Carregadas de críticas endereçadas à Procuradora Geral da República, Raquel Dodge – e ao núcleo do Ministério Público que ela comanda – as declarações do ministro Alexandre de Moraes, direto de Portugal, em meio a badalado encontro jurídico, chamaram a atenção deste jornalista. As dúvidas não decorrem, exatamente, dos desdobramentos do rolo pela manutenção do inquérito, no Supremo Tribunal Federal, contra a revista Crosué e o site O Angonista, que parece longe do fim, mesmo com a revogação da censura prévia à reportagem, com base em documento da Lava Jato, que mexeu com o presidente do STF, Dias Toffoli, e levantou relevante debate sobre liberdade de expressão e censura à imprensa no Brasil.
Mais intrigante, só os ataques dirigidos ao ministro da Justiça , Sérgio Moro, pelo ex-primeiro-ministro português, José Sócrates, solto da cadeia há pouco tempo, acusado na Operação Marquês, por crimes de alta corrupção e desvios de dinheiro público . Sócrates criticou a participação do ex-juiz da Lava Jato no Fórum Jurídico de Lisboa e, em entrevista na TV , tachou Moro de “ativista político disfarçado de juiz”. Horas mais tarde, Sérgio Moro, entrevistado na Record TV-Europa, respondeu de forma simples e curta, na definição do Diário de Notícias: “não debato com criminosos”. E seguiu falando sobre a dificuldade do combate aos crimes da grande corrupção, porque “em todo mundo envolve ge nte muito poderosa”.
Bateu outra curiosidade. E pensei: estranho (ou engraçado?) como o eixo internacional de declarações e de notícias, de nossos ministros do STF, outros juristas de monta, de homens de negócios, intelectuais e pensadores da hora, além de políticos em “exílio voluntário”, está mudando de cidade e de continente. De Miami – simbólico paraíso para latinos, nos Estados Unidos, – a migração se desloca para Lisboa. A cidade de partida das naus do Descobrimento “redescoberta”. Não lhe poupam elogios: “Éden dos idosos”, símbolo de modernidade que convive com tradição no velho continente, filão de novas oportunidades de negócios, recheios culturais, boa mesa e tantos mais atrativos para nossos endinheirados viajantes.
A capital portuguesa foi alçada, dia 22, ao cabeçalho do nosso noticiário sobre política e poder. Ali se instalava o 7° Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pelo IDF, faculdade do ministro do STF, Gilmar Mendes, e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ambiente seguramente acolhedor para as falas de Alexandre Moraes, sobre Raquel Dodge e o Ministério Público, e para o ministro anfitrião, em entrevista, dizer ter “encarado com naturalidade” a decisão, do colega do STF, de retirar do ar reportagem com citação ao presidente da corte, Dias Toffoli.
Em Salvador, a ex-ministra corregedora do STJ, Eliana Calmon foi direto ao ponto, ao responder aos jornalistas (Osvaldo Lyra e Paulo Roberto Sampaio), em entrevista publicada na Tribuna da Bahia, na mesma data do começo do Fórum de Lisboa, curiosos em saber como ela vê essa crise, entre o Supremo e o Ministério Público: “Vejo com muita preocupação. Porque eu nunca vi o Supremo tão exposto como está agora”.
Raquel Dodge, em seu estilo de quem não está para brincadeira, foi sintética e firme ao comentar as declarações de Moraes : “A PGR se manifestará no momento oportuno”. Ponto.
Vitor Hugo Soares é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja