quarta-feira, 26 de abril de 2023

Daniel Lopez: Demissão de Tucker Carlson é sintoma de algo muito maior

 Líder de audiência da TV americana é a maior peça a cair em estranho jogo de dominós midiático


O apresentador americano Tucker Carlson, em 21 de abril de 2023, seu último dia à frente do Tucker Carlson Tonight, programa da rede de TV Fox News| Foto: Reprodução/YouTube


Todos ficaram surpresos com o anúncio da demissão de Tucker Carlson, apresentador do programa de maior audiência (Tucker Carlson Tonight) da Fox News, o canal de notícias mais assistido em todo os Estados Unidos. Após a revelação, as ações da rede cairiam 3,8% na bolsa.

Por que a emissora demitiria seu maior trunfo? O argumento mais unânime é que a decisão foi motivada por um acordo de quase 4 bilhões de reais com uma empresa criticada por Carlson em 2020. Entretanto, na última quinta-feira (20) outro apresentador de enorme audiência já havia anunciado sua saída da Fox, o ex-policial e agente do Serviço Secreto Dan Bongino. O estranho é que a CNN norte-americana, maior concorrente da Fox, curiosamente já havia anunciado dois dias atrás a demissão de um de seus principais âncoras, Don Lemon. Seria tudo coincidência?


Talvez não seja por acaso que governos ao redor do mundo estejam buscando retirar poder (e dinheiro) das Big Techs.


Há uma verdadeira dança das cadeiras ocorrendo no sistema midiático mundo afora. Semana passada, o BuzzFeed – que apenas dois anos atrás venceu o Pulitzer – anunciou o encerramento de sua divisão de notícias, além de cortar 15% do seu quadro de funcionários. No mesmo dia, seu concorrente, o Insider, também anunciou o desligamento de 10% de seus funcionários, numa medida desesperada para tentar atingir a lucratividade num cenário cada vez mais problemático para a mídia tradicional.

Segundo matéria recente do Wall Street Journal, o Vice World News pode ser o próximo a ser obrigado a fechar por dificuldades financeiras. Ao mesmo tempo, o CEO da NBCUniversal resolveu deixar o cargo após uma denúncia de que ele manteve um “relacionamento inadequado” com uma mulher da empresa.

Alguns defendem que o movimento é um sintoma de que o jornalismo tradicional está com os dias contados, devido ao avanço da internet e do chamado “jornalismo cidadão”, quando pessoas que não são jornalistas profissionais trabalham diretamente na produção de notícias. Curioso é lembrar que Elon Musk tem insistido na ideia de que mídia tradicional “faria de tudo para impedir o jornalismo cidadão”. Importante também é recordar a recente interação do novo barão midiático Musk com Rupert Murdoch, bilionário fundador da Fox News. Tudo muito estranho.

Talvez não seja por acaso que, curiosamente, governos ao redor do mundo estejam buscando retirar poder (e dinheiro) das Big Techs, fazendo-as remunerar as empresas tradicionais de mídia. Ou então deve ser tudo apenas mais uma coincidência…


Gazeta do Povo