sábado, 16 de janeiro de 2021

Uma tragédia criminosa em Manaus

 

Hospital 28 de Agosto, em Manaus: oxigênio em falta levou pacientes a óbito e governo estadual já iniciou transferência para outros estados.| Foto: Michael Dantas/AFP


São dois colapsos em menos de um ano. Em abril de 2020, Manaus foi o primeiro retrato daquilo que a pandemia de coronavírus ameaçava causar nos sistemas de saúde do Brasil, com a superlotação dos hospitais da capital do Amazonas. Desta vez, o saldo é ainda mais triste: a demanda por oxigênio, causada pelos quadros mais graves de Covid-19, ultrapassou em muito a capacidade dos hospitais, e o resultado é aterrador: pacientes morrendo asfixiados, apesar dos esforços heroicos das equipes de médicos e enfermeiros.


Como resposta à emergência, o governo federal e alguns governos estaduais já providenciaram o envio de cilindros de oxigênio – uma operação bastante complicada devido à volatilidade e inflamabilidade do oxigênio, exigindo uma aeronave que apenas a Força Aérea Brasileira tem. Além disso, a empresa White Martins, que opera no Brasil e na Venezuela, deslocou parte do seu estoque de oxigênio no país vizinho para o Amazonas, em ação que foi imediatamente capturada pela ditadura bolivariana com fins midiáticos, como se fosse Nicolás Maduro, e não a iniciativa privada, a enviar ajuda aos brasileiros. Por fim, pacientes de hospitais manauaras estão sendo transferidos para outros estados.


A urgência é, sem dúvida, normalizar o abastecimento de oxigênio para evitar que mais pessoas morram clamando em agonia por algo tão corriqueiro quanto o ar. Mas não é menos importante encontrar os culpados por essa negligência criminosa


Depois do primeiro surto, logo no início da pandemia, chegou-se a acreditar que Manaus tivera pessoas contaminadas em número suficiente para se atingir a chamada “imunidade coletiva”, sensação que fora reforçada pela queda no número de casos, mas que médicos locais consideravam otimista demais. Agora sabe-se que essa estimativa era, de fato, exagerada. Além disso, dois fatores que contribuíram para o novo surto são a nova cepa do Sars-CoV-2, mais contagiosa, que foi identificada no Japão dias atrás, em pessoas que haviam estado em Manaus; e o relaxamento das medidas de prevenção, especialmente no fim de ano.


Muito mais previsível que o novo colapso dos hospitais de Manaus é a tentativa de capitalizar politicamente sobre a tragédia – no caso, apontando culpados. Por todo o seu conjunto da obra ao longo da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro apareceu como o bode expiatório óbvio. Nos últimos dias, não faltaram lembranças de que políticos e anônimos bolsonaristas incentivaram a reação popular contra medidas restritivas mais duras em Manaus, e comemoraram os protestos que levaram o governo do Amazonas a recuar.


Isso não pode ser minimizado. O coronavírus, sabe-se desde o início da pandemia, deixa em estado grave apenas uma fração dos contaminados. Para que ele leve um sistema de saúde ao colapso, é preciso que muitas pessoas estejam doentes ao mesmo tempo, o que só ocorre quando as medidas de prevenção são abandonadas. Mas, além deste incentivo a aglomerações no fim de ano e à mobilização popular contra as restrições, haveria outros graus de responsabilidade direta do governo federal ou de seus apoiadores? A União estaria ciente, por exemplo, da situação dramática da falta de oxigênio e teria sido negligente no fornecimento do insumo? Sem respostas a essa e outras perguntas, é precipitado, quando não oportunista, colocar a culpa única e exclusivamente sobre o governo federal e os bolsonaristas, ignorando outros atores e circunstâncias.


O que se sabe, de certo, é que dinheiro havia, graças ao programa de repasses federais a estados e municípios aprovado pelo Congresso para compensar a queda de arrecadação em tributos estaduais e municipais. Dados da União mostram que o Amazonas recebeu quase R$ 900 milhões apenas neste programa, que exigia a aplicação de parte do montante em ações de enfrentamento à pandemia. O Amazonas, aliás, foi um dos estados que teve superávit primário maior em 2020 que em 2019, graças a esse repasse. E também foi um dos estados onde houve denúncias de mau uso de recursos públicos no combate à pandemia. A Polícia Federal e o Ministério Público investigam um esquema que envolveria o governador Wilson Lima (PSC) e incluiu a compra, em abril de 2020, de respiradores com sobrepeço e inúteis para o tratamento da Covid-19 – a empresa vendedora era uma loja de vinhos.


A urgência é, sem dúvida, normalizar o abastecimento do insumo para evitar que mais pessoas morram clamando em agonia por algo tão corriqueiro quanto o ar. Mas não é menos importante encontrar os culpados pela negligência criminosa que deixou os hospitais de Manaus sem oxigênio, pois essa é uma barbaridade que não pode se repetir em nenhum outro local do país. O vírus, por si mesmo, já é suficientemente perigoso; Manaus é o retrato do que ocorre quando ele ainda recebe a ajuda de cidadãos irresponsáveis e, especialmente, de autoridades corruptas ou omissas que, com suas ações, testam os limites que separam uma crise sanitária do assassinato em massa.


Gazeta do Povo


Em tempo: quando o STF determinou logo que o vírus chinês invadiu o Brasil que caberia a governadores e prefeitos o 'combate' à praga chinesa estava exposta a senha para a criação do Covidão. De governadores e prefeitos corruptos, com aval de ministro do Supremo - nomeados por elementos como FHC, Lula, Dilma - o que se poderia esperar, além de novos assaltos ao bolso do povo e ao assassinato em massa, como está ocorrendo em São Paulo, Manaus...?