Inapropriado. Abusivo. Inconveniente. Desrespeitoso. Todos esses adjetivos podem ser atribuídos ao deputado comunista que se aproximou indevidamente da deputada Julia Zanatta para lhe dar um “pito” ao pé da orelha. Foi um gesto de intimidação, como tantos outros gestos de intimidação que se fazem cotidianamente no plenário da Câmara e entre políticos. Mas um gesto de intimidação não é um crime. Sobretudo: ao ver o vídeo da cena, o gesto de intimidação não pode ser considerado um assédio sexual. O deputado foi invasivo. Mas não se tratou ali de um ato libidinoso. Não se trata de um tarado. Se todas as intimidações na Câmara forem tratadas como crime, não sobrará ninguém. Aliás, provavelmente sobrará só a esquerda. Explico:
Um dos pilares da Justiça é o senso de proporção. Uma inconveniência não é um crime. Um chato não é um criminoso. Jair Bolsonaro, por sua postura por vezes incisiva e truculenta, foi repetidamente acusado de crimes por palavras e piadas. Chegou a ser chamado de monstro e processado por dizer que uma jornalista “deu o furo“, num trocadilho. Chegou a ser chamado de “assassino insensível“ por ter dito que não era coveiro de mortos da Covid e chamado de assassino por dizer que a liberdade de trabalho e de ir e vir eram sacrossantas e continham sempre um elemento de risco calculado.
O politicamente correto age assim: uma palavra, uma ideia, opinião, um gesto mal dimensionados ou mesmo deturpado viram crimes. A esquerda é perita em fazer isso, em demonizar seus inimigos por opiniões e palavras e transformá-los em criminosos a serem linchados em praça pública. Faz pior: quando verdadeiros criminosos são pegos em flagrante, passa um quilômetro de pano. Lula, um criminoso condenado, vira “vítima da Justiça“; André Janones, um mitômano e caluniador contumaz, jamais é colocado no famigerado inquérito das fake news. Mas Bolsonaro é assassino por falar em liberdade e abusador por fazer piada com o furo da jornalista. O sempre reiterados dois pesos, duas medidas.
Viu-se, por exemplo, nesta semana, um caso de assédio claro, explícito: o Dalai Lama, maior autoridade espiritual do budismo, beija na boca de um menino e lhe diz para chupar sua língua. Nada lhe acontece. Nada lhe acontecerá. Por que? Porque é um homem envolto no mito de guru espiritual, homem da paz, que já se declarou “meio budista, meio marxista“, um bálsamo para os ouvidos da grande mídia mundial. Alguém vai dizer que mostrar língua é da cultura tibetana ou alguma desculpa do tipo. Ninguém dirá que o monge é um homem cosmopolita, culto e viajado que sabe muito bem que beijar na boca de uma criança e pedir que lhe chupe a língua não é brincadeira que se faça no Tibet ou em lugar algum do mundo.
Uns anos atrás, uma série de imagens do presidente Joe Biden acariciando crianças e mulheres constrangidas foram jogadas no ar e imediatamente abafadas pela intelligentsia mundial. Já o ex-presidente Donald Trump está hoje quase preso por ter tudo relações sexuais consensuais e lícitas que quis apagar de seu passado. Dois pesos, duas medidas. Sempre. Não é o crime, não é a criação do crime. É quem o movimento progressista quer incriminar.
Exatamente por isso, é um tiro de canhão no pé a direita brasileira criar um assédio sexual onde não houve. O deputado foi inconveniente? Foi. Assediador? Não. Proporção justa na acusação. O conceito de assédio é tornado turvo pela esquerda “progressista” exatamente para poder absolver ou Incriminar quem ela bem entender. No Me too, movimento de caça às bruxas de Hollywood que conseguiu de fato identificar assediadores e estupradores em série como Harvey Weinsten, o conceito se estendeu: de repente, um Dustin Hoffman passava a ser acusado de assédio por ter tocado no joelho de uma moça em 1981; de repente, um sujeito que convidava três vezes uma moça pra sair é acusado de assediador; de repente, um sujeito que fala ao ouvido de uma mulher num lugar barulhento vira abusador.. Daí os tarados do “progressismo” fazem a festa: tudo é abuso, tudo é assédio: um olhar, um gesto, um convite.
Exatamente por isso, é um erro estratégico político e moral da direita ou de quem seja acusar um crime onde não há. Tanto mais no contexto de uma guerra cultural. Se você usa o discurso imoral “progressista” que criminaliza, está se igualando ao discurso que diz combater. Pior: esse discurso se voltará contra você: se falar alto, se aproximar ou contestar uma mulher que seja, fatalmente será o criminoso da vez dentro do discurso amoral que diz que tudo e qualquer coisa é crime, a depender de sua orientação ideológica.
Com Adrilles Jorge - Revista Oeste