O 'modo PT' de governar leva o Brasil à ruína
O número do desemprego atual de 5,8% deveria ser comemorado. É um dos mais baixos da história brasileira. No entanto, é preciso levar em conta os 16% de jovens entre 15 e 25 anos que não estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”. Além disso, há as 51 milhões de pessoas atendidas pelo Bolsa Família, que também não entraram nessa conta. Fato é que um dado em si pode não revelar a integralidade do cenário — se realmente positivo ou apenas um soluço. Na economia, existe o que os economistas chamam de conjuntura — a série de informações econômicas que considera o momento. E há o que eles denominam estrutura — dados de suporte mais concretos e com influência de longo prazo. Não se acanhe com os termos. Se aplicarmos fatos recentes à explicação, tudo fica mais claro.
Lá atrás, a segunda gestão de Lula teve crescimento expressivo do PIB. Em 2010, o último dos seus oito anos de governo, a economia cresceu 7,5%. Esse resultado permitiu que Lula fizesse sua sucessora, Dilma Rousseff, e projetasse o Brasil como potência emergente. A revista inglesa The Economist se encantou. A capa com o Cristo Redentor decolando como um foguete prometia o céu. A conjuntura era de fato boa. Cenário internacional favorável, a China consumindo avassaladoramente tudo o que o mundo produzia de commodities agrícolas e minerais e o Brasil tinha produto para entregar.
Mas aquele Brasil não era o do PT. Era fruto da Embrapa, criada pelos militares, e de investimento privado que o PT afugenta, mas que foram vitais para tornar o agronegócio brasileiro exponencial — o qual o Lula real chama de “fascista”. Também era fruto da tradição diplomática sofisticada e profissional do Itamaraty, herdada do governo Fernando Henrique Cardoso, assim como a política de responsabilidade fiscal — a antítese do lulopetismo raiz. Quando o boom das commodities perdeu força e a China desacelerou, o Brasil passou a depender só dele.
E foi então que se revelou o país governado pelo PT. A frustração de um novo voo de galinha não poderia ser evitada por falta de gente capaz no governo, que não havia preparado o país para diversificar sua economia. Dilma Rousseff, versão original da economia petista — “gasto é vida”, dizia a herdeira de Lula e rainha do PowerPoint enfiou o Brasil na maior recessão de sua história: −3,5% em 2015 e −3,3% em 2016. Quando o modelo de “sucesso” do PT foi posto à prova, o país afundou. A história não faz esforço para ser levada a sério. Ela, séria como é, continuará lá.
A conjuntura que fez Lula decolar com o crescimento chinês devorador de bens do mundo inteiro não existia mais. Só que estruturalmente o país não fora preparado para criar alternativas de crescimento sem a China e sem a linha dura de Antonio Palocci, ainda no primeiro mandato de Lula. Não houve investimento sério em educação profissional ou aumento da produtividade da economia. O que sobrou foi um Estado inchado pela gastança desenfreada com funcionalismo e estatais ineficientes, a criação até de uma desnecessária e cara emissora de TV estatal e o Petrolão — o maior escândalo de corrupção brasileiro que conseguiu a proeza de quebrar a Petrobras. Esse é o legado da “era de ouro” do lulopetismo no poder: uma sensação de conforto econômico por algum tempo, dada a conjuntura positiva passageira, e um país enterrado em déficits fiscais, ineficiência e jovens que não foram preparados para um mundo em transição econômica.
É curioso que os barões do sistema financeiro da Faria Lima e dos bancos tradicionais, que sabiam de tudo isso, tenham apoiado Lula na eleição passada. Apoio que se mantinha até outro dia, quando viram o “primeiro comunista no Supremo”, o ministro Flávio Dino, indicado por Lula, dar a entender que os bancos brasileiros não devem cumprir a Lei Magnitsky — algo que pode bani-los do Swift, o principal sistema global de pagamentos. A decisão estranha, vista como uma medida corporativista para proteger o ministro Alexandre de Moraes, acusado de graves violações de direitos humanos, causou no dia seguinte a perda de R$ 41 bilhões em valor de mercado dos principais bancos brasileiros (Itaú, BTG Pactual, Banco do Brasil, Bradesco e Santander).
Decisão suprema “incumprível”, teria dito um figurão banqueiro. Ele e seus colegas, que até outro dia se imaginavam “imexíveis”, vão ter que se mexer se não quiserem se ver fora da economia mundial. É impensável isso. Sei. Mas possível se o governo Lula continuar a dobrar a aposta diplomática enlouquecida contra a Casa Branca. Bemvindos à vida como ela é. A foto desta semana com os líderes europeus sentados ao redor da mesa de Donald Trump no Salão Oval é ilustrativa e emblemática. Os artigos de Oeste “Lula empurra o Brasil para o lado errado da história” e “Swift: a sanção das sanções”, anteciparam essa realidade incontornável da inevitabilidade, digamos assim, da política externa norte-americana.
O resgate histórico sobre o modo PT — perdulário na economia e populista na política — era necessário e antecipava o que viria a acontecer. Quando depende só dele, o PT estraga o legado positivo de antecessores e deixa uma tragédia para sucessores. É a história que não pede licença para dizer a verdade. E que vai se repetir de forma ainda mais grave se o atual governo não for contido. Não há sinais de autocontenção, por ora. Se no início de 2017, logo depois do impeachment de Dilma, afastada do poder por maquiar os gastos e levar o país ao buraco, faltou dinheiro até para a emissão de passaportes pela Polícia Federal, o próximo presidente que tomará posse em janeiro de 2027 vai assumir com uma bomba fiscal no colo deixada por Lula 3: a vingança. Impossível não nos lembrarmos de uma entrevista de Lula e seus desejos confessos ao agente da Polícia Federal quando estava preso em Curitiba.
Na divulgação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o documento que disciplina gastos e expõe as despesas, a equipe econômica comandada pelo ministro Fernando Haddad teve de reconhecer que o país não terá dinheiro para pagar tudo o que precisa. A conta de luz, os gastos de viagens de diplomatas, investimentos aqui e ajudas emergenciais, por exemplo. O orçamento do governo não é essencialmente diferente de um orçamento doméstico. Você tem as despesas obrigatórias, como gastos em educação, saúde — determinadas em percentual fixo pela Constituição — e o salário do funcionalismo, igualmente compulsório.
Indicado ao STF por Lula, que se opõe ao EUA, Dino está em dissintonia com a legislação internacional, avaliam banqueiros | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O cidadão não pode fugir de pagar o aluguel e a compra do supermercado sob o risco de morar na rua e morrer de fome. Para evitar a bancarrota pessoal, a dona de casa compra a marca de sabão em pó mais barata, muda o filho da escola particular para uma pública e não sai de casa para comer em restaurantes. Não viaja nem para Poços de Caldas, muito menos de avião para o exterior, como faz Janja. No que podem economizar, onde dá, as famílias brasileiras economizam — são responsáveis por manter o essencial até que a situação financeira melhore com mais renda. Dilma não fez isso. \
Quebrou o país. Lula está no mesmo caminho e vai quebrar o país de novo em nome de sua vaidade política e projeto de poder pessoal. Segundo a LDO, em 2027 teríamos algo inusitado, um negócio chamado de “orçamento negativo”. Explico. O governo calcula que precisará de R$ 122 bilhões no ano para honrar esses gastos chamados de discricionários. Fez as contas e chegou à conclusão de que faltarão R$ 12 bilhões para conseguir fazer a máquina do governo funcionar.
Mas não existe “orçamento negativo” porque orçamento é um planejamento do uso dos recursos. Neste caso, dinheiro do pagador de impostos. Se não cabe no que você ganha, você reduz os gastos. Vale para mim, vale para você, vale para todos, aqui e no mundo, menos para Lula, que continua gastando.
A tragédia futura tem o macabro benefício de ainda não ter chegado. A que já estamos vivendo, não. O governo federal está explodindo as contas públicas no on e no of , no presente e no futuro. Ou seja, no orçamento previsto e nos gastos por fora. Segundo o Instituto Fiscal Independente, Lula já gastou até agora, em 2025, R$ 324 bilhões fora da meta fiscal, que deveria ser o limite para não faltar dinheiro para pagar as contas.
Até o final do mandato, serão R$ 378 bilhões. Para se livrar de responder por crime de responsabilidade fiscal, como aconteceu com Dilma, o lulopetismo 3.0 tem recorrido ao artifício de continuar aumentando gastos sem que essas despesas entrem no cálculo oficial, que demonstraria um rombo muito maior. Tem tido ajuda do parceiro de consórcio, o STF, que lhe dá autorização para gastos além da responsabilidade. Mas é necessário lembrar que a política suja de maquiar gastos com autorização do Supremo não diminui a dívida, que terá de ser paga em algum momento.
De novo, um recorte histórico se faz necessário. O descalabro fiscal começou ainda na fase de transição, depois da tumultuada eleição de 2022, quando o Tribunal Superior Eleitoral e o próprio STF estavam agigantados, poderosos demais e puseram o Legislativo, que deveria fiscalizar o Executivo, de joelhos. Assim, estabeleceu-se um desvirtuamento inconstitucional entre os poderes como nunca antes visto. Isso não diminui a culpa do Congresso que aprovou a emenda Fura Teto — os congressistas até conseguiram reduzi-la para R$ 156 bilhões —, mas explica muita coisa. De lá para cá, as contas do país foram maltratadas.
Baseado em gastança populista e nenhuma competência positiva, o governo Lula registrou logo nos dois primeiros anos um déficit fiscal que soma R$ 262 bilhões. Está a caminho de um terceiro, agora em 2025. Mas essa conta precisa de uma análise maior. Em 2024, a equipe de Haddad, o pupilo de Lula, decidiu pagar todos os precatórios — títulos de dívida do governo já decididos em última instância pela Justiça — numa tacada só. Foram R$ 92,4 bilhões pagos, contrariando uma emenda constitucional aprovada no Congresso, ainda no governo Bolsonaro, que alongou o pagamento dessas dívidas. De repente, um montão de donos desses títulos, muitos que compraram com desconto de pessoas que não podiam esperar, receberam pelo valor de face, corrigido monetariamente. Por que será?
O fato é que a apressada onda de bondades — para alguns — de um governo já deficitário ampliou o rombo das contas de 2023 para R$ 230 bilhões, pagos por todos. Outra novidade petista. Com as bençãos do STF, o déficit de 2024 foi divulgado como sendo de “apenas” R$ 11 bilhões. Uma maquiagem. O valor de R$ 32 bilhões da ajuda emergencial aos afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul e o que foi gasto no combate às queimadas pelo país foram retirados da conta. De fato, o déficit foi de R$ 43 bilhões — gastos que terão de ser pagos em algum momento.
Em outubro do ano passado, a dívida bruta do país ultrapassou a marca de R$ 9 trilhões pela primeira vez na história. Até ali, em menos de dois anos, Lula tinha aumentado a dívida brasileira em R$ 1,8 trilhão sem nenhuma melhora na vida das pessoas. Quase a mesma coisa que no mandato inteiro de Bolsonaro (R$ 1,9 trilhão), que enfrentou a pandemia de covid-19 e a guerra da Ucrânia. Por dentro ou por fora, se em on ou of , gasto não é vida. Gasto de hoje é dívida que, como dizia o ministro Paulo Guedes, precisa ser evitada para não punir as gerações futuras.
Nada parece conter a gastança do governo Lula, baseada apenas em irresponsabilidade fiscal — não punível pelo Congresso e pelo STF — e populismo atroz, que só pensa na eleição do ano que vem. O próprio governo já furou ou modificou o arcabouço fiscal, que criou em substituição ao regime de metas fiscais mais severo que regeu os governos Temer e Bolsonaro — estes que recuperaram o país da tragédia petista e deram rumo à economia brasileira. Em seis anos e meio, o país saiu de uma recessão, fez reformas estruturais — como a Trabalhista, a da Previdência, a autonomia do Banco Central e o Marco do Saneamento — recuperou o crescimento do PIB, superou crises internacionais e no último ano, em 2022, a dupla Bolsonaro e Guedes deixou o país com crescimento de quase 3%, sustentável e replicável.
Justamente porque baseado em redução da burocracia, eficiência do gasto público, modernização da máquina pública, digitalização de serviços, austeridade fiscal e um ambiente de negócios favorável ao investidor. Não por acaso, o Brasil foi em 2022 o quinto maior destino de investimentos externos no mundo e o maior da América Latina, com 41% do total.
Além da acelerada desinstitucionalização do país, o que traz enorme insegurança jurídica e perseguições políticas como ferramenta eleitoral, Lula não tem plano nenhum que contemple a melhoria da vida brasileira. No modelo econômico, gera dívida, que gera inflação, que exige juros altos que reduzem o investimento na melhor das hipóteses. Mas, com a taxa básica em 15%, a possibilidade de uma recessão pode ser inevitável. Nem com a maioria dos diretores indicados pelo governo petista conseguiu reduzir a taxa Selic. Ao contrário, ela aumentou. Se permanecerem técnicos, como tem sido, eles precisarão mantê-la alta em nome de alguma responsabilidade diante da irresponsabilidade fiscal de Lula.
Não bastasse o cenário interno de destruição de ganhos do país feitos nas gestões que lhe antecederam, Lula implodiu o decantado equilíbrio e profissionalismo do Itamaraty. Nas relações exteriores, o país é visto com toda a desconfiança que se atribui a republiquetas e párias. Alianças com ditaduras, simpatia a grupos terroristas e inabilidade grotesca de entender a geopolítica internacional, sob nova direção americana, afastam o país de conversas importantes e aumentam o risco de isolamento. Para nossa política internacional é ruim. Para a economia, trágico.
A tarifa inicial de 10% que recebemos na reorganização tarifária promovida pela administração Trump era o preço econômico mínimo a que o mundo fora submetido e que estava precificado e seria absorvido com certa tranquilidade entre os exportadores brasileiros. Os outros 40 pontos percentuais são de Lula. A tarifa atual, majorada a 50%, mesmo com todas as exceções por vontade exclusiva da Casa Branca, é uma pancada sem possibilidade de ser absorvida pelos setores que ficaram de fora, os que pagarão não apenas o Custo Brasil como o Custo Lula.
Desde o início do terceiro mandato, o governo Lula e seu ministro da Fazenda Fernando Haddad — jocosamente apelidado de “Taxad” — adotaram 37 medidas que aumentaram impostos ou criaram novas taxas. Entre as quais, o aumento do IOF, decidido pelo ministro Alexandre Moraes, no tapetão do STF, a favor do governo e contra a decisão democrática do Congresso. Isso aumenta o Custo Brasil, recheado de insegurança jurídica. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais aponta que, apesar de extremamente prejudicial, o tarifaço de Donald Trump terá um impacto de 0,26% de perda no PIB brasileiro, algo como US$ 31 bilhões.
Poderá ser menor se ajustes redirecionarem nosso comércio exterior. Caso isso aconteça, o impacto chegará a US$ 12 bilhões. É desprezível se comparado ao estrago que causa o Custo Brasil — o conjunto de dificuldades estruturais internas que prejudica o ambiente de negócios no país e nossa competitividade internacional. O Custo Brasil representa perdas de R$ 1,7 trilhão por ano ao país, o equivalente a 20% do PIB nacional. Apesar de alguns indicadores econômicos serem aparentemente positivos na conjuntura atual, estruturalmente, o país padece e retrocede quando o governo dá sinais de criar uma nova crise.
Por fim, é necessário reconhecer que o Brasil tem o privilégio de saber que a solução de seus problemas depende só dele. Seja na política econômica interna ou na péssima imagem no exterior que criou, a começar com os Estados Unidos, justamente por se afastar da nossa Constituição e das tradições brasileiras. No entanto, com Lula e o STF, parceiros de consórcio, o privilégio é hoje um problema.
Adalberto Piotto -= Revista Oeste