O mercado imobiliário na cidade de São Paulo voltou a crescer em julho, confirmando as expectativas de empresários que apontavam para uma recuperação rápida dos negócios após o encolhimento nos primeiros meses de pandemia provocada pelo vírus chinês.
As vendas de apartamentos novos atingiram 4.341 unidades em julho, número 45,5% superior ao de junho e 21,1% acima do registrado no mesmo mês do ano passado. Os dados são de levantamento do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).
Esta é a primeira vez desde março em que o setor tem crescimento na comparação anual. As quedas foram de 13,8% em março, 27,7% em abril, 26,7% em maio e 56% em junho. Antes da pandemia chegar, as vendas estavam em alta.
No acumulado dos últimos 12 meses encerrados em julho, foram vendidos 47.237 apartamentos novos na capital paulista, alta de 19,3% ante os 12 meses anteriores. Isso significa que o mercado ainda carrega expansão, mesmo com o freio na quarentena.
“O resultado das vendas de julho é absolutamente surpreendente”, celebrou o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci. “Essa alta ficou acima do imaginado.”
Na sua avaliação, a recuperação rápida do mercado imobiliário reflete alguns aspectos positivos do ambiente econômico a despeito da crise, como a manutenção da inflação baixa e dos juros dos financiamentos no menor patamar da história – fatores que aumentaram o poder de compra dos consumidores.
Médio e alto padrão
A recuperação das vendas de imóveis novos no mês de julho na cidade de São Paulo pode ser percebida em todos os segmentos. A melhora abrange desde as residências com valor “mais em conta”, enquadradas do Minha Casa Minha Vida (rebatizado de Casa Verde e Amarela), até os empreendimentos de médio e alto padrão.
Nos meses anteriores, apenas as unidades de valor mais baixo estavam escoando bem, segundo Petrucci. “Fico feliz de ver uma melhora generalizada”, afirmou.
Levantamento do sindicato mostrou que, das 4.341 unidades vendidas em julho na capital paulista, 42% foram econômicas e 58% de médio e alto padrão. A velocidade de vendas no primeiro tipo foi de 11,8%, e no segundo, 13,8%. A velocidade de vendas é um indicador de liquidez medido pela relação entre a quantidade de unidades vendidas no mês diante do total de unidades que estão no estoque mais as que foram lançadas no período.
Petrucci disse que os imóveis com mais área, mais quartos e, consequentemente, de maior valor também tiveram liquidez elevada.
Isso pode estar relacionado à mudança no comportamento dos consumidores, que passaram a priorizar moradias mais amplas e confortáveis, com opções de lazer e home office, já que há uma tendência de se passar mais tempo em casa.
“Os lançamentos para acompanhar essas novas demandas ainda vão chegar ao mercado. Mas pode ser que o consumidor esteja comprando mais aqueles produtos do estoque que já têm algumas dessas qualidades desejadas”, afirmou.
Aproveitar o momento
O servidor público Victtor Victoria, de 31 anos, realizou o sonho de comprar a casa própria na semana passada, quando fechou o contrato para aquisição de um apartamento com dois dormitórios no bairro Bela Vista, no centro de São Paulo. Ele vive de aluguel desde 2018, quando se mudou para a capital, e diz que aproveitou os juros baixos para financiar o imóvel.
“Eu tinha dinheiro investido principalmente em Tesouro Direto, que estava dando pouco retorno, e resolvi retirar para o apartamento, para aproveitar essa taxa baixa de juros”, diz. “A parcela também ficou com um valor próximo do aluguel, o que deixou o pagamento mais acessível”, conta o servidor.
Construtoras reforçam o otimismo para os próximos meses, e acreditam que será uma boa oportunidade para escoar uma demanda reprimida nos últimos anos, em que era mais difícil comprar um imóvel.
“Havia uma demanda que vinha sendo reprimida desde a crise de 2015. Nós não tivemos uma recuperação forte, em que ainda não recuperamos a média de consumo de unidades novas que se esperaria para São Paulo”, afirma Mauro Teixeira Pinto, sócio-diretor da TPA. “O comprador tem hoje uma janela de oportunidade interessante, porque o preço dos imóveis ainda não subiu.”
Teixeira Pinto destaca que a parcela de investidores no setor de imóveis cresceu, fenômeno também impulsionado pela baixa taxa de juros. “O aplicador ficou sem alternativa e começou a investir em imóvel. Isso influenciou aquela pessoa que tinha dinheiro aplicado e estava na dúvida se ia comprar um imóvel para si”, diz.
A incorporadora RNI fez em junho o lançamento RNI Nova Jaçanã, na zona norte de São Paulo, e já vendeu cerca de 50% das unidades. O diretor de marketing, vendas e incorporação da construtora, Henrique Cerqueira, acredita que parte do sucesso nas vendas também se deve ao atendimento digital para fechamento de contratos e busca por imóveis.
“Quando você junta o desejo de ter um imóvel e um meio digital, em que o cliente não precisa se expor na frente de um corretor para mostrar o contracheque ou ter o crédito negado pelo banco, ajuda muito na hora de efetivar a compra”, afirma.
Circe Bonatelli e Luísa Laval, O Estado de S.Paulo