sexta-feira, 25 de novembro de 2022

'Donald Trump e os imbecis do celinho azul', por Brendan O'Neill, da Spiked

 

Donald Trump, no Twitter | Foto: Shutterstock


O fato de Elon Musk ter derrubado a censura woke é maravilhoso


Elon Musk chegou lá. Ele trouxe Donald Trump de volta. Depois de fazer uma pesquisa no Twitter sobre o fim da expulsão do ex-presidente — de longe a coisa mais transparente que a empresa já fez —, Musk e seus minions apertaram alguns botões, e The Donald voltou ao mundo on-line.

Se Trump vai voltar a tuitar ou não é outra história (ele diz que não). Mesmo assim, o fato de Musk ter restituído a conta de Trump é um golpe contra a intromissão tirânica dos covardes censores do Vale do Silício, que bizarramente passaram a exercer um poder tão extraordinário sobre o que podemos pensar e dizer no século 21.

Os suspeitos de sempre estão ansiosos, claro. Houve uma enorme recaída na Síndrome da Loucura Anti Trumpista. A volta do ex-presidente vai “mergulhar o Twitter num caos ainda maior”, afirma a CNN. O guitarrista Jack White fez uma fuga melodramática desse cenário infernal. “Totalmente repugnante, Elon”, choramingou o roqueiro, que, estranhamente, tem medo das palavras de outras pessoas.

O prefeito de Londres, Sadiq Khan, o Torquemada em miniatura, publicou uma declaração dizendo que Trump “não pode receber autorização para usar as redes sociais”. Amigo, quem você pensa que é? Prefeito do mundo? “A liberdade de expressão é vital”, afirmou, Khan, “mas” — sempre existe um “mas” enorme e desagradável — “ela precisa ser equilibrada com a segurança e a proteção da nossa democracia e da nossa sociedade”. Realmente precisamos lembrar as pessoas, em 2022, das palavras de Benjamin Franklin, sobre aqueles que abrem mão da liberdade em nome da segurança não merecerem nenhuma das duas? Khan também teria banido Franklin. Apareceu um extremista da liberdade de expressão? Expulsa!

Contra todas essas exigências insanas de manter Trump afastado — eternamente, pode-se presumir —, precisamos lembrar a todos o quanto a proibição imposta pelo Vale do Silício é antidemocrática e absolutamente arrogante para começo de conversa. Foi o ato mais sinistro de censura de rede social até hoje. O que significa muita coisa.

O fato aconteceu na sequência do protesto de “6 de janeiro” no Capitólio. Os presunçosos senhores do Twitter, que nunca receberam nenhum voto de um cidadão norte-americano, decretaram que os tuítes de Donald Trump sobre não participar da posse de Joe Biden e sobre seus seguidores não poderem ser desrespeitados eram incitações veladas e ardilosas à violência. Com base nesse argumento fraco e risível, eles expulsaram da vida pública o então presidente que de fato havia sido eleito. Por 63 milhões de norte-americanos.

Multidão ocupa a escadaria do Capitólio, no dia 6 de Janeiro de 2021 | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Foi uma interferência corporativa intolerável à democracia. O fato mais chocante sobre janeiro de 2021 não foram os tuítes idiotas de Trump, mas a comemoração de esquerdistas e liberais enquanto bilionários sem compromisso público baniam um homem que havia sido eleito pelo povo para governar. Empoderar a oligarquia capitalista para ditar o que podemos dizer on-line só para castigar o Malvado Homem Laranja? É uma das coisas mais imbecis que a esquerda ostensiva fez em décadas.

Sim, os gritos incessantes de Trump sobre a eleição ter sido roubada foram antidemocráticos. Mas censurá-lo por dizer essas coisas, uma censura feita por uma nova elite sacerdotal que está longe do alcance dos míseros mortais do eleitorado, foi uma erosão muito mais grave dos princípios democráticos. Foi um ataque ao direito mais fundamental em uma democracia: o direito das pessoas de ver, ouvir e julgar as ideias de seus líderes políticos.

Se o Twitter agora é um lugar em que Trump é livre para se manifestar e outros estão livres para fantasiar com um mundo em que Trump não está mais vivo, isso não é bom?

Por reverter essa revolta das elites virtuais contra as liberdades das massas, Elon Musk deve ser parabenizado. E ele não trouxe apenas Trump de volta. Musk também trouxe de volta uma detratora do ex-presidente: Kathy Griffin, a comediante que foi banida por fazer uma sessão de fotos em estilo ISIS, em que ela segurava uma cabeça ensanguentada de Trump, o maligno. Se o Twitter agora é um lugar em que Trump é livre para se manifestar e outros estão livres para fantasiar com um mundo em que Trump não está mais vivo, isso não é bom? Equilibrado e liberal.

Musk também devolveu a conta de Jordan Peterson, cujo crime verbal foi dizer “os seios dela”, em referência à época em que a atriz Elliot Page fez uma mastectomia. A sátira Babylon Bee está de volta, perdoada pela blasfêmia de entregar seu prêmio de “Homem do Ano” para Rachel Levine, a secretária trans de Joe Biden. Até Kanye West voltou. “Don’t kill what ye hate / Save what ye love” (Não mate o que você odeia / Salve o que você ama), Musk aconselhou.

Ator transexual Elliot Page, depois de passar por uma mastectomia | Foto: Reprodução/Redes Sociais

E Meghan Murphy voltou. A feminista canadense e colaboradora da Spiked tinha sido banida por usar “ele” em referência a Jessica Yaniv, a ativista trans que tentou fazer com que esteticistas imigrantes depilassem seus testículos com cera e registrou uma queixa de discriminação quando as mulheres se recusaram a fazê-lo. O Tribunal de Direitos Humanos de British Columbia recusou a queixa de Yaniv e alegou motivações racistas. Ela foi movida por um desejo de “punir mulheres racializadas e imigrantes”, afirmou o tribunal. No entanto, ao chamar esse homem terrível de homem, Murphy foi suspensa permanentemente, enquanto Yaniv continuou tuitando e ostentando seu pênis.

O caso de Murphy é um exemplo perfeito da pobreza moral da censura nas redes sociais. Se você acha que o ultraje é Musk devolver a conta de pessoas como Murphy, e não o fato de Murphy ter sido banida por “desrespeitar” um cretino preconceituoso que tentou fazer mulheres pobres de outras raças tocarem seus testículos, não tenho como ajudar. Se você acha que intolerante aqui é a feminista que entende a biologia, e não o homem que tentou destruir o pequeno negócio de mulheres trabalhadoras porque elas se recusaram a chegar perto de seu pênis, sua bússola moral infelizmente não tem conserto.

E é exatamente nisso que a polícia das ideias do Twitter acredita. Essa é a ideologia problemática que ela defende. Esses são os preconceitos absurdos que foram introjetados. A praça da aldeia do século 21 é monitorada por zelosos guardiões morais tão corrompidos pelo credo woke que acreditam ser legítimo punir mulheres por chamarem homens de homens. O quão louco é isso? A ideia de que foi Elon Musk que mergulhou o Twitter no caos é surreal. O Twitter já era um caos — o caos de uma espiral kafkiana com atos de censura cada vez mais flagrantes — e agora Musk parece decidido a restaurar algum grau de normalidade.

Nas últimas semanas vimos como os cretinos da verificação azul no Twitter são implacáveis. Não apenas recordamos que eles defenderam a censura antidemocrática de políticos e a censura misógina de mulheres. Também ficamos sabendo que eles tinham total ciência do quanto essa censura seria devastadora para essas pessoas.

“Estamos apenas ajudando o Twitter a aplicar as normas da comunidade”, disseram os linchadores do passarinho azul. “Não estamos censurando ninguém, as pessoas podem ir a outro lugar”, ela emendou. Estavam mentindo. E agora sabemos que estavam mentindo. Na última quinzena a imprensa liberal ficou cheia de artigos escritos por tuiteiros verificados preocupados com o que fazer com o possível colapso do Twitter. A rede é “um lugar fundamental de conexão”, declarou a deputada Alexandria Ocasio-Cortez. O Twitter tem sido um “acelerador de carreiras”, afirmou um jornalista. Outra figura disse que o “poder do Twitter” lhe trouxe influência, porque “a informação de fato é uma força poderosa”. Uma jornalista retorceu as mãos nervosamente diante da proposta (de curta duração) feita por Musk de permitir que as pessoas comprassem uma conta verificada com base no antigo sistema no qual a “verificação” conferia um “status de elite” para certas figuras, o que impulsionava seu capital cultural. “Sem o Twitter, para onde elas vão?”, pergunta a jornalista.

Então todo mundo sabia. Os donos do selo azul sabiam que Murphy e outras feministas que criticam a identidade de gênero sofreriam ao ser banidas da plataforma. Eles sabiam que os censurados teriam dificuldade de se conectar e se comunicar. E sabiam que a expulsão do Twitter realmente era uma punição grave no século 21. Eles sabiam que estavam envolvidos na construção de uma nova hierarquia moral, em que os abençoados com o “status de elite” do selo azul seriam livres para se expressar, enquanto os condenados por discriminação e expulsos da sociedade virtual teriam dificuldade em ser ouvidos e talvez não conseguissem nem trabalhar. Eles sabiam que era uma caça às bruxas. E vocês querem que eu fique bravo com Elon Musk? De jeito nenhum.

twitter

Elon Musk | Foto: Reprodução/Flickr

Brendan O’Neill é reporter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da SpikedThe Brendan O’Neill Show.
Ele está no Instagram: @burntoakboy

Revista Oeste