quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Alexandre Garcia: "Maia se intrometeu, mas as relações entre Brasil e China são excelentes"

 

Foto: Alan Santos


Parece que o governador João Doria fez muito barulho por nada, assim como, a peça de Shakespeare. Ele fez uma tremenda propaganda para ser o pioneiro, o capitão da vacina. Ele criou uma expectativa e não pode cumprir.


Mas agora não tem insumos suficientes para vacinar a quantidade estimada para a primeira fase. Doria afirmou que o governo federal precisa comprar os insumos, mas a negociação de compra não envolveu a União.


O governador fez questão de negociar direito com a Sinovac. Ele e o diretor do Instituto Butantan estiveram em Wuhan em agosto de 2020 para negociar a aquisição dos imunizantes.


Antes só estava nas mãos dele, agora ele quer jogar a responsabilidade para o governo federal.


A peça publicitária de São Paulo – que está muito boa – destaca “se a vacina é do Butantã, pode confiar. É de São Paulo. É do Brasil”. Em momento algum é citado que o imunizante foi feito em parceria com a Sinovac, nem cita a China.


Será que o país asiático não ficou desgostoso com isso? Vai que o governo chinês pensou “se a vacina é de São Paulo e do Brasil, eles que esperem''.


Rodrigo Maia, um opositor do governo, conversou com a embaixada chinesa. Ele afirmou que o motivo não foi político e sim para tratar sobre a compra de insumos da vacina para o Brasil.


As relações entre Brasil e China são excelentes. O país é o nosso principal parceiro comercial. Os industriais brasileiros até se queixam da quantidade de produtos manufaturados no país asiático, desde automóveis até quinquilharias. E a China é o nosso maior comprador de soja, carne, minério de ferro e matérias primas afins.


Ou seja, as relações entre os países não é a questão. Países europeus e a Índia também estão esperando a importação do insumo, que é o ativo da vacina. Para comparação, o insumo seria o xarope da Coca Cola. Todas as fábricas produzem o refrigerante, mas o xarope é produzido na matriz.


Como o contrato com a AstraZeneca não permite transferência de tecnologia, é preciso importar o produto – a farmacêutica tem fábrica na China. E todos estão esperando para comprar porque a demanda está alta.


Só na Índia são cerca de 300 milhões de pessoas a serem vacinadas nesta primeira etapa. Sem contar o fato do país ter se comprometido a vender o imunizante prioritariamente para os países vizinhos, como, Butão, Nepal e Sri Lanka.


O lado bom da demora em vacinar a população é que temos tempo para observar os efeitos colaterais do medicamento. Já há indícios de problema na Noruega decorrente dos efeitos colaterais do imunizante da Pfizer. Esse tempo de observação permite que tomemos a decisão de tomar ou não a vacina.



Brasil e EUA têm aliança tradicional

Jair Bolsonaro não foi a Washington para a posse de Joe Biden, em vez disso, o presidente foi ao evento de 80 anos da aeronáutica. Mas, enviou uma carta ao nosso presidente estadunidense desejando que o tempo de governo seja bom.


Eu digo com experiência que as relações entre Brasil e EUA não vão mudar porque essa é uma aliança tradicional. Quando Biden falou sobre a Amazônia, foram ameaças de campanha. A amizade e proximidade de Trump e Bolsonaro não causou nenhuma diferença entre os países.


Nós já tivemos situações piores. Na década de 1970, época em que Ernesto Geisel estava no poder, as relações foram rompidas depois de o governo dos Estados Unidos discordar de um acordo nuclear Brasil-Alemanha.


Mas depois tudo voltou ao normal. Há uma estabilidade na parceria com o Brasil porque, apesar da alternância de poder entre Republicanos e Democratas, os interesses dos EUA estão acima de partido.


Aliás, tem gente aqui no Brasil que detesta alternância de poder e aplaude ditaduras.


Gazeta do Povo