Maradona nasceu, cresceu e, finalmente, encontrou os seus. O encontro foi tão na medida de seu caráter que tatuou em seu braço o rosto de um psicopata, e se orgulhava ao mostrá-lo.
Ocorre que no meio de sua trajetória de delinquente vermelho, ele jogou futebol.
E jogou num nível de arte. Basta ver as coletâneas de suas melhores jogadas. É evidente que se tratou de um jogador muito acima da média. Um craque em toda a acepção do termo. Ele fez jogadas, gols e dribles maravilhosos.
Colocava vários jogadores aos seus pés, deixando-os para trás, e obrigando o time adversário a mobilizar pelo menos um terço de seu contingente para tentar brecá-lo, destruindo, assim, todo o esquema tático previamente ensaiado.
É imenso o número de artistas e atletas sem caráter que defendem o comunismo. Gastando, portanto, parte do tempo defendendo a escória humana, e outra parte do tempo fazendo uma arte encantadora. Vida de sociopata.
Disso surge um dilema - ou uma contradição, ou um paradoxo, ou uma esquizofrenia, ou uma vida dupla - desconcertante: o do escroto produtor de uma arte superior.
Há duas formas de lidar com esse problema insolúvel. A primeira é condenar a arte junto com a vida do artista; e a segunda é separando a arte do artista.
Particularmente, prefiro não separar a arte da vida do artista. Por exemplo, admirava algumas composições de Chico Buarque, mas sua defesa da criminalidade esquerdista é tão cínica e descarada, que ouvir uma composição sua é uma espécie de tortura. Ele e tantos outros soldados do mal não me fazem a menor falta.
Porém, para Maradona, abro uma exceção. Preciso admitir que ele em campo, em seus melhores momentos, praticou um futebol superior e encantador.
Marco Frenette. Jornalista e escritor.
Jornal da Cidade