora oficialmente o ministro não possua ativos no exterior, o fato é secundário diante do simbolismo inapelável. Fora da bolha servil formada pela mídia e pelos tribunais brasileiros, Moraes é reconhecido pelo que realmente é: um violador contumaz dos direitos humanos, um burocrata que se crê imune à fiscalização da sociedade, mas cuja arrogância está sendo dia a dia desmascarada no cenário global. 

Esses episódios, longe de serem anomalias, compõem um mosaico de desmandos cuja origem remonta ao Foro de São Paulo, engendrado por Lula e Fidel Castro em 1990, que ensinou à esquerda latinoamericana como fundir a política com o crime. O Brasil de 2025 é a apoteose dessa doutrina: um banditismo institucionalizado, no qual a toga serve como cutelo de vingança partidária e a narrativa oficial é elevada à condição de dogma inquestionável. Enquanto o consórcio acusa Bolsonaro de “subserviência” a Trump, silencia sobre os bilhões de reais que, sob o governo Dilma, foram canalizados para sustentar a ditadura cubana por meio do programa Mais Médicos — um escândalo que transformou o Brasil em financiador do castrismo, sob os aplausos entusiásticos da elite progressista que hoje se cala diante do arbítrio doméstico. Isso para não falar da transformação do Brasil, promovida pelo lulopetismo, numa reles colônia chinesa de exploração.


Lula e Fidel Castro, arquitetos do Foro de São Paulo | Foto: Antônio Milena/Agência Brasil 


Fiel escudeira do consórcio, a imprensa autoproclamada “profissional” consagra cada ato de censura como um hino à civilização, enquanto o Legislativo, reduzido a um apêndice servil, limita-se a ratificar os ukases do Supremo. O povo, que outrora se acreditava soberano, é agora um rebanho manipulado, forçado a assistir à destruição de sua própria liberdade enquanto o consórcio se apresenta como guardião da democracia. As medidas contra Malafaia — apreensão de passaporte, proibição de deixar o país, quebra de sigilos — e o bloqueio do cartão de Moraes são o espelho que revela a nudez do tirano. Idolatrado pela bolha nacional como salvador da pátria, Moraes é, no exterior, apenas um burocrata sancionado, um tiranete de província que governa uma república de faz-de-conta, onde a justiça é um pretexto e a lei, um instrumento de opressão. 

O Brasil de 2025 não necessita de campos de reeducação (embora já os tenha) ou de pelotões de fuzilamento (que, por enquanto, habitam apenas a imaginação e a retórica da intelligentsia de esquerda). A ditadura opera por meio de panfletos disfarçados de despachos e operações cinematográficas da Polícia Federal, que transformam a repressão em espetáculo e visam a constranger pelo medo. A perseguição a Malafaia é emblemática desse processo: um líder religioso, cuja influência mobiliza milhões, é reduzido a alvo de um sistema que criminaliza a expressão de ideias, enquanto a narrativa oficial, respaldada por uma imprensa sicofanta, apresenta os abusos como necessários para “proteger a democracia”.


A história, testemunha implacável que não se curva a narrativas fabricadas, registrará o colapso da Nova República erguida sobre a automistificação da democracia contra o golpismo. Como numa fábula sombria, onde o porco que prometia liberdade revela-se o novo tirano, o Brasil, sob o jugo da toga e da estrela, tornou-se uma fazenda onde a igualdade é apenas um slogan, e o direito, uma memória distante. O consórcio STF-PT, com sua maquinaria de repressão e sua retórica hipócrita, pode enganar por algum tempo, mas não para sempre. Quando até os cartões de crédito e as manchetes internacionais denunciam a impostura, é sinal de que o espetáculo, cedo ou tarde, chegará ao seu ato final.



Flávio Gordon - Revista Oeste