quarta-feira, 27 de maio de 2020

Nasdaq no azul em 2020: ações 'tec' voam e prometem mais para o pós-crise




Nasdaq no azul em 2020: ações 'tec' voam e prometem mais para o pós-crise
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crise é brava, a maior em quase um século, e, embora algumas
economias já tenham iniciado reaberturas graduais, a pandemia de 
covid-19 segue viva – e as incertezas são várias.

No meio disso tudo, a comparação entre

dois dos principais índices americanos de

bolsa sinaliza para mudanças em curso que

vieram para ficar no jogo de forças entre

atividades econômicas, e que merecem

atenção especial do investidor.

Ao longo de 2020, até terça-feira (27), o S&P 500 tem queda 
de 7,40%. Já o Nasdaq Composite acumula ganhos, com 
coronavírus e tudo, de 4,10% no período.
A chave para desvendar o mistério de um

para baixo e o outro para cima está na

composição das carteiras dos índices,

como você já deve ter imaginado. O S&P, 

conforme aponta a plataforma Morningstar,

 dedica ao setor tecnológico 23% de espaço.

Já no Nasdaq, a participação do segmento

é de 40%.
Enquanto setores como o financeiro e, sobretudo, ligados as 
commodities vêm patinando em Nova York, empresas da área
 tecnológica despontam como forma de proteção. Afinal, com o 
isolamento social, público não deve faltar para Amazon, cujas 
ações no ano subiram 75%; Facebook, 42%; Google (Alphabet), 
41%; e Netflix, 28%.
Por essas e outras, quem apostou em fundos que replicam a 
carteira de índices (ETFs) atrelados ao Nasdaq mitigou bem 
mais o impacto da crise do que quem optou pelo S&P 500 – as
 duas alternativas, por sinal, disponíveis para o investidor 
brasileiro em alguns bancos e corretoras

São números de retrovisor e, nunca é demais 
lembrar, podem não se repetir. Mas o quadro
 pintado acima sinaliza não só para a tendência
 das ações de empresas de tecnologia se consolidarem como defensivas na crise, mas
 como potenciais garantidoras de ganhos no
 pós-pandemia.

“Essa é uma das grandes mudanças que teremos daqui para
frente”, disse Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP
 Investimentos na live do Valor Investe desta segunda-feira
 (25). O tema principal deste Abrindo os Trabalhos foi o mundo
 pós-pandemia, e os reflexos nos mercados de risco nas 
transformações aceleradas pelas quais estamos passando.
“O termo ‘empresas de tecnologia’ talvez

pare de existir, hoje você fala com uma

mineradora, companhias do setor de

agricultura, e o negócio deles hoje é

quase 100% ‘tec’”, disse Ferreira.

Para o estrategista, virou questão de vida ou morte para as
 companhias sobreviverem se tornarem “de tecnologia”. 
“Empresas que tinham planos de digitalização para dois anos, 
estão tendo de acelerar esses planos para coisa de semanas, 
porque virou uma questão de sobrevivência, ou vende on-line, 
ou não tem mais receitas”, diz.
Ferreira destaca um exemplo desta crise que simboliza como 
companhias que conseguirem sair na frente na corrida tecnológica
 podem se beneficiar. “Hoje você tem o Zoom (plataforma 
on-line para conferências), que já vale mais do que todas 
as empresas aéreas somadas”, afirmou.
Há poucos meses, você já tinha ouvido

falar da plataforma? Pois é. Agora é bem

possível que ela já faça parte da sua vida,

e que talvez tenha vindo para ficar – até que

outra empresa pule na frente, sabe-se lá

por qual inovação apresentar no decorrer

dospróximos meses (dias?).

Ibovespa na roda

Ferreira trouxe também o Ibovespa para a conversa. Apenas a 
empresa de software Totvs tem a tecnologia como foco 
principal  de seus negócios entre as 75 da carteira teórica. 
Com mero 0,5% de participação. Ele cita ainda a Magazine 
Luiza como exemplo de companhia nacional com a 
digitalização avançada. 

Mas os 2,7% de participação da Magalu no índice e alta
 de 36%  no ano não bastam para impedir que tenha sido o 
Ibovespa índice de bolsa que mais afundou entre as bolsas
do mundo  em 2020, 26% até aqui.
Marcelo d’Agosto, blogueiro do Valor

Investe  e convidado da live, alerta para a composição atual do Ibovespa como

uma das explicações para a lanterninha

em escala global.
Nossa bolsa foi a que mais caiu no mundo, e a nossa moeda a 
que mais se desvalorizou”, diz d’Agosto. “Uma das explicações 
para a queda da bolsa é o peso na economia brasileira das 
commodities, do setor de energia, como Vale e Petrobras, e 
do setor financeiro, e essas ações que deram muito resultado no 
passado, com a crise, foram pegas em cheio”.
Em entrevista ao site, o analista Rafael Ponanko, da Toro 
Investimentos, reforça como a mudança de hábito das pessoas,
 que por gosto ou necessidade incorporaram mais tecnologia em
 suas vidas, deve fazer parte da dinâmica do mercado acionário 
pelos próximos anos.
“Toda crise traz grandes ensinamentos,

e essa ensina pelo lado humano, cuidados

com a saúde como o isolamento social

deram ênfase para hábitos antes já

presentes, mas não tão consolidados”,

diz.
E para além das empresas mais “pops”, beneficiadas por mais
 pessoas sendo trazidas à internet para consumir, Ponanko
aponta  ainda para outro ramo que tende a se tornar badalado 
ligado no universo digital. “Empresas de biotecnologia em 
busca da vacina  tem peso importante no Nasdaq, e 
igualmente vêm tendo desempenho positivo”.
Resumindo a ópera, é hora de fugir para

o Nasdaq?
“O investidor deve ter entre 5% e 10% da carteira de ações 
atrelada ao um índice fora Brasil”, diz Panonko. “Esse ETF
 tende a sofrer menos que uma Petrobras, uma Vale, um 
Itaú Unibanco”.
Sobre a Totvs, a “tec” do Ibovespa, ela está nas carteiras 
sugeridas pela Toro. “Ela desenvolve softwares para diversos 
segmentos, com uma gestão operacional muito boa, e tem muito
 para crescer no médio e longo prazos”, diz. “Não dá para 
comparar com as empresas lá fora, mas, na nossa bolsa, é 
quem se destaca”.
Panonko lamenta a dificuldade para se

apostar, do Brasil, diretamente em ações

de tecnologia americanas. “O fato desses

ativos serem restritos para investidores

qualificados acaba atrapalhando as

coisas”, diz. “A bolsa poderia fazer

um trabalho para, quem sabe, ofertar

para o púbico geral

brasileiro essa diversificação.”



Gustavo Ferreira, Valor Investe