DIOGO BERCITO - Folha de São Paulo
A preocupação com a questão catalã fez com que o Banco da Espanha emitisse recentemente nota alertando para os riscos ao crescimento do país, que se recupera da severa crise global de 2008.
Essa região, que tem Barcelona como capital, produz o equivalente a 20% do PIB espanhol, que é hoje de US$ 1,2 trilhão. A pujança, reflexo de sua forte indústria e de seu turismo, dá força à tese de que a Catalunha seria mais próspera sozinha.
Mas esse dificilmente seria o caso no curto prazo, no cenário improvável de independência depois do voto, que foi considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional.
A Catalunha teria de deixar a União Europeia e, se quisesse voltar a esse bloco econômico, ir ao fim da fila.
Era ao menos o roteiro previsto para a Escócia, que votou sobre sua separação do Reino Unido em 2014, quando venceu o voto "não".
Fora da União Europeia, a Catalunha perderia todas as vantagens da livre circulação de mercadorias e enfrentaria barreiras à sua exportação para os países europeus.
Mesmo suas relações com o Brasil seriam afetadas.
"A Catalunha seria menos atrativa a investidores brasileiros", diz à Folha Francisco Arbós, diretor da Câmara de Comércio Brasil-Catalunha.
Principalmente se, como tem sido negociado nos últimos anos, a União Europeia finalmente assinasse um tratado de livre comércio com o Mercosul -e a Catalunha ficasse de fora do acordo.
A Catalunha exportou ao Brasil em 2016 o equivalente a € 539 milhões, principalmente em maquinaria e farmacêuticos. O valor corresponde a 24% das exportações espanholas ao Brasil.
No sentido inverso, a região catalã importou do Brasil, também em 2016, o equivalente a € 937 milhões. Soja e café são os principais produtos.
RISCO
A preocupação com a questão catalã fez com que o Banco da Espanha emitisse recentemente nota alertando para os riscos ao crescimento do país, que se recupera da severa crise global de 2008.
O PIB (produto interno bruto) espanhol cresceu 3,2% em 2016, mas o desemprego ainda é alto: 17,6%.
A opinião do banco foi reforçada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, que na sexta-feira (29) disse que as tensões entre Madri e Barcelona em torno do plebiscito de independência podem afetar a confiança dos investidores. A agência alertou também que o crescimento da economia poderia ficar debilitado.
A classificação espanhola foi mantida, porém, no nível BBB+. A nota do Brasil é BB, abaixo na escala.