domingo, 1 de outubro de 2017

Profissionais com mais de 45 anos investem em cursos no exterior

Depois de 15 anos trabalhando numa multinacional de eletroportáteis, o gerente de vendas Elcio Teixeira, 56, virou um dos 13,3 milhões de desempregados do Brasil em março deste ano.
Antes de procurar uma recolocação profissional, Teixeira foi atrás de deixar o currículo mais atrativo aos olhos dos selecionadores.
Com o dinheiro da rescisão contratual, ele embarcou no fim de abril para um intercâmbio de três meses em Vancouver, no Canadá.
Queria aprimorar o inglês e ter aulas centradas em sua área de atuação, como negócios e marketing.
"Depois que voltei, já fiz duas entrevistas de emprego. Também me sinto confiante para me candidatar a vagas que pedem inglês fluente", afirma ele, que investiu cerca de R$ 30 mil, entre cursos, passagens, hospedagem e alimentação.
CRESCE A PROCURA
Na agência Experimento, onde Teixeira fechou o seu pacote de intercâmbio, houve um crescimento de 40% na demanda por cursos voltados para pessoas acima de 45 anos no último semestre em relação ao mesmo período do ano passado.
No STB (Student Travel Bureau), o aumento da procura por intercâmbio entre pessoas de 45 a 55 anos foi de 33% no primeiro trimestre de 2017, em comparação com os três primeiros meses de 2016.
No geral, considerando todas as idades, o Brasil mandou 12% mais estudantes para o exterior em 2016 do que no ano anterior, de acordo com os dados mais recentes da Belta (associação das agências de intercâmbio).
"O intercâmbio é anticíclico, ele cresce na crise", diz Santuza Bicalho, diretora de produtos da Experimento.
"Se uma pessoa recebe indenização numa demissão, ela investe nela própria. É uma oportunidade para quem não tem uma experiência acadêmica internacional", afirma Bicalho.
Os programas destinados a pessoas com mais de 45 anos se diferem daqueles para adolescentes, a começar pela duração do curso.
Enquanto os mais jovens costumam passar semestres inteiros em outro país, os viajantes mais experientes escolherem períodos mais curtos.
Patricia Stavis/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 27-09-2017: Patricia Garbin, advogada, 47 anos, ficou dois meses no Canadá, para pauta sobre intercâmbio após os 45 anos de idade. (Foto: Patricia Stavis/Folhapress, Sup. Empregos ) Co´digo do Foto´grafo: 1538 DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Patricia Garbin, 47, advogada que foi estudar em Toronto, em sua casa em São Paulo
SEM 'ADOÇÃO'
No ano passado, entre um emprego e outro, a advogada Patricia Garbin, 47, ficou dois meses no Canadá, destino favorito dos intercambistas brasileiros, independentemente da idade, de acordo com pesquisa da Belta.
"É um país multicultural e receptivo para o estrangeiro, recebe pessoas do mundo todo. A outra opção seria Inglaterra, mas sairia muito mais caro do que no Canadá", afirma Garbin, que comprou o pacote pelo STB e gastou 6.000 dólares canadenses (cerca de R$ 15 mil) com tudo, exceto a passagem aérea. "O mais caro é a hospedagem", conta ela.
A advogada optou por ficar numa espécie de pensão em Toronto, uma casa grande, com vários quartos individuais, onde ela compartilhava sala, cozinha e lavanderia, mas dormia sozinha e tinha um banheiro próprio.
"Escolher bem o local é importante. Conheci pessoas que foram para casas de famílias achando que seriam 'adotadas' e se frustraram. Para quem recebe, é apenas uma relação comercial."
TROCA DE FAMÍLIA
Foi o que aconteceu com Teixeira. Ao chegar ao Canadá, ficou na casa de um casal de imigrantes filipinos que mal conversavam com ele.
"Tinha a expectativa de criação de laços, almoçando e jantando juntos todos os dias. Isso não ocorreu", diz o gerente de vendas, que trocou de família anfitriã no meio da viagem e foi para a casa de um nigeriano e de uma paquistanesa, casal mais aberto para trocas de experiências. "Com eles, fiz até churrasco", lembra.
ÁREA PROFISSIONAL
Além de aulas do idioma escolhido -o inglês é o número um-, os programas de intercâmbio para pessoas acima de 45 anos incluem cursos voltados à carreira do profissional.
"Os mais procurados são de negócios, finanças, recursos humanos, marketing, design e moda", diz José Carlos Hauer Santos Junior, presidente do STB (Student Travel Bureau).
"Quanto mais conhecimento de inglês tiver, mais a pessoa aproveitará. Se não, é preciso ficar um período estudando a língua para só depois começar atividades com foco na profissão."
A gerente de uma indústria de alimentos Sandra Franco, 48, aproveitou as férias de 2014 para estudar durante um mês na Inglaterra.
"Ficava dedicada o dia todo. De manhã, tinha aulas particulares com ex-profissionais de marketing e de vendas.
Eles entendiam o que eu precisava e direcionavam os estudos", conta ela, que aprendeu até regras de etiqueta para reuniões com estrangeiros.
À tarde, havia aulas em grupo, com pessoas de sua faixa etária. "Só tinha gerentes, CEOs e diretores", afirma Franco, que optou por uma escola que separava os jovens dos mais maduros.
O investimento de R$ 35 mil valeu a pena. Ao voltar do curso, foi promovida.
Silvana Barros, consultora de carreira da Randstad, diz que o mercado vê com bons olhos os profissionais que fazem intercâmbio após os 45 anos. "É bem-visto, independentemente da idade. Mostra que a pessoa se mantém interessada."
No entanto, destaca que o programa não é garantia de emprego nem de promoção. "Inglês não é mais diferencial, é pré-requisito em determinadas áreas."
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MALA PRONTA
Como se preparar para estudar fora do país
PASSAPORTE
Programe-se com no mínimo dois meses de antecedência. Alguns países exigem visto
PERFIL
Considere seu objetivo profissional na hora de escolher a escola, já que há uma variação grande de programas e conteúdos
CONTATOS
Opte por turmas só com pessoas mais velhas, isso ajuda a manter o foco e a criar uma rede de contatos
LÍNGUA AFIADA
Se não for fluente no idioma, chegue algumas semanas antes para estudá-lo e só depois começar o curso profissional
DOCE LAR
Para evitar mudanças no meio do curso, pense bem no tipo de hospedagem que prefere -o peso desse item no custo total também é grande. Se for ficar em casa de família, não espere pela criação de laços pessoais
DEDICAÇÃO TOTAL
Prepare-se para estudar por períodos longos. Cursos para mais velhos são mais intensos do que os voltados a jovens
LISTA DE DESEJOS
Elenque as habilidades que quer aprimorar e informe os professores para que eles adaptem as aulas