Há exatamente um ano, o diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, depôs perante o congresso americano e se desculpou pelo papel desempenhado pela sua empresa na “difusão de notícias falsas, discurso de ódio e campanhas de interferência estrangeira nas eleições". Ainda que seja insuficiente para resolver todos os problemas das grandes empresas de tecnologia, uma regra simples que sustenta o sistema bancário poderia melhorar muito a credibilidade das redes sociais.
Trata-se da ideia de “conhecer o cliente", que não é nenhum mistério: levando em consideração as preocupações envolvendo privacidade, segurança e fraude, nenhum banco pode receber novos clientes sem verificar sua existência e analisar seu perfil. E se as empresas responsáveis pelas redes sociais agissem da mesma forma?
A ideia de aplicar uma regra desse tipo às redes sociais já foi sugerida antes, mas não encontrou muitos adeptos. Este pode ser o momento certo. Pensemos no seguinte: o Facebook disse ter fechado mais de 1,5 bilhão de contas falsas entre abril e setembro do ano passado. Primeiro, é necessário reconhecer as considerações práticas. A verificação do perfil do vasto universo de usuários das redes sociais seria uma tarefa hercúlea. Sozinho, o Facebook tem uma base de aproximadamente 2,3 bilhões de usuários.
Mas ao menos Facebook e Twitter reconhecem a importância da verificação, ao menos enquanto ideia: ambos oferecem distintivos azuis para confirmar a autenticidade de uma pequena porcentagem dos usuários, como as celebridades. E há também preocupações legítimas com o quanto os sites de redes sociais já sabem a respeito de seus usuários. Alguém deseja que saibam ainda mais? O que essas empresas fariam para proteger melhor as informações pessoais, tendo em vista seu fracasso no passado?
Se o processo de verificação pessoal dos usuários fosse expandido, o volume de notícias falsas e discursos de ódio poluindo as plataformas de redes sociais diminuiria muito. E as empresas não poderiam ignorar os casos restantes. Uma versão modificada daquilo que ocorre na indústria de serviços financeiros é uma possibilidade de funcionamento para esse processo de verificação aprofundado.
Ao abrir uma conta no banco, o cliente costuma apresentar informações pessoais, que são verificadas pela gerência para garantir sua veracidade. A verificação também é usada para determinar se a pessoa tem antecedentes criminais. Processos como esse ajudam a proteger os bancos.
Há um precedente para a adoção de um regime semelhante para as redes sociais. A rede social NextDoor, que ajuda as pessoas a se comunicarem com suas comunidades locais, requer que os usuários interessados enviem suas informações de cartão de crédito ou telefone celular, usadas pelo site em uma verificação cruzada. Quando a pessoa não tem alguma das duas coisas, a empresa envia um cartão postal para o endereço do interessado com um código que pode ser usado online.
Relatos indicam que a NextDoor tem dezenas de milhões de usuários, muito menos do que os bilhões encontrados em outras redes sociais. Se a introdução de um sistema universal em tamanha escala for demasiadamente desafiadora, um teste nos Estados Unidos e Canadá pode ser um bom começo. Mas a necessidade de uma regra do tipo “conheça o cliente” pode se tornar mais urgente conforme as redes sociais evoluem para se tornar serviços de mensagens particulares totalmente criptografadas, como os planos anunciados por Zuckerberg para o Facebook.
Trata-se de uma meta louvável, mas, se os usuários forem falsos, ou se não for possível responsabilizá-los pelo conteúdo que divulgam, a facilidade inata da divulgação de informações falsas em redes criptografadas pode trazer implicações ainda mais preocupantes. A não ser, é claro, que tenhamos um mecanismo viável de verificação das identidades individuais - possibilitando assim que as redes sociais conheçam seus clientes. Não parece nada além de bom senso. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
Andrew Ross Sorkin, The New York Times