sexta-feira, 28 de abril de 2023

“Boa noite, Cinderela”, por Ana Paula Henkel

 

Tucker Carlson, comentarista político conservador norte-americano | Foto: Montagem Revista Oeste/ Flickr


A mais recente voz calada contra o sistema, pelo menos por enquanto, foi a do jornalista norte-americano Tucker Carlson, demitido da TV a cabo Fox News sem qualquer aviso prévio


O“Boa noite, Cinderela” é um golpe famoso, usado principalmente na vida noturna das grandes cidades do Brasil e do mundo, por fazer com que as vítimas entrem em estado de inconsciência e, posteriormente, tenham bloqueios de memória. Não há uma substância específica usada no “Boa noite, Cinderela”, mas uma gama que vai de ansiolíticos até sedativos de uso veterinário — substâncias depressoras do sistema nervoso central que inibem a atividade mental e atuam, principalmente, no centro da memória.

O golpe é dado principalmente em mulheres com copos com bebidas alcoólicas — principal meio usado por criminosos para introduzir as drogas, já que o contexto de a pessoa bebendo disfarça o efeito do entorpecente. Nos Estados Unidos, o “Boa noite, Cinderela é conhecido por rape drugs (drogas de estupro), por deixar a vítima em absoluta vulnerabilidade, às vezes por até três dias. Há inúmeras vítimas que relatam não se lembrar de nada depois. Por esse e outros motivos, como o abuso é seguido de um “apagão”, a expressão “Boa noite, Cinderela” hoje em dia também é usada como “dar um cala-boca” em alguém, um “apagão” na pessoa para que fique em silêncio. 

Se voltarmos na história, percebemos que o que chamamos hoje de “Boa noite, Cinderela” é antigo. Recentemente, nossa resenha semanal se tornou uma trilogia sobre o comunismo e passamos por páginas aterrorizantes da ideologia brutal e que assassinou mais de 110 milhões de pessoas no mundo. E o “Boa noite, Cinderela”, claro, estava lá. Não para dopar as pessoas para que fossem abusadas, mas para abusar das pessoas de maneira cruel: executando corpos e, principalmente, executando ideias, pensamentos e opiniões.

Foto: Shutterstock

De tempos em tempos, a ideologia que impõe o silêncio de forma brutal e ameaça as liberdades toma um banho, coloca uma roupa nova, se livra do cheiro de naftalina e volta. Desde a pandemia, as artérias esvaziadas da ideologia que atravessou anos calando dissidentes foram alimentadas novamente pela sede de homens que não suportam o contraditório. O pânico, milimetricamente calculado e instalado nas sociedades, não trouxe apenas alarmes falsos e mentiras — trouxe o “Boa noite, Cinderela” para médicos, cientistas, jornalistas, cidadãos… 

Pais e mães que estavam preocupadas com vacinas que foram feitas a toque de caixa e sem o devido processo científico; lockdowns eternos que tiraram crianças e adolescentes das escolas por mais de um ano e que trouxeram ansiedade e depressão infanto-juvenil; índices de desemprego, pobreza, depressão e suicídios que por poucas vezes estiveram tão altos na história da humanidade. Idosos morreram sozinhos sem poder receber visitas de seus familiares. 

A humanidade perdeu a razão e a verdadeira compaixão. Não foi possível questionar, argumentar, discutir. Por um “bem maior”, por uma absoluta falsa humanidade, o silêncio foi imposto como em ditaduras, e pouquíssimos puderam falar. O “Boa noite, Cinderela” foi global.

Hoje, a grande constatação da pandemia é que ela foi apenas um tubo de ensaio. A oportunidade perfeita para calar dissidentes e inimigos do sistema, assim como fizeram as mãos que comandaram e ainda comandam regimes totalitários.

Outra voz contra o sistema é calada

E a mais recente voz calada contra o sistema, pelo menos por enquanto, foi a do jornalista norte-americano Tucker Carlson, demitido da TV a cabo Fox News na segunda-feira sem nenhum aviso prévio. Até o fechamento desta edição de Oeste, nenhuma razão oficial foi apresentada ao público, apenas um comunicado de que Carlson estava desligado da empresa, o que foi um choque para seu público e para o próprio apresentador, já que, na última sexta-feira, ele se despediu de seu programa diário desejando “um bom fim de semana a todos, nos vemos na segunda-feira”.

Carlson é um campeão de audiência. Não apenas do canal supostamente mais alinhado com os conservadores e os liberais nos EUA, mas de todos os canais a cabo na América. De segunda a sexta-feira, ele era visto por mais de 5 milhões de espectadores ao vivo por dia. As visualizações de seu show diário na Fox News, o Tucker Carlson Tonight, atingia marcas como 15 milhões de visualizações em 24 horas. Mas Tucker não é apenas um aparato de audiência, ele é uma verdadeira máquina de colocar o dedo nas feridas da esquerda radical norte-americana e global, abrindo debates incômodos para os arautos do cinismo e expondo a hipocrisia do sistema e hoje do globalismo.

Tucker Carlson | Foto: Wikimedia Commons

Em 2022, Carlson passou uma semana no Brasil, para mostrar “o que os chineses estão fazendo com a América Latina”. No documentário para a série Tucker Carlson Originals, exibido no subcanal da Fox, Fox Nation, o apresentador entrevistou o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e mostrou como, pouco a pouco, o Brasil vai sendo “colonizado” pelas garras dos comunistas chineses que, silenciosamente, estão dominando países ao redor do mundo e substituindo a América como potência dominante no Hemisfério Ocidental. Ponto para Carlson. Os norte-americanos agora podem entender a verdadeira genética do atual desgoverno.

Um mistério solucionado

Recentemente, Tucker desvendou um grande mistério para os norte-americanos sobre o fatídico 6 de janeiro de 2021, a “invasão do Capitólio”. Durante dois anos, tudo que envolveu o episódio foi trancado a sete chaves pelos democratas, que tinham a maioria na Câmara e no Senado, além de Joe Biden na Casa Branca. Durante dois tenebrosos e longos anos, os norte-americanos não puderam ter acesso às imagens de segurança interna e ao redor dos prédios públicos na tal invasão. 

A narrativa, que era um mantra diário no consórcio ianque, pregava que os eleitores republicanos eram verdadeiros “terroristas” que, comandados por Donald Trump, que teria “incitado o ataque”, queriam “um golpe de Estado”.  Talvez um dos mais chocantes “Boa noite, Cinderela” tenha acontecido exatamente logo após o 6 de janeiro de 2021, quando, em uma clara ação ativista e de perseguição política, o Facebook, o Instagram e o antigo Twitter decidiram banir Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos da América, de suas plataformas, por “incitação à violência e discurso de ódio”. Parece familiar?

Multidão ocupa a escadaria do Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2022 | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Logo depois que os republicanos retomaram o controle da Câmara nas eleições de midterms, em novembro de 2022, Tucker e sua equipe conseguiram acesso a mais de 40 mil horas de vídeos de muitas câmeras. Em um especial que durou três dias em seu programa, o jornalista mostrou que as imagens — o que os nossos olhos estavam vendo — não era exatamente o que foi empurrado pelos democratas e pela imprensa partidária e corrupta alinhada com o partido de Joe Biden. As imagens inéditas mostravam trechos com momentos pacíficos do protesto e manifestantes caminhando pelo interior do Capitólio, tirando fotos e sendo guiados por policiais que abriam portas — nada parecido com os vídeos até então divulgados pela maioria da imprensa que exibia edições com depredação e violência. 

As reais filmagens não mostram insurreição nem motim, mas pessoas sendo escoltadas pacificamente pelo prédio, como o “Xamã do Qanon”, um veterano da Marinha norte-americana que se vestiu com peles e chifres para ir protestar contra a falta de transparência nas eleições. Sem um julgamento adequado com ampla defesa, Jacon Chansley foi condenado a 41 meses de prisão em tempo recorde. No especial, Tucker também questiona por que algumas pessoas que aparecem nas imagens, claramente incitando uma invasão ao prédio do Capitólio, não foram sequer indiciadas pela Justiça norte-americana. 

Tucker incomoda muitos cutucando a verdade o tempo todo. Sabemos que para isso existe a clássica receita do assassinato de reputação

No mesmo dia em que Tucker divulgou as imagens do 6 de janeiro ao público, o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, deu uma coletiva para a imprensa para atacar o jornalista, dizendo que o que Carlson estava fazendo era uma “tentativa perigosa e imperdoável de reescrever a história do pior ataque à nossa Constituição desde a Guerra Civil e um dos piores riscos de segurança desde o 11 de setembro”. Mas foi além: pediu ao dono da Fox News, Rupert Murdoch, que silenciasse Tucker e o proibisse de continuar exibindo as imagens do 6 de janeiro ao público. Sim, em 2023, testemunhamos um proeminente político da nação mais livre do mundo pedir, ao vivo na TV, para que um jornalista fosse censurado.

Chuck Summer | Foto: Wikimedia Commons

Tucker Carlson também questionou as eleições norte-americanas que foram, no mínimo, suspeitas pelas respostas que nunca vieram a questionamentos de milhões de norte-americanos. Máquinas de votação que não funcionavam, pessoas que já “haviam votado” sem ter votado, democratas expulsando republicanos dos locais de apurações, supostas malas de cédulas, oficiais eleitorais que disseram sob juramento que máquinas foram acessadas remotamente e mais uma lista de situações que até hoje não obteveram respostas. Há duas semanas, a empresa Dominion, que fabrica máquinas de votação usadas em alguns Estados norte-americanos, fez um acordo em um processo de difamação contra a Fox News em US$ 700 milhões. Não se sabe se a cabeça de Tucker foi colocada nesse acordo, até por que ele não foi o único a criticar a complicada conduta das eleições em alguns Estados democratas.

“Desinformação e discurso de ódio”

É preocupante quando a nação mais livre e próspera do mundo pede a censura de pessoas e o banimento de suas ideias, erradas ou certas. Sob o manto da “desinformação e do discurso de ódio”, plataformas, políticos e até jornalistas flertam com o inaceitável caminho da censura. Não se combate desinformação com silêncio. Mentiras são combatidas com mais informação, com mais verdades. O mundo pós-pandemia tomou um caminho assustador de regulação. No Brasil, agora vamos enfrentar na semana que vem, em uma votação de urgência, essa aberração chamada de PL 2630. O projeto de lei visa, entre outros tentáculos contra a liberdade de expressão, a institucionalizar a censura no Brasil — simples assim. Discussões são fundamentais para ajudar mais pessoas a entenderem a dinâmica humana que leva à miséria em massa, à solidão e às políticas totalmente distópicas que vemos ao nosso redor hoje. É preciso um campo vasto de ideias, até as erradas, para que mais pessoas entendam que agendas destrutivas dependem também do impulso humano de autocensura.

Foto: Shutterstock

O PL 2630 — ou o PL Stalinista, como queiram — é um grande passo para declarar que estamos completamente de acordo com os esforços do monopólio da mídia para criar a ilusão de unanimidade de pensamento. Tais ilusões visam a provocar o impulso de conformidade, fazendo-nos sentir sozinhos em nossos pontos de vista e, portanto, menos propensos a expressá-los. E é exatamente quando nos calamos ou mentimos sobre o que acreditamos na esperança de “encaixar” que damos oxigênio abundante a agendas tirânicas.

Tucker Carlson Tonight era o meu programa diário favorito, pela simples razão de que, mesmo não estando correto, mesmo não concordando sempre com Tucker, sua postura de jornalista que pensa por si mesmo é um oásis para os nossos tempos de aridez jornalística. E eu acredito que seja essa a razão pela qual ele foi dispensado. Vozes como a de Carlson fazem as brigadas “antipensamento” na política e no mundo corporativo baterem cabeça. Se eles agora sentem que ganharam um grande prêmio com a saída de Carlson da Fox, eles também se sentem mais livres para semear ainda mais o cenário norte-americano com mais insanidade, ódio e mediocridade — exatamente o que o famigerado PL 2630 falsamente defende combater.

Tucker Carlson Tonight | Foto: Divulgação

No dia 21 de abril, poucos dias antes de sua demissão, Tucker Carlson participou de um evento na Fundação Heritage, e seu discurso, ironicamente, viralizou nas redes sociais, por demonstrar de maneira clara o caminho despótico que o mundo vem tomando. Tucker disse: “Eu diria duas coisas que acho que estamos pensando. A primeira é, você olha ao redor e vê tantas pessoas se enfraquecendo sob a tensão, sob a pressão descendente de tudo o que estamos passando. E você olha com desdém e tristeza quando vê as pessoas que você conhece se tornarem traidoras, você as vê reveladas como covardes, você as vê seguindo uma coisa nova, que é claramente uma coisa venenosa, uma coisa boba, dizendo coisas que elas não acreditam porque elas querem manter seus empregos”.

Instinto de rebanho

O jornalista segue mostrando a agenda ridícula da extrema esquerda: “E você está tão desapontado com as pessoas. Você percebe que o instinto de rebanho é talvez o instinto mais forte. Quero dizer que ele pode ser mais forte que a fome e os instintos sexuais, na verdade. O instinto que, novamente, é inerente de ser como todo mundo e não ser expulso do grupo, não ser evitado, não ser cancelado. Esse é um impulso muito forte em todos nós desde o nascimento. E, infelizmente, ele assume o controle em momentos como este e é aproveitado, de fato, por pessoas más em momentos como este para produzir uniformidade. E você vê as pessoas concordando com isso e perde o respeito por elas. Você está colocando seus pronomes em seu e-mail! Você é ridículo. Pronomes em e-mails… Afinal, o que isso quer dizer? Você está dizendo coisas que não pode definir. LBGTQIA+, quem é o ‘mais’? O ‘mais’ é convidado para o meu show a qualquer hora. Encontre um ‘mais’ e eu vou entrevistá-lo. Como é ser um ‘mais’? Eu sou um ‘mais’? Estou falando sério. Sinto que sou uma adição. Isso faz de mim um ‘mais’? Ninguém nem sabe o que é. E toda a sociedade entoa ‘LBGTQIA+’. E, se você questionar, “Ah, cale a boca, racista!”.

Todo o discurso de Tucker Carlson neste evento traz pertinentes reflexões, mas é no final, mostrando até para nós brasileiros a real finalidade do PL 2630 e do caminho que estamos trilhando como nação, que Tucker fecha com esperança e um importante alerta: “Há um contrapeso para a maldade. Chama-se bondade. E você vê isso nas pessoas. (…) E uma vez que você diz uma coisa verdadeira e se apega a ela, todos os tipos de outras coisas verdadeiras lhe ocorrem. A verdade é contagiosa. Mentir é contagioso, mas a verdade também é. E, no segundo em que você decide contar a verdade sobre algo, você é preenchido com isso, não quero ser sobrenatural, mas você é preenchido com esse poder de outro lugar. Tente. Diga a verdade sobre algo. Você sente isso todos os dias. Quanto mais você diz a verdade, mais forte você se torna. Isso é completamente real. É mensurável na maneira como você se sente. E, claro, o oposto também é verdadeiro. Quanto mais você mente, mais fraco e apavorado você fica. Todos nós conhecemos esse sentimento. Você mente sobre algo e, de repente, você é um prisioneiro dessa mentira. Você é diminuído por isso. Você é fraco e tem medo.”

Ilustração: Shutterstock

Não se sabe se há outros motivos no “Boa noite, Cinderela” de Tucker dito pela fox News. Não duvido que palavras como “racista, homofobico, misógino” aparecem em seguida. Tucker incomoda muitos cutucando a verdade o tempo todo. Sabemos que para isso existe a clássica receita do assassinato de reputação. 

Ontem, Tucker quebrou o silêncio desde o seu desligamento da Fox News e, mais uma vez, mostrou por que é tão respeitado: “Uma das primeiras coisas que você percebe quando sai do barulho por alguns dias é quantas pessoas genuinamente legais existem neste país. Pessoas gentis e decentes. Pessoas que realmente se importam com o que é verdade. A outra coisa que você percebe quando tira uma folga é como a maioria dos debates que você vê na televisão são incrivelmente estúpidos. Eles são completamente irrelevantes, não significam nada. Os tópicos inegavelmente grandes, aqueles que definirão nosso futuro, praticamente não são discutidos. Guerra, liberdades civis, ciência emergente, mudança demográfica, poder corporativo, recursos naturais. Quando foi a última vez que você ouviu um debate legítimo sobre qualquer uma dessas questões?”.

Enquanto Carlson mostra em sua breve mensagem como tais circunstâncias fazem os Estados Unidos parecerem um “Estado de partido único” — exatamente o que o PL 2630 mira no Brasil —, ele expressa otimismo de que o poder da mídia tradicional apodrecida e de políticos em sufocar o debate não é permanente: “Nossas ortodoxias atuais não vão durar. Eles estão com morte cerebral. Ninguém realmente acredita neles. Dificilmente a vida de alguém melhora com eles”, disse.

Suas frases finais parecem ter sido ditas para o óbvio caminho escolhido por Arthur Lira e os asseclas do atual desgoverno em pautar sob caráter de urgência o PL 2630 stalinista da censura: “Este momento é muito inerentemente ridículo para continuar, e por isso não vai continuar. Os responsáveis sabem disso, por isso estão histéricos e agressivos. Eles estão com medo. Eles desistiram da persuasão e estão lançando mão da força. Mas não vai funcionar. Quando pessoas honestas dizem a verdade com calma e sem constrangimento, elas se tornam poderosas”.

Arthur Lira | Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O PL da Censura é de autoria de um comunista, Orlando Silva. O comunismo promete igualdade, mas oferece escassez para todos, exceto para as elites em seu aparato. Ele lança a justiça social e oferece escravização em massa, miséria generalizada, desconfiança social e punição severa para todos os que discordam do sistema. Vimos esses fenômenos acontecerem em todo o mundo, na China, na Coreia do Norte, no Sudeste Asiático, na Europa Oriental pós-Segunda Guerra Mundial, Cuba, América Central e até perto de nós, com nossos irmãos na Venezuela.

 Vamos cobrar todos os deputados que ainda não declararam seu voto contra a censura no Brasil. Como muito bem disse uma certa política do Supremo Tribunal Federal, “cala boca já morreu”.

Que o “Boa noite, Cinderela” não seja institucionalizado no Brasil.

Revista Oeste