sábado, 16 de janeiro de 2021

Salim Mattar: "O Brasil de hoje é o resultado de 35 nos de governos social-democrtas"

O modelo é ineficiente, e a prova disso é a situação em que nos encontramos: educação catastrófica, bagunça nas contas públicas, ativismo judicial…

salim mattar - desabafo - impostos - governos social-democratas - brasil

Foto: Canva

Eu me levanto inconformado e indignado todos os dias, pois tenho certeza de que serei surpreendido por medidas tomadas pelo Judiciário, pelo Executivo e pelo Legislativo que vão gerar privilégios para certos grupos de interesse às custas do cidadão pagador de impostos que já trabalha cinco meses por ano apenas para pagar tributos.

Quando os militares deixaram o governo em 1984, a carga tributária era de 24,3% do PIB. Ela saltou para 33,1%, ou seja, aumentou 36% em 35 anos, praticamente 1 ponto porcentual ao ano. Isso sem falar no déficit de 7%, que elevaria nossa carga tributária a 41%, a níveis de países como Bélgica, Áustria e França, e sem que o estado dê a devida contrapartida na prestação de serviços à altura da elevada carga tributária. Os social-democratas são famosos, pois, em praticamente todos os países que governaram, aumentaram impostos. A carga tributária sobre lucro nas empresas brasileiras é de 34%, a quarta maior do mundo após Índia, Malta e Congo. Mas toda essa arrecadação é insuficiente, pois o Judiciário, o Legislativo e o Executivo aumentam os custos todos os dias, agigantando o estado.

O maior problema do Brasil é a atrasada mentalidade nacional estatizante por parte daqueles que acreditam, inocentemente e na melhor das boas intenções, ser o estado a solução para os nossos problemas. Ao contrário, o estado tem sido e é o nosso maior problema. Precisamos de soluções privadas para problemas públicos. O agigantamento do estado brasileiro aconteceu a partir da Constituição de 1988, liderada pelos social-democratas, que a denominaram de “Constituição cidadã”, mas ela não condiz com o apelido. O país tem sido governado pelos social-democratas desde 1985, ou seja, há 35 anos, e como justificar para a sociedade brasileira que não foram suficientes para erradicar o analfabetismo? Temos ainda 11 milhões de analfabetos e cerca de 28 milhões de analfabetos funcionais. A social-democracia se gaba de buscar um estado de bem-estar social, mas, no fundo, prefere manter uma parte da população dependente do estado. Alfabetizar significa inclusão social e dignidade para o cidadão. Por outro lado, cidadãos despreparados podem ser conduzidos e manobrados mais facilmente, principalmente nos processos eleitorais.

Na realidade, os maiores partidos políticos brasileiros são, predominantemente, de centro-esquerda. Alguns até se posicionam como de centro ou de centro-direita, mas na realidade são centro-esquerda e às vezes com um pequeno viés de direita. O discurso é um, mas a prática é outra. Usam nas campanhas um marketing a favor do mercado, mas votam a favor do estado. Desde a Constituição, que já nasceu ruim, com vícios de origem, o estado tem se tornado cada vez mais coercitivo e vem se servindo dos cidadãos a quem deveria, por origem, servir. O estado tem o fim em si mesmo e governos procuram defender o estado contra o cidadão, numa absoluta inversão de valores. Recentemente, o Ministério Público Federal estava montando uma sala vip no aeroporto de Brasília para que os seus procuradores ficassem preservados de contato com aqueles cidadãos comuns, pagadores de impostos, que são a fonte de seus salários e a quem deveriam servir. Procuradores são servidores públicos e, como o próprio nome diz, deveriam servir. Por sorte, essa decisão acabou sendo revogada, mas ficou claro para a sociedade brasileira como agem os nossos servidores preocupados com o próprio bem-estar às custas do conjunto de cidadãos.

A mentalidade esquerdista vigente e a ideologia partidária têm origem, principalmente, na educação estatal. Do ensino fundamental à universidade, o estudante é bombardeado com ensinamentos ideológicos de cunho “social”. A esquerda domina os sindicatos e associações de professores e a maioria dos reitores das universidades também é de esquerda. Como consequência, temos uma educação de má qualidade e posicionamos o Brasil no Programa de Avaliação de Estudantes (Pisa), entre os dez piores num grupo de 78 países. Mais: 43% dos brasileiros de 15 anos não sabem o mínimo de matemática, ciências e leitura, contra apenas 13% da média dos países que formam a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A educação brasileira é fortemente ideologizada, de tal forma que entra governo, sai governo e as coisas continuam do mesmo jeito, pois todos têm sido incapazes de resolver essa situação. Também, pudera. Com estabilidade de emprego, servidores da educação fazem gato-sapato, saem absolutamente impunes de suas greves, há tolerância máxima a comportamentos inaceitáveis e eles agem como donos das escolas — coisa típica de estado tomado pelos seus servidores. É a máquina defendendo os próprios interesses e de grupos específicos de forma escandalosa e impune. Registro que comento de maneira genérica, mas existem milhares de bons professores e alguns reitores que cumprem o seu papel de modo ético e responsável.

Meu inconformismo e minha indignação são provenientes das medidas tomadas pelos três poderes, medidas estas que privilegiam interesses próprios em detrimento do resto da sociedade, os cidadãos comuns pagadores de impostos. Fico indignado porque o estado quebrado do Rio de Janeiro concede aumento de 11% para governador, governador afastado e secretários, porque a União paga R$ 33 bilhões de calote de estados e municípios, porque o Brasil deve e não paga R$ 2,5 bilhões a organismos internacionais, porque rasgou R$ 160 bilhões nos últimos dez anos com as estatais dependentes, porque 1.600 servidores se candidatam apenas para obter licença remunerada, porque a Câmara dos Deputados não põe em votação projetos prioritários para o país, porque o projeto de privatização da Eletrobras está parado há 14 meses no Congresso, porque o STF solicita 7 mil vacinas para seus servidores e familiares, porque o dinheiro do Fundeb para a educação básica é desviado nas prefeituras e, como sempre no Brasil, sem nenhuma consequência, porque cinco capitais aprovaram reajustes para seus prefeitos e secretários no momento em que o país passa por forte crise, porque o Ministério Público de Mato Grosso gasta R$ 2,4 milhões em compra de smartphones e porque estão enterrando a Operação Lava Jato.

Mesmo assim, acredito no futuro do Brasil, acredito na próxima geração. Teremos eleições em 2022, o eleitor é mais bem-informado e deverá votar melhor. Mas, acima de tudo, espero que o país possa, o mais breve possível, ser governado por políticos que compreendam a importância das ideias liberais. Precisamos dar esta chance ao país. Mais do que de mudança, precisamos de transformação. O modelo social-democrata no Brasil demonstrou ser ineficiente, e a maior prova disso é a situação em que nos encontramos, a bagunça em nossas contas, mais de 30 partidos políticos hoje com representação e mais de 70 em fase de registro, a relação e o atropelo entre os três poderes, o ativismo judicial, e estatais ineficientes que valem R$ 1 trilhão e poderiam resolver nosso problema fiscal e de caixa. Espero que não joguem a culpa na já muito politizada pandemia de covid-19.

Leia também “A Constituição do atraso”


Salim Mattar é empresário e fundador da Localiza. Comandou a Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, órgão do Ministério da Economia, de janeiro de 2019 a agosto de 2020. Entusiasta da causa liberal, criou os institutos de Formação de Líderes em vários estados, além de apoiar cerca de 120 outros institutos espalhados pelo Brasil.


Revista Oeste