Apesar das incertezas sobre a retomada do crescimento econômico, as empresas deram início a um forte movimento de oferta de ações na bolsa paulista (B3) e também no exterior, que pode levantar este ano cerca de R$ 80 bilhões – o maior valor desde 2010, segundo fontes ouvidas pelo Estado. O valor inclui tanto operações de abertura de capital (IPO, na sigla em inglês), quanto emissão de ações de companhias já listadas na Bolsa (chamada ‘follow-on’).
A expectativa é que sejam feitas entre 25 e 40 operações neste ano. Boa parte será conduzida por companhias que já têm ações em Bolsa e que pretendem fazer ofertas primárias e secundárias no mercado. No primeiro caso, as operações são para captar recursos para projetos de expansão, por exemplo. Na oferta secundária, a venda de ações é para remunerar os acionistas, que diluem sua participação ou saem do negócio.
Essas operações deverão ser lideradas, em boa parte, por estatais. São os casos da Petrobrás, que planeja vender sua participação na BR Distribuidora, e da Caixa, que deve se desfazer de fatia na petroleira. Juntas, podem levantar cerca de R$ 20 bilhões, segundo fontes. Outras estatais também devem seguir o mesmo caminho, forma mais rápida e menos burocrática que a venda direta da empresa. A resseguradora IRB, do Banco do Brasil, foi a primeira a fazer oferta de R$ 2,5 bilhões, em fevereiro.
Após a paralisia no período eleitoral, o setor privado também reagiu. Localiza e Burger King levantaram R$ 2,6 bilhões. No início do mês, a empresa de energia Eneva fez uma oferta secundária de cerca de R$ 1 bilhão. A varejista Centauro captou R$ 772 milhões em seu IPO. Fora do País, a empresa de pagamento Stone movimentou quase US$ 800 milhões na Nasdaq, nos EUA, para permitir a saída de investidores do negócio.
Outras operações estão prestes a ser realizadas. Na próxima quinta-feira, a empresa de locação de caminhões Vamos, do grupo JSL, deverá concluir seu IPO, com expectativa de captar R$ 1,1 bilhão. A CPFL Energia – controlada pela chinesa State Grid – já fez o pedido para oferta pública na Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários dos EUA. A intenção é fazer a operação no Brasil e no exterior.
O mercado ainda aguarda para os próximos meses ofertas das empresas de energia AES Tietê e Light, da Cemig – as companhias não comentam. Segundo especialistas, o apetite por ações dos setores de infraestrutura e tecnologia é maior, uma vez que não estão ligados diretamente ao consumo, que ainda patina. “Quando há boas histórias, os investidores têm interesse em comprar”, afirma Alessandro Zema, presidente do Morgan Stanley, que projeta até US$ 20 bilhões em ofertas de ações.
Renée Pereira, Mônica Scaramuzzo e Cristiane Barbieri, O Estado de S. Paulo