Para a administração Trump, Alexandre de Moraes não é apenas um juiz; ele é o símbolo de um regime autoritário que ameaça a democracia na América Latina
Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta corte judicial do Brasil, parece colecionar inimigos com a mesma facilidade com que acumula poder. No Brasil, ele enfrenta críticas ferozes de cidadãos, jornalistas, advogados e juristas que o acusam de autoritarismo, censura e desrespeito às leis e ao devido processo legal. Nos Estados Unidos, seu nome agora ressoa nos corredores de Washington, com sanções impostas sob a Lei Magnitsky por violações de direitos humanos e ataques à liberdade de expressão. Como um juiz conseguiu unir brasileiros e americanos em um coro de indignação?
O inquérito das fake news, aberto em 2019, é talvez o maior divisor de águas na carreira de Moraes. Criado para investigar “ataques ao STF” e a “disseminação de desinformação”, o inquérito gerou polêmicas por sua amplitude e pelos métodos empregados. Moraes ordenou a remoção de conteúdos online, o bloqueio de perfis no X (antigo Twitter) e até a prisão de figuras como o ex-deputado Daniel Silveira. Essas ações, apenas o início de um pesadelo sem fim, mostraram que ele vem extrapolando suas funções desde o início, transformando o STF em um “superpoder” que combina juiz, júri e carrasco.
A ironia é que, enquanto Moraes justificava suas decisões como “defesa da democracia”, muitos brasileiros começaram a questionar se ele próprio não representava uma ameaça a ela. Mas o que os brasileiros jamais imaginaram é que os excessos de Moraes seriam expostos à nação mais poderosa do mundo.
Em 2025, a fama de Moraes cruzou o Atlântico. Em julho, os Estados Unidos o incluíram na lista de sanções da Lei Magnitsky, um terremoto político. A lei, criada para punir violações de direitos humanos, raramente é usada contra figuras de países aliados como o Brasil. A justificativa? As ações de Moraes, incluindo ordens de censura e prisões, foram vistas como ataques à liberdade de expressão e ao devido processo legal.
Agora, o mundo assiste a uma escalada sem precedentes nas tensões entre os Estados Unidos e o Brasil — e Alexandre de Moraes emergiu como o epicentro dessa crise.
Para a administração Trump, Moraes não é apenas um juiz; ele é o símbolo de um regime autoritário que ameaça a democracia na América Latina. Com Marco Rubio, descendente de cubanos e ferrenho anticomunista, à frente do Departamento de Estado, os EUA lançaram uma ofensiva multifacetada: tarifas comerciais punitivas, proibições de vistos e sanções Magnitsky. Esta semana, mais bordoadas: medidas contra os envolvidos no programa Mais Médicos, que trouxe milhares de médicos cubanos para o Brasil.
O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, participa de um evento no Departamento de Estado dos EUA em Washington, D.C., EUA (16/7/2025) | Foto: Reuters/Umit Bektas/Foto de arquivo
E essa abordagem não é mera diplomacia; é uma declaração de que os americanos não recuarão. Outros ministros do STF e autoridades brasileiras devem ficar alertas: a cavalaria chegou, com o peso da superpotência global. A ofensiva: a história encontra o descendente cubano Para entender a postura dos EUA, é essencial voltar aos anos 1980. Ronald Reagan assumiu a presidência com uma missão clara: erradicar o comunismo e qualquer forma de tirania na América Latina.
Ele via o continente como um campo de batalha ideológico, onde a União Soviética e Cuba buscavam expandir sua influência. Sua doutrina era implacável: apoiar forças anticomunistas, custe o que custasse. Reagan via o comunismo como uma ameaça existencial à liberdade, e sua vitória contribuiu para o colapso do bloco soviético. Hoje, a administração Trump evoca esse espírito.
Brasil de Lula, com laços com Cuba, Venezuela, Nicarágua e China, é visto como uma nova frente onde o autoritarismo renasce, disfarçado de “democracia progressista”. Moraes, com decisões arbitrárias e inconstitucionais, é apontado como o executor dessa agenda. Suas ordens de controle sobre redes sociais e liberdade de expressão reforçam essa percepção.
E é Marco Rubio, secretário de Estado de Donald Trump, que personifica a herança reaganiana. Filho de imigrantes cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro nos anos 1950, Rubio cresceu ouvindo histórias de opressão. Sua carreira é marcada por uma cruzada contra ditaduras na América Latina — de Cuba a Venezuela e Nicarágua.
Como senador, Rubio foi um dos arquitetos da Lei Magnitsky, que permite sanções contra violadores de direitos humanos. Agora, como chefe da diplomacia americana, ele aplica essa ferramenta com rigor contra o Brasil de Lula e Moraes. Rubio vê Moraes como um “juiz autoritário”, acumulando poderes judiciais, executivos e legislativos, censurando opositores e perseguindo cidadãos comuns e figuras como Jair Bolsonaro. Em declarações recentes, Rubio alertou que “vestes judiciais não protegem ninguém” de responsabilização.
Sob sua liderança, os EUA impuseram sanções Magnitsky diretamente contra Moraes, congelando ativos e proibindo sua entrada nos EUA, por violações à liberdade de expressão e ao devido processo legal. No entanto, Rubio não para aí: ele conecta isso a uma visão maior, onde o governo Lula representa uma ameaça comunista e tirânica, com laços econômicos e ideológicos com Havana e com a nefasta ideologia que fez com que seus pais fugissem da ilha de Fidel
The big stick — o porrete dos americanos
A administração Trump não mede esforços para pressionar o Brasil. Em julho, Trump anunciou tarifas de 50% sobre importações brasileiras, citando o “tratamento injusto” a Bolsonaro e a “perseguição política” orquestrada por Moraes. Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, elogiou a medida como um “golpe contra o regime”. Mas as tarifas eram apenas o começo. As revogações de vistos foram expandidas.
Esta semana, os EUA revogaram outros vistos de altos funcionários da saúde brasileira, como Mozart Sales, por envolvimento no programa Mais Médicos, que trouxe milhares de médicos cubanos para o Brasil durante os governos Dilma e Lula. Os EUA entendem que o programa era uma forma de “tráfico humano” orquestrado por Cuba, com o regime retendo até 80% dos salários dos médicos para financiar sua ditadura.
As sanções anunciadas por Rubio afetam não só os oficiais, mas suas famílias, e se estendem a outros países como Granada e nações africanas. A Lei Magnitsky, aplicada a Moraes, é o ponto alto: ela pune “violações graves de direitos humanos”, e Washington vê as decisões de Moraes — como bloqueios no X e prisões de críticos — como censura ditatorial. Rubio segue aberto para a aplicação da lei a outros nomes no Brasil.
Mas não é apenas Rubio que vem sendo duro com o Brasil em suas declarações. Darren Beattie, Subsecretário de Diplomacia Pública, chamou Moraes de “arquiteto da censura e perseguição política”, afirmando que ele é o “coração pulsante” da repressão no Brasil. Christopher Landau, Vice-Secretário de Estado e braço direito de Rubio, foi ainda mais direto: rotulou Moraes de “usurpador ditatorial” e alertou que juízes não podem se esconder atrás de togas para abusar do poder. Beattie conecta o regime Lula a uma rede de exploração cubana, descrevendo Moraes como o “executor” de um complexo de censura contra Bolsonaro e seus apoiadores. Landau usou o X para denunciar Moraes como o “rosto mundial da censura judicial”. Beattie, em mais uma postagem, foi além e acusou o regime Lula de ser uma extensão do comunismo cubano, conectando o Mais Médicos a uma rede de exploração.
Christopher Landau e Darren Beattie vêm criticando duramente o STF por acumular “poderes autoritários”, comparando-o a regimes que os EUA combatem globalmente. Eles também acusam Lula de ser complacente com o autoritarismo judicial.
Os homens fortes de Rubio emergem como vozes ativas e incansáveis na ofensiva contra o atual regime no Brasil.
E eles não estão sozinhos. Representam uma administração que vê o atual Brasil como um “eco da Venezuela”, com sanções se ampliando de juízes a oficiais de saúde.
O recado é inequívoco: Donald Trump não vai retroceder. Os Estados Unidos não tolerarão o que veem como uma deriva tirânica — e Rubio, com sua herança cubana, garante que a pressão vai continuar. Moraes é visto como ditador porque, para Washington, ele encarna o pior do autoritarismo — censura, perseguição e laços com regimes como Cuba através de Lula. As sanções, de tarifas a Magnitsky, visam a asfixiar economicamente e isolar diplomaticamente o Brasil até que o país mude de curso.
Outros ministros do STF, como Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes ou Cármen Lúcia, assim como autoridades do governo Lula, precisam prestar atenção. O jogo está escancarado e a sorte lançada: se apoiarem Moraes, podem atrair a mira americana.
Reagan não permitiu que o comunismo crescesse e lutou com todas as suas armas contra tiranos; Trump segue o exemplo à risca. A cavalaria americana chegou, e ela vem armada com sanções, retórica afiada e uma determinação histórica. O Brasil está no centro de uma nova “Guerra Fria Latina” — e os perdedores serão aqueles que ignorarem os alertas.
Teresa Guzzo - Bem sou admiradora de Trump desde seu primeiro mandato, agora então explodiu.Um olhar lúcido
para América Latina e especialmente para o Brasil que não é mais uma Democracia, é tirania na
veia.Os ministros do STF que fizeram chacota com o cancelamento dos vistos americanos, estão
agora muito preocupados com novas sanções que certamente virão. Assisti ao vivo um bate boca no
supremo no qual Fux estava contradizendo uma fala de Barroso. Barroso sua hora já chegou, seus
bens não tem mais valor,seu apartamento em Miami (que vale próximo de 20 milhões de reais)já
saiu em fotos em toda mídia mundial.Oeste continua firme e forte,sempre do lado certo, a verdade
aparece sempre.
Ana Paula Henkel - Revista Oeste