instituições que possam sobreviver às pessoas
— Vou fazer a assinatura vitalícia da Oeste.
— O que é isso?
— Assinatura pro resto da vida.
— Pra quê?
— Ué? Pra não precisar renovar nunca mais. Vou poder ler a revista inteira sempre que eu quiser.
— Como é que você sabe o que você vai querer ler daqui a dez anos?
— Vou querer ler a Oeste.
— E se a revista mudar de dono? E se ela virar mais um puxadinho do sistema?
— É ruim, hein?
— Sei lá. Já vi de tudo na imprensa.
— Comecei a ler e assistir a Oeste na pandemia. Era justamente o lugar onde eu conseguia ver as coisas fora do terror do sistema.
— É, mas as coisas mudam.
— Claro que mudam. Num país onde até o passado é incerto… Que dirá o futuro.
— E aí você vai fazer uma aposta pra vida inteira.
— Vou.
Foto: Shutterstock— Não tem medo de se arrepender?
— As pessoas estão apostando até em quem vai receber cartão amarelo. Por que eu não posso apostar num veículo em que eu confio?
— Confia hoje. Como você mesmo disse, aqui até o passado é incerto.
— Não vou me arriscar a prever o passado. Vou investir na previsibilidade do futuro.
— Pra quê?
— Qualquer construção de país tem que ter coisas que durem, instituições que possam sobreviver às pessoas.
— E se o PT mudar o mapa de novo, invertendo Leste e Oeste? A revista que você assinou pra sempre pode ir parar na China.
— Tenho fé que a Oeste sobreviverá ao IBGE.
— E se o Augusto Nunes começar a falar bem do Lula? Tenho visto metamorfoses impressionantes nesse campo…
— Mais fácil um elefante sobrevoar o Palácio da Alvorada dando tchauzinho pra Janja.
— O certo é Palácio “do” Alvorada.
— Vejo que você andou estudando português com a primeira-dama.
— Não foge da minha pergunta.
— Que pergunta?
— Sobre o principal jornalista da Oeste.
— Bom, se a minha resposta não ficou clara, vou tentar ser mais explícito: a probabilidade de o Augusto Nunes dar essa pirueta intelectual que você mencionou é exatamente a mesma de a Dilma Rousseff refutar Albert Einstein e reescrever a Teoria da Relatividade.
— Ué? Por que não? Lá nos Brics ela está com tempo.
— OK, desisto. Você venceu.
— Não vai mais fazer a assinatura vitalícia da Oeste?
— Vou.
— Então por que você disse que desistiu?
— Desisti do diálogo com você. Mas vou fazer uma coisa melhor.
— O quê?
— Vou te dar de presente uma assinatura vitalícia da Oeste. Você vai precisar de tempo.
Guilherme Fiuza - Revista Oeste