quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

J.R. Guzzo, "Joe Biden e o Brasil"

O presidente que sai podia não

ajudar muito, mas não atrapalhava.

Agora pode ser mais complicado



Joe Biden toma posse como presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 20 

Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP


Como acontece a cada vez que um novo presidente americano assume o seu cargo na Casa Branca, aparecem no noticiário nacional a discussão, as explicações e as teorias sobre “o que vai mudar” para o Brasil. 

No caso, a expectativa predominante é de que as coisas fiquem mais difíceis. 

O presidente que sai, Donald Trump, era o governante mundial mais admirado pelo governo brasileiro. 

O que entra, Joseph Biden, não faz o tipo que o Palácio do Planalto e seus arredores admiram. Trump podia não ajudar muito, mas não atrapalhava. Biden pode ser mais complicado.

As ideias, as ações e a atitude geral das novas autoridades americanas têm muito pouco a ver, com certeza, com as do governo de Jair Bolsonaro, ou com a imagem que ele tem por lá. 

Bolsonaro, além disso, só cumprimentou Biden por sua vitória quando o resultado foi oficialmente anunciado, a exemplo dos presidentes do México, da Rússia e de outros que têm as mesmas reticências em relação ao sucessor de Trump. 

Os Estados Unidos de Biden, além do mais, dão a impressão de caminharem na mão oposta de quase tudo que o bolsonarismo pode significar.

Na prática, porém, não deve haver grades tragédias. Um presidente norte americano, cinco minutos após assumir o comando, tem uma montanha de preocupações bem mais importantes que o Brasil; a tendência natural é que não lhes sobre muito tempo, ou interesse, para lidar com questões brasileiras. 

Na verdade, em matéria de América Latina, especificamente, a grande questão e os grandes focos de problema para os Estados Unidos estão na imigração que vem do México e da América Central, e para a qual não há a mais remota perspectiva de solução.

Outro tema prioritário é o tráfico de drogas e a constante participação de governos latino-americanos como os seus grandes sócios – algo que também não envolve o Brasil. 

Não há, como ocorria no tempo dos governos militares, o problema dos direitos humanos, nem o da ausência de eleições diretas, e nem outras dificuldades deste gênero. 

Não há guerras comerciais em curso, e a economia brasileira continua sendo objeto de interesse para as empresas americanas e os seus projetos.

Um pouco de calma, de lado a lado, deveria ser o suficiente para não acontecer nada de explosivo ou insolúvel nas relações entre Brasil e os Estados Unidos. 

O mundo gira, e se o governo brasileiro contentar-se em girar junto, estaremos daqui a quatro anos mais ou menos onde estamos hoje.

O Estado de São Paulo