Dois dias após se tornar público o veto de Jair Bolsonaro a uma propaganda do Banco do Brasil (BB), o presidente da instituição, Rubem Novaes, afirmou que a retirada precisa ser vista “num contexto mais amplo em que se discute à diversidade no País”.
Segundo ele, no ano passado, durante as eleições, houve confronto de duas visões de mundo e “um povo majoritariamente conservador fez uma clara opção no sentido de rejeitar a sociedade alternativa" que os meios de comunicação procuravam impor.
“Durante décadas, a esquerda brasileira deflagrou uma guerra cultural tentando confrontar pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens, homo e heterossexuais etc, etc. O ‘empoderamento’ de minorias era o instrumento acionado em diversas manifestações culturais: novelas, filmes, exposições de arte etc., onde se procurava caracterizar o cidadão ‘normal’ como a exceção e a exceção como regra”, afirmou o presidente por meio de sua assessoria de imprensa. “É este o pano de fundo para nossos debates atuais”, completou Novaes.
O posicionamento foi feito em resposta a questionamento feito pela BBC Brasil e, posteriormente, encaminhado ao Estado. Até então, o banco não havia dado justificativa oficial para a retirada da propaganda, que era estrelada por atores negros e brancos, numa representação da diversidade racial e sexual do País, e divulgava serviço de abertura de conta corrente no celular.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado, 27, que seus ministros devem seguir sua linha ideológica de pensamento ou ficar “em silêncio” se discordarem das orientações.
“Quem indica e nomeia presidente do Banco do Brasil? Sou eu? Não preciso falar mais nada, então”, afirmou cumprir agenda em Brasília. “A linha mudou. A massa quer o quê? Respeito à família. Ninguém quer perseguir minoria nenhuma. E nós não queremos que dinheiro público seja usado dessa maneira.”
Na sexta, 26, a Secretaria de Governo, comandada pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz, desautorizou ordem da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) para que todo o material de propaganda da administração, incluindo o das estatais, passasse por análise prévia da pasta.
Em nota, a Secretaria de Governo -- à qual a Secom está subordinada -- diz que a medida fere a Lei das Estatais, “pois não cabe à administração direta intervir no conteúdo da publicidade estritamente mercadológica das empresas estatais”.
Houve, na prática, um recuo, mas Bolsonaro não gostou. Após o presidente ter mandado cancelar a propaganda do Banco do Brasil, a Secom havia enviado um e-mail a estatais com instruções para controlar os comerciais e “maximizar o alinhamento de toda ação de publicidade.
Renata Agostini, O Estado de S.Paulo