DIOGO BERCITO - Folha de São Paulo
Com a recente retomada das negociações entre o Mercosul e a União Europeia, o governo espanhol avalia que a gestão do presidente Michel Temer facilitará um acordo de livre-comércio entre os dois blocos econômicos.
A Presidência de Mauricio Macri na Argentina também contribuiria a esse cenário.
"Houve um salto muito importante, e para melhor, na relação entre Espanha e Brasil", disse à Folha Jaime García-Legaz, secretário de Estado de Comércio espanhol.
"Isso permite que, no plano político, possa haver um avanço mais rápido."
O pulo é significativo porque a Espanha é um dos principais defensores do acordo entre Mercosul e União Europeia, em oposição, por exemplo, à França.
O premiê espanhol, Mariano Rajoy, que não tinha relações estreitas com o PT, tem se aproximado de Temer. Ambos se reuniram na China, durante a cúpula do G20, e Temer foi convidado para uma visita oficial à Espanha.
"Os governos anteriores [do Brasil e da Argentina] eram mais relutantes e viam esse acordo com menos entusiasmo", afirma García-Legaz. "A mudança política foi o fator determinante"
O secretário esteve em Brasília em setembro e reuniu-se com o chanceler José Serra, de quem recebeu "respaldo absoluto" em "uma reunião de mais de uma hora e meia". "A mensagem de Serra foi muito clara: esse acordo é fundamental", diz.
García-Legaz diz também que o governo espanhol percebe um novo momento não apenas político, mas também empresarial na América Latina, facilitando acordos.
HISTÓRICO
Houve intensa negociação entre UE e Mercosul de 1999 a 2004 pelo acordo comercial, mas ela ficou paralisada nos anos seguintes devido às resistências argentina e do setor agrícola europeu.
As discussões foram agora retomadas, com uma primeira rodada neste mês, e a previsões de um encontro em Buenos Aires em março.
As expectativas de ganhos são altas, afirma García-Legaz. Hoje as exportações espanholas para Portugal são quase três vezes maiores do que para todo o Mercosul.
O secretário de Estado culpa os entraves e barreiras comerciais, que poderiam ser suavizados pelo acordo.
O governo espanhol espera que as negociações tenham resultado até o final de 2017. Nesse processo, no entanto, haverá resistência por parte da França. "Há setores mais receosos, como o agrário", diz García-Legaz.
Há também dificuldades com a opinião pública. O tratado entre UE e EUA, por exemplo, enfrenta forte oposição no continente.