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Eliana Azevedo, 46, e Márcio Fuzaro, 51, não viajaram em 2016, mas neste ano já fecharam pacote de viagem |
FLAVIA LIMA
ANAÏS FERNANDES
PAULO MUZZOLON
Folha de São Paulo
ANAÏS FERNANDES
PAULO MUZZOLON
Folha de São Paulo
A queda histórica da inflação e a lenta recuperação do mercado de trabalho estão produzindo um duplo efeito sobre a economia. Isoladamente, criam pequenos ganhos extras, dando alívio para o orçamento familiar. Mas, somados, os valores, ainda que irrisórios e liberados a conta-gotas, estão movendo o consumo e tirando o país da recessão.
No trimestre que se encerrou em agosto, a renda média das pessoas ocupadas, descontada a inflação, chegou a R$ 2.105, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em relação a igual período do ano passado, individualmente, é como se cada brasileiro tivesse, na média, R$ 39 a mais no bolso.
O valor é pequeno, mas essa renda extra, combinada com 924 mil pessoas encontrando uma ocupação, geraram um bolo relevante: injetaram R$ 5 bilhões na economia, ainda segundo o IBGE.
Comida mais barata é o principal motor da reação. Em 12 meses, o preço da alimentação no domicílio caiu 5%. Jogou a inflação total para baixo. Sem esse efeito, ela estaria perto do dobro.
Para famílias ou indivíduos que ganham até cerca de R$ 2.300 por mês –2,5 salários mínimos–, a queda no preço dos alimentos representou economia de ao menos R$ 300 nos 12 meses até agosto, de acordo com dados da Tendências Consultoria.
Em março, quando a economia com comida começou a aparecer, o extra era bem menor, de apenas R$ 14.
"Quando se olha isoladamente, o alívio é pequeno no orçamento, mas é ele que tem canalizado recursos para outros produtos", diz João Morais, economista da consultoria Tendências.
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Isadora Brandão e Kadu Lopes, 26, compraram recentemente duas TVs: alívio financeiro |
BAIXA RENDA
O efeito da queda do preços dos alimentos é mais importante para as famílias de baixa renda, que comprometem ao menos 30% do orçamento com a alimentação.
Um exemplo que ilustra bem essa dinâmica é a relação entre o preço da cesta básica e o salário mínimo.
Há um ano, diz o economista Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon, os R$ 880 do salário mínimo compravam uma cesta básica de R$ 701. Sobravam, então, R$ 179. Hoje, com a cesta básica custando R$ 643 e o mínimo em R$ 937, sobram R$ 294 -64% a mais.
As pessoas têm sentido mais confiança para gastar e reorganizar as finanças (veja histórias acima). Mas, como o dinheiro extra ainda é curto e o cenário, impreciso, a volta ao consumo é regrada.
Um site que compara preços, o Zoom, identificou um forte recuo nos valores de produtos da chamada linha branca, como fogão e máquina de lavar. A procura, porém, não reagiu na mesma proporção.
Os preços das geladeiras, por exemplo, caíram cerca de 30% de janeiro a agosto.
No mesmo período, a queda nas vendas foi de 25%. A crise, diz Thiago Flores, diretor do site, ainda impõe certa cautela a muitos consumidores.
Para André Braz, economista do IBRE, da FGV, a folga proporcionada pelos preços dos alimentos só vai deixar de existir quando o valor da comida subir mais do que a inflação -o que ele descarta, ao menos até 2018.
"O preço dos alimentos deve subir alguma coisa no ano que vem, mas não acima da inflação porque as previsões são de clima favorável à produção", diz o economista.