segunda-feira, 23 de outubro de 2017

"Educação: investimento na democracia", por João Amoêdo

Press Association
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Aula de educação infantil


Folha de São Paulo

O investimento na educação básica é primordial para formarmos cidadãos preparados e conscientes que serão determinantes no estabelecimento de uma sociedade harmônica, próspera e sustentável. Este provavelmente é o melhor retorno que podemos ter dos impostos que pagamos: viver em uma nação com baixa criminalidade, com mais oportunidades e maior desenvolvimento tecnológico.

Este salto de qualidade o Brasil ensaia, sem sucesso, há décadas, e só vai realmente se materializar quando a educação for tratada como um ativo da sociedade.

É um trabalho que começa principalmente na primeira infância - período que vai do nascimento aos seis anos —e no qual a criança desenvolve as estruturas básicas de compreensão cerebral, adquirindo as condições mais importantes para o aprendizado. Caso isso não ocorra nesse momento, seu potencial e todas as habilidades mais complexas ficarão comprometidas.

Estudos já demonstraram que o ápice da construção dos circuitos cerebrais responsáveis pelas funções cognitivas ocorre ao redor dos dois anos. Isso significa que o ambiente em que essa criança se desenvolve é diretamente responsável pela capacidade de ela aprender, processar informações, ter atenção, desenvolver a linguagem, comunicar-se, planejar estratégias, resolver problemas e se supervisionar.

Nesse sentido é fundamental que façamos uma revisão da divisão dos gastos em educação pública hoje no Brasil. Os recursos deveriam ser alocados para o ensino básico, ao contrário do que temos hoje, um modelo que privilegia o ensino superior público. Este formato acaba sendo um grande concentrador de renda, pois dada a deficiência do ensino público, básico e fundamental, normalmente apenas os que tiveram recursos para pagar escolas privadas têm acesso ao ensino público superior gratuito. Temos assim os mais pobres pagando a faculdade dos mais ricos.

O Brasil precisa ter a primeira infância como prioritária. Devemos ter creches de qualidade, com professores capacitados, com currículo flexível, com tecnologia disponível e um ambiente estimulante e desafiador. Se não atacar de forma decisiva esse ponto, o governo vai ficar enxugando gelo com os problemas nos ensinos fundamental, médio e superior da próxima geração e não vai melhorar a qualidade de vida das famílias.

A educação básica irá dar oportunidade para o indivíduo conquistar seus objetivos, formar cidadãos plenos e, consequentemente, bons eleitores, que estarão aptos a selecionar representantes competentes e assim perpetuar um ciclo virtuoso.

Em resumo, precisamos reverter o processo que temos hoje e revisar a atual forma de investimento na educação pública no Brasil, priorizando a educação básica em vez do ensino superior. Lembrando que os recursos são sempre escassos.