Dylan Mulvaney | Foto: Montagem Revista Oeste/Lev Radin/Shutterstock
A ideia de que um homem pode se tornar uma garota é irracional, sinistra e sexista
Vivemos num mundo em que um homem que se fantasia de atleta feminina é coberto de louros e dinheiro, enquanto uma atleta feminina de verdade é chamada de “vadia desgraçada” e leva um soco no rosto. Um mundo em que um sujeito pode receber milhares de dólares para desfilar de top esportivo em uma paródia grotesca de uma atleta, enquanto atletas femininas de verdade são atacadas por uma multidão furiosa aos gritos de “voltem para casa”. Um mundo em que um homem usando leggings fazendo um arremedo de Dick Emery sobre ser mulher é tratado como exemplo, enquanto uma jovem que treinou a vida inteira para ser uma atleta de elite é chamada de preconceituosa e “vadia transfóbica”.
Esses são os casos de Dylan Mulvaney e Riley Gaines. Mulvaney é um homem de 26 anos que opera sob a ilusão de que é uma garota. No último ano, no hospício moderno que é o TikTok, ele tem documentado sua “jornada para se tornar uma garota”, sua “transição de homem para garota”, como batizou o Daily Mail, capturando de modo brilhante a loucura pós-verdade e a imoralidade completa desse homem adulto que diz: “Sou uma garota!”.
Gaines é uma mulher — à moda antiga, que tem vagina, como diz Ricky Gervais — e exímia nadadora. Ela foi campeã universitária de natação nos Estados Unidos e está bem irritada que homens grandes e barbados, como Lia Thomas — 1,80 metro, pênis e cheio dos músculos que os machos da espécie adquirem na puberdade —, sejam autorizados a competir com uma mulher como ela. Tanto Mulvaney quanto Gaines foram parar nas manchetes nos últimos dias, e suas histórias mostram como o culto à transgeneridade se tornou tóxico e ameaçador.
Um homem faz uma imitação sarcástica de um treino “para meninas delicadas”, e os progressistas gritam animadamente: “Vamos, garota”. Uma mulher se manifesta pelos direitos das mulheres de terem seus próprios esportes, e os progressistas vociferam: “Cale a boca, vadia”
O sr. Mulvaney chegou ao noticiário por assinar um generoso contrato com a Nike Women. Ele postou um vídeo se exercitando com uma calça legging Zenvy e um top Alate, da Nike Women. Falei se exercitando. Está mais distante de Jamie Lee Curtis no filme Perfeição e mais próximo de Tim Curry em The Rocky Horror Show. Ele dá chutes altos desajeitados e faz polichinelos, o tempo todo com a boca entreaberta e a expressão de quem está com tontura. Meninas, como vocês são! Como muitas mulheres enfurecidas comentaram, não se parece em nada com uma mulher fazendo exercícios. Parece mais um ator amador fazendo teste para o espetáculo A Chorus Line. O que, na essência, Dylan Mulvaney é. No entanto, ele é coberto de louros e elogios. Empresas o estão enchendo de dinheiro. Ele é tratado como uma mulher de verdade — ou, que aflição!, uma garota —, inclusive pela Casa Branca.
Gaines chegou ao noticiário depois de ser inundada não com amor e dinheiro, mas com insultos misóginos horríveis. Ela está em uma missão de salvar os esportes femininos. E já fez declarações tocantes sobre a injustiça de forçar atletas mulheres como ela a competirem com homens. Quando Lia Thomas era o bom e velho Will Thomas, ele era um nadador universitário mediano dos Estados Unidos. Quando se tornou Lia, chegou ao topo dos rankings femininos. Mulheres que treinaram por anos para ser as melhores foram deixadas para trás nas ondas feitas por suas mãos grandes e masculinas. Gaines fez um discurso na Universidade Estadual de São Francisco na quinta-feira passada sobre as razões de por que os esportes femininos devem ser proibidos para homens, e a reação foi extraordinária. Uma multidão furiosa a cercou. Gritaram insultos. Ela foi chamada de vadia. Gaines afirma que levou dois socos. E teve de se esconder em uma sala por três horas, para escapar da caça às bruxas furiosa.
Aí está. Um homem usando trajes esportivos femininos é bajulado pelos virtuosos, enquanto uma mulher que quer proteger os esportes femininos é demonizada por eles. Um homem faz uma imitação sarcástica de um treino “para meninas delicadas”, e os progressistas gritam animadamente: “Vamos, garota”. Uma mulher se manifesta pelos direitos das mulheres de terem seus próprios esportes, e os progressistas vociferam: “Cale a boca, vadia”. A confluência dessas duas histórias é perfeita. Ela ilustra o impacto devastador que a ideologia trans teve não só nos direitos das mulheres, mas também em toda a condição de mulher. Que as elites se sintam mais confortáveis com uma performance frívola de mulher feita por um homem do que com a defesa apaixonada e racional de sua própria condição feita por uma mulher confirma que a ideologia trans fez estragos na realidade, na ciência e na igualdade sexual. Tudo o que resta nessa ideologia profundamente misógina são a casca da mulher, os acessórios, a máscara, as roupas e o batom. É por isso que, em determinados círculos, Dylan Mulvaney é uma “mulher” mais respeitada do que Riley Gaines — porque ele faz a caricatura muito melhor que ela.
Em julho de 1989, Germaine Greer escreveu um artigo para o Independent intitulado “Por que a mudança de sexo é uma mentira”. Ele sempre é usado pela geração Z como prova cabal na cruzada para transformar Greer em uma velha preconceituosa e má, mas, na verdade, o texto é brilhante, um lembrete da polemista feroz e excelente que ela foi. Greer descreve um encontro com um transexual nos Estados Unidos nos anos 1970, o rosto “coberto com uma maquiagem pesada pela qual a barba já estava aparente”. Ele vestia “roupas esvoaçantes”. E apertou a mão dela com — para aqueles que se ofendem com facilidade, fechem os olhos — sua “pata enorme, ossuda, peluda e cheia de anéis”. E na sequência aparece uma das frases mais famosas de Greer sobre a questão trans: esse homem, disse ela, era uma “paródia grosseira do meu sexo”. “Os bons modos instintivos” exigiram que eu o aceitasse como mulher, ela reclama, “ao ponto de permitir que ele fosse ao banheiro comigo”.
“Paródia grosseira do meu sexo” — essas palavras ecoam nos meus ouvidos sempre que vejo Dylan Mulvaney. E muitas outras “mulheres trans” que devemos tratar como mulheres de verdade. “Mulheres trans são mulheres”, diz o mantra. Um mantra que foi repetido com uma ferocidade medieval para a bruxa Riley Gaines. Mas hoje temos mais do que “os bons modos instintivos” exigindo que reconheçamos essas figuras com barba e dedos peludos como mulheres. Uma máquina totalmente nova de autoritarismo foi criada para nos pressionar a acreditar que mulheres trans são mulheres e punir aqueles que, como Gaines, ousarem fazer objeções. Constrangimento público, listas negras e até violência passaram a ser empregados para nos forçar a concordar com a ideia de que alguém como Dylan Mulvaney é uma garota.
A performance de Mulvaney é incrivelmente sexista. Seu diário de “transformação em garota” dá a impressão de que a feminilidade é uma interpretação. Você achava que ser mulher era algo biológico, cultural, histórico e relacional, algo que tem substância e significado reais? Tente outra vez. É uma performance de drag queen, basicamente. É sombra para os olhos e apliques de cabelo. De tutoriais de maquiagem até os vídeos sobre como esconder o saco escrotal no maiô, a imagem que Mulvaney tem de “ser mulher” é totalmente ilusória. Ser mulher é um traje, pelo jeito.
Vamos falar abertamente sobre isso: a ideia de que um homem se torna uma mulher apenas fazendo um procedimento fácil, tomando alguns comprimidos e talvez removendo seu pênis é profundamente misógina. Nas palavras de Greer, em 1989, isso promove a ideia “de que a fêmea não passa de um macho castrado”. Hoje em dia, um sujeito não precisa nem ser castrado para se tornar uma mulher. A degradação de tratar mulheres como machos castrados foi substituída por uma degradação ainda mais repugnante de tratá-las como machos enfeitados. Amigos, se vocês têm acesso a máscara de cílios, perucas e fita adesiva para esconder seu pinto, vocês também podem se tornar uma mulher. Vistam uma calça legging, façam alguns exercícios, abram a boca para parecer frágil e boba e, voilà, você é uma dama. Qualquer um consegue.
A ideologia trans tornou os direitos das mulheres insignificantes. Ela esvaziou suas verdades e os reduziu a uma mera fantasia que qualquer um pode vestir. Como Greer argumentou, a ideologia trans é totalmente contrafeminista, à medida que trata a “feminilidade” como o cerne de ser mulher. Feminilidade é um papel que você desempenha, afirma Greer, “e que isso se torne a identidade atribuída às mulheres é uma ideia profundamente prejudicial”. De fato, ela se tornou a identidade atribuída às mulheres. Mulvaney é celebrada como “mulher” exatamente porque faz a performance da feminilidade de modo tão entusiasmado, enquanto Gaines é uma mulher demonizada por ter a audácia de reagir à ideia de que ser mulher é uma performance e argumentar que, na verdade, é algo real. Biológica e culturalmente real. Que a paródia grosseira de uma mulher feita por Mulvaney goze de mais validação que a defesa sincera dos direitos das mulheres feita por Gaines revela a misoginia que foi desencadeada pelo culto trans.
O problema não é Dylan Mulvaney em si. É o fato de que a intelectualidade, a Casa Branca e as grandes empresas, como a Nike Women e a Bud Light, estão se jogando a seus pés e dizendo: “Sim, Dylan, você é uma garota”. Ao fazer isso, eles não só alimentam as ilusões do rapaz, mas também sancionam oficialmente a ideia sexista de que ser mulher não passa de um cosplay. E se as mulheres não são reais, qual é a necessidade dos direitos das mulheres? É uma curta distância em tratar a condição da mulher como uma piada até tratar as mulheres como piadas.
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