O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, divulga a entrega de máquinas em Macapá| Foto: Reprodução/Facebook
As viagens do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pelo Brasil e mundo afora custaram R$ 3,7 milhões nos dois anos no cargo. Metade dos 90 voos foi para Macapá, seu principal reduto eleitoral. Só com jatinhos oficiais foram torrados R$ 2,4 milhões. Houve ainda gastos de R$ 1,3 milhão com diárias e passagens para seguranças e assessores. Ele fez 16 voos de ida e volta para a capital do Amapá durante a campanha do seu irmão, Josiel, para prefeito – uma despesa de R$ 606 mil para o contribuinte.
As viagens para ajudar na campanha foram e 9 de outubro a 21 de dezembro. Nesse período, foram gastos R$ 161 mil com 42 diárias e R$ 40 mil com 34 passagens aéreas para seguranças e assessores. As 42 horas de voo entre Brasília e Macapá custaram R$ 404 mil, considerando o custo da hora/voo. Só a comitiva de oito servidores do Senado em missão oficial de 6 a 17 de novembro resultou numa despesa de R$ 40 mil com 56 diárias e R$ 15 mil com 11 passagens aéreas. Geralmente, assessores e seguranças viajam antes para preparar os eventos do senador. No mesmo período do ano em 2019, Alcolumbre fez apenas cinco voos para Macapá.
Neste ano, dos 36 voos, 30 foram para de ida ou volta para Macapá. O custo dos jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) chegou a R$ 1 milhão. Mais R$ 507 mil foram gastos com diárias e passagens. Os servidores do Senado que acompanharam o presidente receberam um total de 528 diárias durante o ano. Ele também esteve em Salvador, São Paulo e Manaus. As viagens foram suspensas em abril e maio, quando surgiu a epidemia da Covid-19, e muito reduzidas em junho e julho. Depois, foram retomando o ritmo normal.
"É emenda do Davi", avisa o senador
Quando pode viajar neste ano, Alcolumbre participou de cerimônias de entrega de equipamentos, visitou obras em andamento e participou de festividades no estado. Em 21 de março, entregou 22 veículos para a Guarda Municipal. Em 5 de junho, em cerimônia com alguma aglomeração de pessoas, entregou máquinas pesadas para saneamento e limpeza destinadas a 14 municípios do estado. Em 31 de julho, entregou frota de máquinas para limpeza urbana, obras e agricultura do Amapá. “É emenda do Davi”, postou nas suas redes sociais.
Em 10 de agosto, mostrou obras de drenagem, pavimentação, calçamento, meio-fio e sinalização. No final de agosto tratou de carimbar o seu nome em obra na Rodovia JK: “Com emenda individual de minha autoria, no valor de R$ 6 milhões, será possível realizar toda a recuperação asfáltica e a ciclovia”.
Segundo levantamento feito por Gustavo Ribeiro, em reportagem especial para a Gazeta, Macapá recebeu R$ 334 milhões em verbas federais em 2019. Alcolumbre imaginou que as suas obras ajudariam a eleger o irmão de Josiel (DEM), novato em eleições. Ele até venceu o primeiro turno, mas foi derrotado no segundo pelo candidato Dr. Furlan (Cidadania).
As fabulosas diárias das viagens internacionais
Em 2019, Alcolumbre fez 54 voos em jatinhos da FAB, sendo 18 para Macapá. As despesas com as aeronaves chegaram a R$ 1,4 milhão. As despesas com diárias e passagens somaram R$ 840 mil. O destaque foram as cinco viagens internacionais, que custaram R$ 607 mil com jatinhos, diárias e passagens. O presidente esteve em Nova Iorque, Orlando, Madri e Roma.
Na viagem para Nova Iorque, o senador participou da entrega do Prêmio Pessoa do Ano e de jantar com presidente Jair Bolsonaro, oferecido por empresários americanos. Ele e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foram e voltaram nos mesmos dias, 12 e 16 de maio, mas cada um utilizou o seu jatinho, pago com dinheiro público, é claro. Não foi possível acomodar tantos assessores. Os cinco assessores do Senado receberam 34 diárias no total de R$ 48 mil. Três deles receberam R$ 13,3 mil pela “missão” de oito dias.
Outra viagem bastante farta foi para Roma, onde Alcolumbre integrou a comitiva presidencial à cerimônia de canonização de Irmã Dulce, no Vaticano. Ele viajou no avião do vice-presidente da Repúiblica, Hamilton Mourão. Não houve despesas com jatinho, mas as 33 diárias de cinco assessores custaram R$ 56 mil.
Alcolumbre usou jatinho oficial para prestigiar a Convenção de 40 anos da Associação Brasileira de Distribuidores Honda, em Orlando, na Flórida, no final de novembro. O presidente do Senado foi acompanhado pelos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Kátia Abreu (PDT-TO). As 17 diárias para quatro servidores custaram R$ 40 mil. Em seguira, seguiu para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 25), em Madri, na Espanha de 6 a 9 de dezembro. Mais 20 diárias no valor de R$ 33 mil.
Com a diária a R$ 1,7 mil, alguns servidores tiveram um bom reforço na remuneração. A secretária especial de Comunicação, Giulia Carrera, foi contemplada com 88 diárias num total R$ 109 mil. A chefe do Cerimonial, Ana Tereza Meirelles, recebeu 58 diárias no valor de R$ 82 mil. Quatro policiais legislativos juntaram R$ 60 mil.
Nas viagens para o Amapá, o festival de visitas a obras em 2019 foi maior do que neste ano. Mesmo no recesso parlamentar, uma viagem custou R$ 78 mil em diárias para servidores. Seis assessores e policiais legislativos ficaram de 13 a 17 dias no Amapá. Eles gastaram mais R$ 7,5 mil em passagens aéreas.
O blog questionou como o presidente justifica os elevados gastos com viagens num período de déficit fiscal do governo federal e, em 2020, durante a epidemia da Covid-19. Também citou as viagens no período em que ele tentava eleger o irmão Josiel na disputa pela Prefeitura de Macapá. Não houve resposta até a publicação da reportagem.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/viagens-de-alcolumbre-custaram-r-37-milhoes-teve-ate-campanha-eleitoral.
Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros "A Ética da Malandragem - no submundo do Congresso" e "Sanguessugas do Brasil"
Gazeta do Povo