Mercado chinês não será passageiro
É quase 40% das vendas ao exterior
O preço da arroba do boi subiu nas alturas. Razão: o Brasil está sofrendo um ataque de demanda externa. Os chineses descobriram o gosto da nossa picanha. Há alguns meses o mercado se aqueceu. De setembro para cá, houve elevação média de 30% no preço de compra do frigorífico. Segundo a conceituada Scot Consultoria, uma alta desta magnitude jamais havia sido registrada.
Nesta 2ª feira (25.nov), a arroba (@=15 Kg) do boi gordo bateu em US$ 54,30, aproximando-se da remuneração do mercado norte-americano (US$ 60 /@) e australiano (US$ 59/@). Houve, na verdade, uma recuperação dos preços na pecuária nacional, defasados desde 2011.
Aumentou, por decorrência, o preço da carne bovina no mercado interno. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), houve uma subida média de 4,2% na segunda quadrissemana de novembro (acumulado em 30 dias). O IBGE estima 3,08% na prévia da inflação oficial de novembro.
Se, por um lado, a alta de preços poderá fazer o mercado interno se retrair, por outro lado o mercado externo, puxado agora pela China, impulsionará a pecuária brasileira.
Três importantes razões, estruturais, obrigaram a China a se tornar uma grande compradora mundial de alimentos:
- O crescimento impressionante do produto nacional (PIB) e, consequentemente, da sua renda per capita. Esta, que define o poder aquisitivo da população, cresceu 8% ao ano, nos últimos 30 anos. Estima-se que 600 milhões de pessoas tenham deixado a linha de pobreza na China.
- A migração populacional interna, do campo rumo à cidade. Até 1996, a China era predominantemente agrícola; desde então, fala-se que mais de 300 milhões de pessoas mudaram-se da zona rural para os centros urbanos.
- A limitação da produção agrícola interna. O território chinês (9,6 milhões de Km²) é um pouco maior que o brasileiro (8,5 milhões de Km²), mas suas terras aráveis são menores que as do Brasil; frente à população chinesa, sabidamente, muito maior.
Resultado: a China, que se urbaniza rapidamente, somente consegue assegurar sua segurança alimentar comprando comida do exterior.
Num caminho de solução, adquire matéria-prima para transformar em rações, destinadas aos seus rebanhos, de suínos, aves e peixes. Em 2018, os portos da China foram o destino de 80% da soja brasileira.
Noutra via, descobriu a vantagem da carne bovina in natura. Uma razão conjuntural a empurrou para essa delícia: o recente, e terrível, surto de peste suína. Milhões de porcos foram sacrificados em toda a Ásia, escasseando o mercado. O beef brasileiro entrou, inicialmente, para suprir a lacuna da carne suína chinesa.
Tudo indica, porém, que o mercado chinês não será passageiro. Isto porque a autônoma Hong Kong já tem sido, há anos, um tradicional mercado para a boiada nacional, servindo como porta de entrada para a China continental.
Face aos recentes acordos sanitários firmados entre os governos, a China passou a voraz compradora, direta, da carne bovina brasileira. Hoje, Hong Kong e China já respondem por quase 40% das nossas vendas ao exterior.
Os chineses estão adorando o beef. E se continuar nessa toada, a pecuária nacional se expandirá elevando as exportações, mas sem prejudicar o mercado interno que, afinal, ainda é o destino de 80% dos abates.
Barata –se comparada aos concorrentes australianos e norte-americanos– e com qualidade e sabor, pois vem de gado criado a pasto e terminado no confinamento, a carne bovina verde-amarela está, definitivamente, conquistando o mundo.
Os vegetarianos que me desculpem, mas ninguém resiste ao churrasco brasileiro.
Poder360