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A crise é brava, a maior em quase um século, e, embora algumas
economias já tenham iniciado reaberturas graduais, a pandemia de
covid-19 segue viva – e as incertezas são várias.
No meio disso tudo, a comparação entre
dois dos principais índices americanos de
bolsa sinaliza para mudanças em curso que
vieram para ficar no jogo de forças entre
atividades econômicas, e que merecem
atenção especial do investidor.
Ao longo de 2020, até terça-feira (27), o S&P 500 tem queda
de 7,40%. Já o Nasdaq Composite acumula ganhos, com
coronavírus e tudo, de 4,10% no período.
A chave para desvendar o mistério de um
para baixo e o outro para cima está na
composição das carteiras dos índices,
como você já deve ter imaginado. O S&P,
conforme aponta a plataforma Morningstar,
dedica ao setor tecnológico 23% de espaço.
Já no Nasdaq, a participação do segmento
é de 40%.
Enquanto setores como o financeiro e, sobretudo, ligados as
commodities vêm patinando em Nova York, empresas da área
tecnológica despontam como forma de proteção. Afinal, com o
isolamento social, público não deve faltar para Amazon, cujas
ações no ano subiram 75%; Facebook, 42%; Google (Alphabet),
41%; e Netflix, 28%.
Por essas e outras, quem apostou em fundos que replicam a
carteira de índices (ETFs) atrelados ao Nasdaq mitigou bem
mais o impacto da crise do que quem optou pelo S&P 500 – as
duas alternativas, por sinal, disponíveis para o investidor
brasileiro em alguns bancos e corretoras
São números de retrovisor e, nunca é demais
lembrar, podem não se repetir. Mas o quadro
pintado acima sinaliza não só para a tendência
das ações de empresas de tecnologia se consolidarem como defensivas na crise, mas
como potenciais garantidoras de ganhos no
pós-pandemia.
“Essa é uma das grandes mudanças que teremos daqui para
frente”, disse Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP
Investimentos, na live do Valor Investe desta segunda-feira
(25). O tema principal deste Abrindo os Trabalhos foi o mundo
pós-pandemia, e os reflexos nos mercados de risco nas
transformações aceleradas pelas quais estamos passando.
frente”, disse Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP
Investimentos, na live do Valor Investe desta segunda-feira
(25). O tema principal deste Abrindo os Trabalhos foi o mundo
pós-pandemia, e os reflexos nos mercados de risco nas
transformações aceleradas pelas quais estamos passando.
“O termo ‘empresas de tecnologia’ talvez
pare de existir, hoje você fala com uma
mineradora, companhias do setor de
agricultura, e o negócio deles hoje é
quase 100% ‘tec’”, disse Ferreira.
Para o estrategista, virou questão de vida ou morte para as
companhias sobreviverem se tornarem “de tecnologia”.
“Empresas que tinham planos de digitalização para dois anos,
estão tendo de acelerar esses planos para coisa de semanas,
porque virou uma questão de sobrevivência, ou vende on-line,
ou não tem mais receitas”, diz.
Ferreira destaca um exemplo desta crise que simboliza como
companhias que conseguirem sair na frente na corrida tecnológica
podem se beneficiar. “Hoje você tem o Zoom (plataforma
on-line para conferências), que já vale mais do que todas
as empresas aéreas somadas”, afirmou.
Há poucos meses, você já tinha ouvido
falar da plataforma? Pois é. Agora é bem
possível que ela já faça parte da sua vida,
e que talvez tenha vindo para ficar – até que
outra empresa pule na frente, sabe-se lá
por qual inovação apresentar no decorrer
dospróximos meses (dias?).
Ibovespa na roda
Ferreira trouxe também o Ibovespa para a conversa. Apenas a
empresa de software Totvs tem a tecnologia como foco
principal de seus negócios entre as 75 da carteira teórica.
Com mero 0,5% de participação. Ele cita ainda a Magazine
Luiza como exemplo de companhia nacional com a
digitalização avançada.
principal de seus negócios entre as 75 da carteira teórica.
Com mero 0,5% de participação. Ele cita ainda a Magazine
Luiza como exemplo de companhia nacional com a
digitalização avançada.
Mas os 2,7% de participação da Magalu no índice e alta
de 36% no ano não bastam para impedir que tenha sido o
de 36% no ano não bastam para impedir que tenha sido o
Ibovespa índice de bolsa que mais afundou entre as bolsas
do mundo em 2020, 26% até aqui.
do mundo em 2020, 26% até aqui.
Marcelo d’Agosto, blogueiro do Valor
Investe e convidado da live, alerta para a composição atual do Ibovespa como
uma das explicações para a lanterninha
em escala global.
“Nossa bolsa foi a que mais caiu no mundo, e a nossa moeda a
que mais se desvalorizou”, diz d’Agosto. “Uma das explicações
para a queda da bolsa é o peso na economia brasileira das
commodities, do setor de energia, como Vale e Petrobras, e
do setor financeiro, e essas ações que deram muito resultado no
passado, com a crise, foram pegas em cheio”.
Em entrevista ao site, o analista Rafael Ponanko, da Toro
Investimentos, reforça como a mudança de hábito das pessoas,
que por gosto ou necessidade incorporaram mais tecnologia em
suas vidas, deve fazer parte da dinâmica do mercado acionário
pelos próximos anos.
“Toda crise traz grandes ensinamentos,
e essa ensina pelo lado humano, cuidados
com a saúde como o isolamento social
deram ênfase para hábitos antes já
presentes, mas não tão consolidados”,
diz.
E para além das empresas mais “pops”, beneficiadas por mais
pessoas sendo trazidas à internet para consumir, Ponanko
aponta ainda para outro ramo que tende a se tornar badalado
ligado no universo digital. “Empresas de biotecnologia em
busca da vacina tem peso importante no Nasdaq, e
igualmente vêm tendo desempenho positivo”.
aponta ainda para outro ramo que tende a se tornar badalado
ligado no universo digital. “Empresas de biotecnologia em
busca da vacina tem peso importante no Nasdaq, e
igualmente vêm tendo desempenho positivo”.
Resumindo a ópera, é hora de fugir para
o Nasdaq?
“O investidor deve ter entre 5% e 10% da carteira de ações
atrelada ao um índice fora Brasil”, diz Panonko. “Esse ETF
tende a sofrer menos que uma Petrobras, uma Vale, um
Itaú Unibanco”.
Sobre a Totvs, a “tec” do Ibovespa, ela está nas carteiras
sugeridas pela Toro. “Ela desenvolve softwares para diversos
segmentos, com uma gestão operacional muito boa, e tem muito
para crescer no médio e longo prazos”, diz. “Não dá para
comparar com as empresas lá fora, mas, na nossa bolsa, é
quem se destaca”.
Panonko lamenta a dificuldade para se
apostar, do Brasil, diretamente em ações
de tecnologia americanas. “O fato desses
ativos serem restritos para investidores
qualificados acaba atrapalhando as
coisas”, diz. “A bolsa poderia fazer
um trabalho para, quem sabe, ofertar
para o púbico geral
brasileiro essa diversificação.”
Gustavo Ferreira, Valor Investe