A temporada de balanços do terceiro trimestre mostrou que as incorporadoras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) tiveram rápida recuperação após a paralisação de negócios no primeiro semestre por conta da quarentena – com alta de lançamentos, vendas, receita e lucro. O desempenho forte surpreendeu analistas do setor, que apontam para o começo de um novo ciclo de expansão do mercado imobiliário.
As 14 maiores incorporadoras com ações negociadas na B3 tiveram, juntas, lucro líquido de R$ 721 milhões no terceiro trimestre de 2020, 56% a mais do que no mesmo período de 2019. O levantamento contabiliza os balanços de Cyrela, Cury, Direcional, Even, Eztec, Gafisa, Helbor, Mitre, Plano & Plano, MRV, RNI, Tenda, Tecnisa e Trisul.
Os empreendimentos lançados por esse grupo tiveram valor geral de vendas estimado em R$ 8,1 bilhões no trimestre, alta de 36%, enquanto as vendas líquidas totalizaram R$ 7,5 bilhões, um avanço de 45%. De um lado, os juros baixos e a maior oferta de crédito têm estimulado a compra de imóveis para moradia ou investimento. Já os números das empresas mostram que há dinheiro em caixa e terrenos para construção.
“A aceleração nas vendas foi surpreendente, dado o cenário de pandemia”, diz o analista Raul Grego, da Eleven Financial. “Os números dos balanços foram animadores: todas as incorporadoras apontaram perspectivas de crescimento.” Para ele, o mercado seguirá em alta no fim deste ano e ao longo do próximo.
Metas
Com a recuperação dos negócios, algumas companhias se sentiram confiantes para divulgar metas de lançamentos para o biênio 2020-2021. A Tecnisa divulgou meta de crescimento pela primeira vez desde 2011, quando esse tipo de comunicação foi suspenso devido às crises do País e da própria empresa. Agora, prevê lançar entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão em projetos até o fim de 2021. Se isso se concretizar, representará a retomada do crescimento da incorporadora, que neste ano lançou um único empreendimento.
“Estamos tranquilos em dar um guidance (meta oficial, no jargão do mercado) de novo. Temos um banco de terrenos robusto, dinheiro em caixa e taxas de juros baixas, ao contrário do passado, em que não tínhamos esses confortos. Estamos confiantes em dizer que vamos executar”, afirma o diretor de relações com investidores da companhia, Flávio Vidigal.
Já a Eztec considera até mesmo a possibilidade de revisão para cima em sua meta de lançamentos, diante do cenário considerado promissor. “Se a velocidade de vendas for superior ao estimado ao longo do próximo ano, é possível começar a lançar mais fases dos empreendimentos e antecipar projetos dos anos posteriores”, afirma o diretor de relações com investidores, Emílio Fugazza.
Circe Bonatelli, O Estado de S.Paulo