Talvez nem seja mais necessário repetir que regras de isolamento não se mostraram eficazes no controle da pandemia de coronavírus

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Nesta sexta-feira, 22, o governo de São Paulo anunciou novas medidas restritivas à circulação de pessoas, mandou fechar estabelecimentos comerciais que tentavam respirar depois da catástrofe de 2020, adiou a volta às aulas e repetiu o mantra que ninguém aguenta mais ouvir: #FiqueEmCasa.
Talvez nem seja mais necessário repetir que regras de isolamento (ou lockdown em alguns casos) não se mostraram eficazes no controle da pandemia de coronavírus. O leitor já sabe até de cor (inclusive porque leu aqui): não deu certo na Argentina, no Peru, em países na Europa e também alguns Estados dos EUA já constataram isso. Mas eis que o gestor da mais importante fronteira da nossa federação decide revisitar o erro. Qual seria o motivo? Politicagem, dizem por aí.
Já na metade do ano passado, a própria ONU (Organização das Nações Unidas) alertava que a fome mataria mais do que o vírus que veio para chacoalhar o planeta — a estimativa era de 270 milhões em situação de crise de fome até dezembro. A ONG Oxfam International, que atua no combate à pobreza no mundo, advertiu que o Brasil, um país continental e cheio de desigualdades, corre o risco de retornar ao cenário da desnutrição.
É evidente que a pandemia degenerou-se em dias de guerra. Também é fato que não estávamos prontos para lutar contra um inimigo invisível. Aliás, nunca estamos prontos para uma ameaça que nos assalta no meio do dia. Mas também é preciso pontuar que a narrativa da crise promoveu na imprensa muitos redatores de obituários: as manchetes são olímpicas no contador de mortes e, acredite, se depender deles, esse emprego vai durar pelo menos até outubro de 2022.
Retornemos ao Estado de São Paulo e seu governador obcecado em chegar a Brasília (sem escala nas lojas de Miami): por que fechar as ruas, de novo, e justo agora que faz pose em capa de revista como o novo Albert Sabin à brasileira?
A maioria dos paulistas começa o dia correndo atrás do jantar e com a cabeça a mil pela angústia do desemprego. São milhares de pais e mães que acordam cedo todos os dias preocupados com o que os filhos vão comer depois da creche ou das escolas — fechadas há quase um ano segundo a ciência do milionário gestor de São Paulo.
Conforme a premissa de que leis e ordens devem ser cumpridas à risca, os 44 milhões de habitantes de São Paulo devem ficar mais tempo em casa a partir de segunda-feira — e isso inclui comerciantes, por exemplo, que buscaram crédito por aí para pagar funcionários parados e sair do sufoco neste janeiro. Ocorre que no mês que vem os boletos vão continuar a chegar — oxalá junto das primeiras vacinas. Mas eis uma sugestão: #FiqueEmCasa e mandem os seus boletos para João Doria pagar.
Revista Oeste