O número mais extraordinário do teatro da existência é aquele que a pessoa se dispõe a executar no instante em que é excluída do espetáculo. Em conversa com dez repórteres, Dilma Rousseff disse que colocará em cartaz um “pacto”. Alguém indagou: se perder a batalha do impeachment aceitará participar de um pacto? Eis que, de repente, baixou em Dilma a luz que costuma brilhar quando alguém tropeça no óbvio: “Se eu perder, estou fora do baralho.”
Há duas semanas, Dilma perseguia um par de objetivos estratégicos: não cair e fingir que ainda dava as cartas. Agora, já não consegue simular as aparências mínimas do poder. E reconhece que pode ter virado uma Rainha de Copas descartável. Seu conglomerado partidário derreteu em escassos 15 dias. Começou a se dissolver em 29 de fevereiro, quando o PMDB desligou-a da tomada. E se liquefez nas últimas 48 horas, depois que o pedido de impeachment foi aprovado na comissão especial que o analisava.
Primeiro, o PP declarou-se pró impechment. Na sequência, vieram o PSD e o PTB. No PR, as defecções já roçam os 60%. Nesse contexto, o anúncio do PDT de que permaneceria ao lado de Dilma serviu apenas para oferecer um parâmetro capaz de reforçar a impressão de derretimento. Nesta quinta-feira, reúne-se na Câmara a bancada do PMDB. Os correligionários de Michel Temer perseguem algo que se aproxime da unanimidade anti-Dilma.
Na entrevista que saiu pela culatra, Dilma queixou-se da imprensa. Talvez devesse considerar a hipótese de modificar seus hábitos de leitura. Ao percorrer os jornais do dia, em vez de desperdiçar o seu tempo nas editorias de política e de polícia, poderia concentrar-se na seção de empregos. Até auxiliares próximos da presidente reconhecem, sob reserva, que cresceram as chances de a presidente ser enviada para o olho da rua.