domingo, 21 de junho de 2020

Autoritarismo dificulta vida da China na disputa por inteligência artificial

Ter acesso a dados não transformará o país em potência, avalia dupla de Oxford. Dessa forma, China não simboliza sucesso em inteligência artificial
china - inteligência artificial
China: muitos dados, mas não necessariamente forte em inteligência artificial | Foto: CANVA
A China não será a maior potência mundial em inteligência artificial. É o que analisam Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, profissionais da Universidade de Oxford, em artigo publicado no site da revista norte-americana Foreign Affairs. Entre outros pontos, a dupla afirma que o sistema autoritário vigente no país comunista é, inclusive, um empecilho — não uma vantagem.
Frey e Osborne destacam, por exemplo, que não basta ter acesso a uma gama de dados para conseguir avançar em trabalhos e tecnologias como a inteligência artificial. É preciso estar aberto à inovação. Eles frisam, entretanto, que a China cumpre a primeira parte. Afinal, o regime comunista é conhecido por “vigiar” seus mais de 1 bilhão de habitantes. A segunda porção para se pensar em ser uma potência em IA, contudo, não ocorre.
“Permite bisbilhotar seus cidadãos, mas não muito mais”
“O desprezo da China pela privacidade permite bisbilhotar seus cidadãos, mas não muito mais do que isso. Uma abundância de dados de vigilância não a oferece uma vantagem na aplicação de inteligência artificial para ações como produção de novos medicamentos ou carros autônomos, por exemplo”, defendem os articulistas da Foreign Affairs, publicação especializada em assuntos sobre relações internacionais.

Questão de inovação

O artigo da dupla de Oxford aponta, nesse sentido, que a maior potência na área de inteligência artificial será quem tiver capacidade de entender os dados e força para investir em inovação. E aí trata-se, a saber, de mais um item em que a China fica para trás. Fato histórico, defendem Frey e Osborne. “Historicamente, as sociedades mais inovadoras sempre foram aquelas que permitiram às pessoas buscar ideias divergentes”, escrevem — cientes de que isso não ocorre no país comunista.
“É por isso que a Revolução Industrial aconteceu no Ocidente, não na China”
“Como argumentou o eminente historiador econômico Joel Mokyr, é por isso que a Revolução Industrial aconteceu no Ocidente, não na China”, prosseguem os autores do texto publicado na Foreign Affairs. Para eles, o regime chinês já demonstrou, inclusive em projetos juntos com a Huawei, que preferem manter status quo político, mesmo que isso resulte em “inovação mais lente”.

EUA na liderança

Por fim, Frey e Osborne definem que os Estados Unidos têm tudo para seguirem como líderes mundiais em questões tecnológicas — o que inclui o domínio da inteligências artificial. Os autores do artigo pontuam, contudo, que se isso não ocorrer será culpa do próprio país norte-americano. Eles citam, por exemplo, que restrições a presença de imigrantes pode ser prejudicial. Isso porque são profissionais que ajudam, na afirmação dos articulistas, a impulsionar o setor tecnológico.
“Os Estados Unidos possui vantagens que podem permitir que sigam líderes mundiais em inteligência artificial. Se perderem essa posição para a China, a razão provavelmente será que Washington tentou imitar o modelo chinês, investindo em ‘campeões nacionais’ em vez de abraçar a competição e o dinamismo [internacional]”, escrevem.

, Revista Oeste