O país está prestes a perder a maior oportunidade entre todas as que historicamente já perdeu: ser o celeiro do mundo e garantidor da paz do planeta - Números são fatos. Trump se apegou a eles. E ao defender o modo de vida americano, outra cartada: a Constituição dos Estados Unidos, de quase 238 anos, tem se mantido intacta na garantia dos direitos civis, na separação dos poderes e na preservação da democracia mais pujante da história. Olhe ao redor e veja o mundo inseguro e impotente diante do narcotráfico e do crime organizado na América Latina, ante as ditaduras persistentes na África e na Ásia (o que inclui chineses e russos) ou a radical islamização da Europa que afronta avanços da civilização. Do outro lado, os Estados Unidos aparecem como a única força global capaz e que de fato está lutando contra isso. Símbolos inspiram pessoas. Exemplos reais e convincentes guiam multidões. A permanência dos EUA no centro da humanidade não é circunstancial, é uma construção sólida.
H á dois tipos de políticos no mundo: o que não se afasta da realidade e usa os fatos em nome de um projeto maior para o país; e o outro que abusa do cargo e afronta as evidências para apenas se manter no poder. Em suma, o estadista do interesse público — que constrói democracias sólidas com economias cada vez mais exuberantes — e o populista do interesse próprio — que empurra seu povo para o lado errado da história. Lula não é do primeiro grupo, sabemos. Sob sua terceira gestão, o país tem se afastado da própria democracia e, economicamente, está prestes a perder a maior oportunidade entre todas as que historicamente já perdeu: ser o celeiro do mundo e o garantidor da paz do planeta no século. O Brasil é hoje imprescindível para o mundo. Mas tudo começa de dentro para fora. É onde o governo Lula erra e afasta o país de seu protagonismo natural. Mas a nossa inequívoca relevância no cenário internacional não pode ser perdida de vista. Até porque não foi de graça. Fizemos por onde, desde a criação da Embrapa pelos militares, ao talento, trabalho e pesquisa made in Brazil. É este o país que precisa se mobilizar contra o plano do Lulopetismo de nos jogar do lado de lá do muro, o lado obscuro da humanidade.
Volto ao sucesso brasileiro em seguida. Antes, uma análise do mundo em que estamos. Ele mudou, tenha por certo. Entendê-lo como é deveria ser dever do governo de plantão. \
O caso concreto da nova administração Trump e de sua política de tarifas carrega dois aspectos da maior economia do mundo que jamais deveriam ser minimizados. Desde janeiro, há muita estratégia e inovação na comunicação. Subestimar isso é pedir para sair do jogo já na primeira rodada. Veja que no primeiro tempo de Trump na Casa Branca, entre 2017 e 2021, houve uma “guerra comercial” contra a China. Agora, além de a política ser outra, numa imensidão de novas características — algumas mais voltadas ao público americano, outras ao exterior —, a comunicação em si é, para surpresa de tantos, muito mais bem acabada. Abandonou-se o belicismo do termo “guerra tarifária” para o “Liberation Day” (dia da libertação). O pano de fundo é o mesmo: denunciar a disparidade das tarifas de importações entre os Estados Unidos — baixíssimas — com as do mundo inteiro — muito mais altas. A imposição de alíquotas maiores ao mundo inteiro, inclusive à China, para fazer “justiça” agrada ao público interno e gera enorme dificuldade ao exterior de se contrapor. Ao mostrar uma tabela com a sequência de países e a comparação das tarifas que os EUA cobram e com as que o mundo cobra sobre os produtos americanos, Trump gerou imagens indeléveis e a impossibilidade de negar fatos que foram exibidos em números incontestáveis. Havia, sim, uma disparidade.
Em comunicação, argumento palpável é tudo. Números são fatos. Trump se apegou a eles. E ao defender o modo de vida americano, outra cartada: a Constituição dos Estados Unidos, de quase 238 anos, tem se mantido intacta na garantia dos direitos civis, na separação dos poderes e na preservação da democracia mais pujante da história. Olhe ao redor e veja o mundo inseguro e impotente diante do narcotráfico e do crime organizado na América Latina, ante as ditaduras persistentes na África e na Ásia (o que inclui chineses e russos) ou a radical islamização da Europa que afronta avanços da civilização. Do outro lado, os Estados Unidos aparecem como a única força global capaz e que de fato está lutando contra isso. Símbolos inspiram pessoas. Exemplos reais e convincentes guiam multidões. A permanência dos EUA no centro da humanidade não é circunstancial, é uma construção sólida.
Um pouco de história. Se fôssemos resumir a Segunda Guerra Mundial, os americanos foram os grandes vencedores do conflito. Isso em nada diminui o esforço de guerra de todos os países aliados. Não é este o ponto. O que adiciono aqui é o algoritmo que inclui o tempo nesta análise. Desde os anos 40 do século passado, o protagonismo de Washington só fez aumentar. A Guerra Fria contra a União Soviética, quando o mundo esteve realmente dividido, também teve um vencedor: os Estados Unidos, com a lógica democrática que lhes é inerente desde o berço da sua independência.
A superpotência da URSS foi reduzida apenas à Rússia, que hoje não passa de uma ameaça beligerante pelo seu arsenal nuclear. Não é desprezível, jamais. Mas se antes era uma fonte de petróleo e gás para a Europa, a ponto de ser convidada a fazer parte do G7, como um país influente, economicamente se tornou um apêndice com alta dependência dos chineses, depois das sanções americanas e europeias que baniram os bancos russos do sistema Swift de pagamentos internacionais. A invasão da Ucrânia foi um erro, um crime de guerra baseado em uma doutrina do século passado — expansão territorial hostil, algo que não cabe mais no século 21.
Populistas sempre desdenham dos fatos e levam crise aos seus povos. Em recente palestra no evento Avenue Connection, em São Paulo, o economista Marcos Troyjo, que presidiu o Banco do Brics, disse que o mundo saiu da era da globalização para a atmosfera da geopolítica. Na brilhante análise de Troyjo, de extenso currículo como acadêmico e diplomata, as evidências são fartas no sentido de que as relações internacionais contemporâneas são hoje determinadas pela geopolítica. E é vital olhar para a China para entender o fenômeno.
Foi justamente a globalização que fez do gigante asiático uma potência econômica, como fábrica do mundo e participante na maioria das cadeias globais de suprimentos, ganhando estatura global para emergir como inegável potência geopolítica. Nesta nova guerra fria, os Estados Unidos continuam sendo o outro lado, o que explica muita coisa do resiliente protagonismo americano no mundo. Recorro a Marcos Troyjo para mais dados. São fatos. Trump não parece ter perdido nenhum deles de vista.
Se, após a Segunda Guerra, metade do Produto Interno Bruto do mundo era americano, hoje, ainda é de impressionantes 25%.
A aparente redução da participação americana no PIB mundial não deve enganar o leitor. A história e o tempo vão demonstrar que o poderio de fato e de influência permanecem imensos e decisivos. Não bastasse terem financiado e implementado o Plano Marshal, de reconstrução dos países destruídos pela guerra, os EUA têm hoje o maior PIB mundial: US$ 30 trilhões. A China oscila em torno de US$ 18 trilhões. Qualquer uma das três maiores empresas em valor de mercado nos EUA — Nvidia, Apple e Microsoft (todas de alta tecnologia) — vale mais que a Bolsa de Frankfurt, na Alemanha.
O estado mais pobre dos Estados Unidos, o Mississipi, tem renda per capita maior que a do Japão. A comparação não é à toa. Nos anos 80, início dos 90 do século passado, o vigor da economia japonesa empilhou compras dentro dos Estados Unidos, de indústrias e bancos a estúdios de Hollywood, um símbolo da indústria cultural e de poder de influência internacional.
Uma pausa para entender a engenhosidade da estratégia do “Make America Great Again”:
as tarifas sobre importações foram o primeiro passo. Trump as aumentou para todos os parceiros. O segundo foi atrair investimentos para os EUA de alguns desses países. Já está no acordo também. O terceiro foi a redução interna de impostos, burocracia, regulamentações e a melhora do ambiente de negócios com oferta de energia barata.
Provavelmente, seja esse o combo que fez a Apple anunciar US$ 600 bilhões de investimentos nos próximos anos. Um rápido comparativo: a carga tributária dos EUA para corporações deve cair de 21% para 15%. Com produção local, não há barreiras para acessar o maior consumidor mundial. É o desejo de Trump. Mas, mesmo no mercado externo, nenhuma outra nação do mundo importa mais que os Estados Unidos.
As compras para atender ao público americano de 340 milhões de pessoas com alto poder aquisitivo e cultura de consumo atingiram a marca de US$ 3,2 trilhões em 2024. Isso equivale à soma de todas as riquezas produzidas pelos franceses no mesmo ano, ou seja, o PIB da França. Mesmo assim, representam apenas 11% da economia americana.
Trazendo a discussão para abaixo da linha do Equador, dos mais de US$ 3 trilhões do total de importações americanas apenas de bens (juntando serviços, chega a US$ 4 trilhões), o Brasil só vendeu US$ 40 bilhões. Por que não fomos além no comércio exterior com o maior comprador mundial?
A resposta fala português e com erros de concordância graves na insistência de Lula em ignorar os fatos. Sem contar que nossa carga tributária global chegou a 35% em 2024, a reforma tributária falhou em simplificar de vez a legislação ou reduzir impostos porque o governo tem aumentado os gastos e sua conhecida ineficiência. Coloque a insegurança jurídica na conta e o risco de tombo do investidor aumenta. Para onde irão os bilhões de fundos de investimentos que procuram um porto seguro pelo mundo?
Veja que a União Europeia, o Reino Unido, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália, a Indonésia, as Filipinas, o Vietnã (os últimos três são as novas fábricas do mundo) já fecharam novos acordos com concessões importantes à Casa Branca. A Índia acaba de ser punida com tarifa de 50% por comprar petróleo russo e sob a acusação de servir como intermediária, um problema geopolítico, não tarifário. Mas permanece negociando, com um canal aberto entre Trump e o primeiro-ministro Narendra Modi. As conversas com a China ganharam mais 90 dias. Em todos os casos, ninguém abriu mão de negociar desde o princípio.
À exceção do Brasil de Lula, que escolheu ser porta-voz da desdolarização do comércio exterior em nome do Brics, sendo que publicamente todos os outros três grandes sócios originais tenham evitado defender a posição isolada do homem das jabuticabas azedas. Foi desautorizado, na verdade. Em sua megalomania de encontrar algum holofote internacional, Lula segue com a sandice de comprometer o trabalho dos exportadores brasileiros que, por competência própria, abriram mercado nos EUA.
Se Trump não se afasta dos fatos e os usa para aumentar ainda mais a importância da economia americana e de sua influência no mundo, Lula é exatamente o outro tipo de político. Usa tudo o que pode para afrontar os fatos como um déspota que só pensa em seu projeto de poder particular. Ao mandar às favas o interesse público, reduz o Brasil a um pária neste novo rearranjo internacional.
Diante da nova política da Casa Branca em relação ao país, detalhada na carta de Donald Trump em 9 de julho — a que denuncia o descalabro institucional brasileiro, a perseguição politica e as violações brasileiras aos direitos humanos — a primeira reação do Lulopetismo foi tentar ganhar eleitoralmente com o tarifaço. Não colou.
A narrativa do ataque à soberania é tão precária e mentirosa quanto indecente. Antes, o Brasil estava no exclusivo e privilegiado grupão dos 10% de alíquota. O antiamericanismo de Lula, a fala deslocada sobre abandonar o dólar como moeda global e o esfacelamento da democracia brasileira, com ênfase no esdrúxulo processo contra o expresidente Bolsonaro e nas perseguições a brasileiros e a cidadãos e empresas americanas, fizeram a tarifa subir para 50%, gerando um nó econômico interno difícil de desatar.
E isso tudo acontece neste particular momento em que o Brasil se preparava para ser a garantia da paz mundial via segurança alimentar do planeta, um parceiro estratégico dos EUA, não um inimigo. Nos próximos 25 anos, a população mundial vai crescer dos atuais 8 bilhões para 10 bilhões de pessoas.
Como diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, que Troyjo chama de um dos “heróis brasileiros” — o que este colunista subscreve — só o Brasil tem capacidade de aumentar sua produção de alimentos nesta proporção e em tão pouco tempo. O agronegócio que Lula chama de “fascista”, apenas porque não vota nele (comportamento típico de populistas), é a fonte do sucesso brasileiro que escolheu o lado certo da história.
Um sucesso econômico que vem da redemocratização nos anos 1980 e da Constituição de 1988. Foi com a garantia de liberdade de expressão e econômica, independência dos poderes, manutenção de valores ocidentais, cultura de paz e diplomacia profissional, técnica e negociadora com o mundo todo que chegamos até aqui.
Este é o Brasil dos brasileiros. Não o de Lula.
Adalberto Piotto - Revista Oeste