Os trabalhadores de sindicatos filiados à Federação Única dos Petroleiros (FUP) iniciaram greve por tempo indeterminado neste domingo. A paralisação — contra a venda de ativos e a redução de investimentos da Petrobras — prevê a diminuição da produção de petróleo e gás na Bacia de Campos, no Norte Fluminense, que representa mais de 70% da produção do país.
A FUP concentra 13 sindicatos, que representariam cerca de 70% da força de trabalho da Petrobras. A paralisação foi iniciada às 15h de hoje. Nas plataformas de petróleo da Bacia de Campos, porém, ela está prevista para começar às 19h, quando ocorre a troca de turno dos trabalhadores, segundo Marcos Brêda, coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro NF).
As reivindicações da FUP, reunidas em documento intitulado “Pauta pelo Brasil”, exigem a conclusão das obras do Comperj (RJ) e da refinaria Abreu e Lima (PE), paradas por causa das investigações da operação Lava-Jato e do problema financeiro enfrentado pela Petrobras. Os petroleiros também querem impedir que a estatal siga em frente com o seu plano de redução de investimentos e de venda de ativos.
Apresentado em junho, o mais recente plano de negócios da Petrobras prevê investimentos US$ 130,3 bilhões até 2019, 37% menos do que o plano anterior previa. A companhia planeja ainda vender US$ 15 bilhões em ativos até 2016, incluindo 49% da BR Distribuidora.
— Com o cenário pelo qual passa o setor, com o barril de petróleo custando menos de US$ 50 e uma oferta de US$ 1 trilhão em ativos pelo mundo, acreditamos que este não é o momento de vender ativos. Cerca de metade da dívida da Petrobras vence a partir de 2020. Por que tanta pressa? Se vender agora, ela vai vender barato — afirmou José Maria Rangel, coordenador-geral da FUP, que também reivindica uma nova política de segurança da empresa, que já teria registrado 19 mortes no ano, segundo ele.
Os trabalhadores não estão fazendo exigências de aumento salarial.
— A questão do reajuste está em segundo plano neste momento — disse Rangel.
OBJETIVO DOS GREVISTAS É REDUZIR PRODUÇÃO AO MÍNIMO EM CAMPOS
De acordo com Marcos Brêda, do Sindipetro NF, o objetivo dos grevistas é reduzir ao mínimo possível a produção das plataformas da Bacia de Campos. A região tem cerca de 50 plataformas, com aproximadamente 22 mil trabalhadores que atuam embarcados.
— Nossa indicação é de que as plataformas produzam o mínimo para seguir funcionando, uma vez que algumas delas precisam gerar a própria energia para se manter. Mas vamos fazer um monitoramento constante do nível de produção. Se for necessário, vamos subi-lo para evitar consequências no desabastecimento da população, sobretudo na produção de gás — contou o sindicalista.
Para Brêda, porém, nem todas as plataformas devem ser afetadas.
— Há uma dificuldade para atingir todas as unidades porque a Petrobras costuma colocar equipes de contingência. São empregados da próprios da empresa mas de cargo de coordenação e supervisão, que não estão no dia a dia da operação. Vamos denunciar essa prática ao Ministério Público do Trabalho por causa do risco de segurança ao qual ela expõe os trabalhadores — acrescentou.
OUTRA FEDERAÇÃO, FNP, TAMBÉM ESTÁ EM GREVE
De acordo com coordenador-geral da FUP, a greve foi decidida depois de representantes da Petrobras terem faltado, na quinta-feira, a uma audiência realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
— A Petrobras coloca em prática políticas antissindicais que condenamos. Na gestão de Aldemir Bendine (presidente da Petrobras desde fevereiro), não há diálogo. Nas gestões anteriores, por mais que houvesse momentos de tensão, o diálogo existia. Entregamos à empresa uma carta de reivindicações em 7 de julho e ela levou cem dias para nos responder, o que fez de maneira superficial. Isso demonstra um total desrespeito.
Na quinta-feira, também haviam entrado em greve trabalhadores ligados a outra federação sindical, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que congrega cinco sindicatos e mais de 40 mil petroleiros. A paralisação atingiu oito estados (Rio, São Paulo, Sergipe, Alagoas, Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá). A greve também protesta contra o plano de venda de ativos da Petrobras. A empresa, porém, disse que a produção não foi afetada.
Segundo o site da FNP, as negociações com a Petrobras foram interrompidas na sexta, e a greve seguiu pelo fim de semana.
PETROBRAS DESCARTA REDUÇÃO NA PRODUÇÃO
Em nota, a Petrobras disse “que não há prejuízos à produção ou ao abastecimento do mercado” por causa das greves. Quanto às reivindicações dos trabalhadores, a empresa não mencionou às questões sobre a retomada de investimentos. Disse apenas que “está disposta a discutir as cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) na mesa de negociação.”
“A apresentação da nova proposta econômica na última quarta-feira — 8,11% de reajuste nas tabelas salariais — e a proposição de detalhar as cláusulas do ACT em reuniões acordadas com os sindicatos reforçam esse compromisso”, acrescentou.