Antonio Junqueira, secretário de Agricultura de São Paulo | Foto: Divulgação
Membro da quarta geração de uma família de produtores rurais, Antonio Junqueira, 63 anos, é secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Sem filiação partidária, ele tem no currículo formação em administração e pós-graduação em negócios imobiliários, além de uma vida dedicada ao cultivo da terra desde a infância e quatro anos de serviço (de 2007 a 2011) como secretário-adjunto na pasta hoje sob seu comando.
“O agro é o maior e o melhor negócio para São Paulo”, afirma. Ao lembrar as origens da riqueza paulista nas lavouras, ele brinca: “Deveríamos nos ajoelhar e rezar diante de um pé de café todos os dias”. A planta fez imigrantes passarem de agricultores pobres a fazendeiros ricos. “Com esse dinheiro, muitos se tornaram industriais, banqueiros e donos de construtoras”, afirma.
Apaixonado por cavalos, Junqueira ainda tem terras no interior do Estado. “Planto cana-de-açúcar, seringueira e banana, além de ter cultivado laranja no passado”, conta.
O secretário deixa clara a admiração pelo governador Tarcísio Gomes de Freitas. “Um homem de cabeça privilegiada, com um futuro brilhante”, diz. “De origem humilde, ele sempre foi aprovado nos concursos em primeiro lugar e está fazendo um governo muito bem avaliado.”
Confira os principais trechos da entrevista.
Qual é a importância do agro para o Estado de São Paulo?
O agro é o maior e o melhor negócio para São Paulo. Para se ter uma ideia, em maio as exportações do setor cresceram 7%, em comparação ao mesmo mês de 2022. O superávit na balança comercial é de quase US$ 8 bilhões. A agropecuária representa por volta de 15% das exportações paulistas. O Estado é muito forte no agronegócio e está dentro do Brasil, país que caminha para ser o maior produtor de alimentos do planeta e é o maior conservador ambiental. O produtor rural preserva porque o solo é o seu grande patrimônio. Minha família foi produtora de laranja por 42 anos. Sem a preservação da fertilidade do solo, o pé de laranja não produz e não gera faturamento.
Como a laranja contribuiu para a evolução do setor no Estado?
São Paulo é o maior produtor de suco de laranja do planeta. Há outros Estados produzindo atualmente. Paraná e Minas Gerais estão entre eles. Mas a maior parte da produção ainda é paulista. Meu avô, Antonio Borges de Queiroz, ajudou a fundar a Coopercitrus, a grande cooperativa do setor. No cooperativismo, todo produtor, independentemente do tamanho, é visto da mesma maneira. Não importa se tem dez caixas ou 1 milhão de caixas de laranja, ele tem voto e é tratado com o mesmo respeito. O legado desse modelo é mostrar que a agricultura é uma só, e todos precisam de acesso a condições de crescimento. O pequeno tem de se tornar médio, e o médio precisa chegar a grande. Isso tem de acontecer na produção rural de São Paulo.
A cana-de-açúcar é outra cultura de destaque no Estado. O que ela significa para São Paulo?
A cana-de-açúcar é o maior produto agrícola do Estado. Esse segmento dá origem a uma série de soluções. Existe até mesmo um tipo de plástico feito com ela. O setor é um case de sucesso para o Brasil. As usinas investem em pesquisa, ciência e tecnologia. O resíduo é reaproveitado, vira adubo e outros produtos, em vez de poluir o meio ambiente. Essas empresas melhoram as estradas dentro das propriedades rurais para otimizar o escoamento. Como resultado, São Paulo é o maior produtor de açúcar do planeta e também gera energia com o bagaço e o etanol. Quando surgiu o Proálcool, em 1975, muita gente não acreditou no projeto. Agora a célula de hidrogênio de etanol é estudada como uma solução para o carro elétrico. Não bastasse tudo isso, esse plantio abriu espaço para o amendoim.
Onde o amendoim está causando mais impactos positivos?
O amendoim está mudando a cara de regiões como a de Tupã, antes conhecida como “corredor da fome”. Agora ela possui uma produção enorme dessa cultura. Tenho recebido delegações chinesas muito interessadas em que as empresas do Estado produzam materiais à base desse grão. Aliás, tem muito estrangeiro de olho no potencial agrícola de São Paulo. Um grupo francês procurou o governo para demonstrar interesse no plantio de cevada em Taubaté e Itapetininga, por exemplo. Eles se propuseram a pagar 20% mais que o valor atual conseguido com a produção de trigo.
A agricultura é feita de ciclos. Existe alguma outra cultura prestes a despontar nas lavouras paulistas?
O cacau. Na região de São José do Rio Preto existe a possibilidade de começarmos o cultivo em consórcio com a seringueira. Sem derrubar um único pé, você planta o cacau na sombra da seringueira e passa a ter duas culturas no mesmo lugar. É melhor para o produtor, que aumenta o faturamento com a mesma quantidade de terra. Pelas estimativas dos técnicos da Secretaria de Agricultura, São Paulo pode superar a safra de cacau da Bahia, que hoje divide com o Pará o título de maior produtor nacional.
O Brasil é um dos grandes fornecedores de proteína animal. Como os paulistas se inserem nesse mercado?
São Paulo é um grande abatedor de bovinos, apesar de não ser um expressivo criador de bezerros. Muito gado vem para os confinamentos paulistas para terminar a engorda e ser abatido. Além disso, o Estado é o maior produtor de ovos do país. Na cidade de Bastos, a grande região para essa atividade, são 280 ovos por segundo. Existem 30 milhões de aves em granjas naquela parte do Estado. Também somos um dos mais expressivos produtores de carne de frango do país.
A gripe aviária preocupa o Estado?
A avicultura é um setor que merece todo o cuidado. Temos verba e estamos preparados para combater a gripe aviária, que ainda está longe das criações comerciais. Quando converso com outros secretários estaduais, percebo que estamos mais bem estruturados para enfrentar o problema. Nos preocupa o efeito do que acontece nos outros Estados sobre a nossa produção.
“A mensagem é: aqui em São Paulo não vai ter invasão de terra. Vamos agir dentro da lei, e o governador quer que o agricultor tenha segurança para produzir”
Por falar em defesa sanitária, um caso de fiscalização no Estado ganhou repercussão nacional. Recentemente, um agente destruiu a produção de uma queijaria artesanal no interior. Como essa situação foi resolvida?
Isso aconteceu com a queijaria Mulekinha, em março. Ela fica em Ibiúna. A situação foi emblemática. Para se ter uma noção, os desdobramentos desse caso deram origem a uma parceria em negociação com o governo da França. Por meio dela, ocorrerá a troca de aprendizagem entre técnicos e produtores paulistas e franceses. Nós agimos rápido para buscar entender o que estava acontecendo. A ordem do governador é clara: ‘Treinar e orientar primeiro; multar, somente em último caso’. Vamos ajudar quem quiser melhorar e multar quem não estiver disposto a se adequar. No caso da Mulekinha, percebemos que a conduta do fiscal não foi adequada. Essa história deixou claro que nós precisamos treinar mais e melhor toda a estrutura da Secretaria de Agricultura. Temos de modernizar e aprimorar as condições de trabalho e atendimento. Notamos a necessidade de aproximar fiscais e produtores e de dar condições para que o queijo artesanal se torne um grande negócio no Estado. Esse era um produto que, até pouco tempo atrás, não tinha tanta importância. Agora ele pode se tornar uma cadeia produtiva forte. As chaves são modernidade e parceria. A secretaria e o setor produtivo precisam trabalhar juntos. Nós vamos melhorar a fiscalização e a vida dos produtores artesanais.
Com relação à modernização, conectividade está entre os principais assuntos do momento. O que a secretaria faz nessa direção?
Existe um estudo da Embrapa mostrando que o ganho de produtividade por colocar internet na zona rural é de 15% a 20%. Estamos focados em construir um programa para que o pequeno produtor tenha conectividade, fazendo o financiamento por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista. Os juros são de 3% ao ano, com até cinco anos para pagar. A meta é ter conexão em toda a área rural. A ideia é dar ao agricultor a possibilidade de resolver todos os problemas pelo computador ou pelo celular na propriedade, eliminando a necessidade de ir até a cidade. Deixar a vida mais fácil e menos cara. Das 413 mil propriedades rurais do Estado, 190 mil são pequenas, com até 22 hectares. Precisamos modernizar o dia dia dessas pessoas.
Em todo o país, invasão de terra é um assunto que preocupa o produtor rural. Como o governo enfrenta esse problema?
Há pouco tempo, houve a invasão de uma fazenda superprodutiva em Santa Cruz do Rio Pardo. Cerca de 100 hectares com gado bovino. O governo agiu e a reintegração de posse foi feita. A mensagem é: aqui em São Paulo não vai ter invasão de terra. Vamos agir dentro da lei, e o governador quer que o agricultor tenha segurança para produzir.
Como o senhor vê grupos como o MST?
Dentro do MST tem muito produtor que merece apoio, por isso estamos regularizando as terras no Pontal do Paranapanema para quem tem vocação. Porém, já vi muito assentamento pelo Brasil. Em alguns casos, a pessoa recebe a terra e acaba vendendo-a depois, o que não pode acontecer. Além disso, na direção do MST tem gente como João Stedile, que incentiva invasões de terra. Isso vai contra as necessidades do país. O Brasil tem uma oportunidade enorme na agropecuária, e a gente precisa de ordem.
O marco temporal para a demarcação de terras é outro assunto em evidência. Qual é sua opinião sobre ele?
É preciso ter um ano de corte para o marco temporal, e mudar a regra é injusto. As pessoas investem uma vida trabalhando na terra e não podem perder sua propriedade do dia para a noite.
Qual é a importância da segurança jurídica?
Em cinco meses, o governador trouxe R$ 120 bilhões em investimentos para o Estado. Isso aconteceu porque aqui tem segurança jurídica. Ninguém investe dinheiro em lugares onde não existe lei. Por isso, São Paulo é exemplo.
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Artur Piva, Revista Oeste