Adriano Machado - 23.ago.2017/Reuters | |
Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES |
FLAVIA LIMA - Folha de São Paulo
O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, indicou nesta quarta (4) que a antecipação dos R$ 130 bilhões de recursos requeridos pelo governo em 2018 é improvável.
"Não tenho o condão de determinar se uma coisa ocorra ou deixe de ocorrer, mas estou chamando a atenção que uma devolução para 2018 é materialmente muito improvável. Esse recurso não vai estar lá, a não ser que a gente raspasse o fundo do tacho", disse.
Rabello de Castro pontuou, no entanto, que uma "administração prudente do caixa não é ter caixa zero". Além disso, o banco de fomento carregaria recursos de terceiros, como o Fundo Amazônia e os depósitos especiais do PIS/Pasep. Dessa forma, não seria possível olhar para o caixa do banco como se fosse uma disponibilidade.
O economista disse que uma parte dessa devolução foi feita "no checão", mas a parte mais polêmica, disse em referência aos R$ 130 bilhões, não teria como ser paga neste momento.
"A viúva [disse em referência ao governo] nem começou a gastar e já quer se equilibrar. O BNDES não tem tanto cheque assim".
Nos últimos anos, o Tesouro emprestou ao BNDES cerca de R$ 500 bilhões e o banco vem devolvendo esses recursos aos poucos.
Na gestão de Luciano Coutinho foram devolvidos R$ 30 bilhões e, no ano passado, mais R$ 100 bilhões. Neste ano, o banco de fomento vai devolver um total de R$ 50 bilhões ao Tesouro —já devolveu R$ 33 bilhões no último dia 28— e o governo pede mais R$ 130 bilhões no ano que vem.
Rabello de Castro afirmou que a vontade do governo reverter os empréstimos é compreensível.
"O emprestador desistiu e o banco aguenta", disse. "Mas precisamos de tempo para substituir fontes [de financiamento]. Isso é muito bem-vindo, mas precisa ser combinado", disse.
Ele voltou a criticar o teto de gastos e o desequilíbrio das contas públicas e disse que o BNDES acaba constrangido "à medida que olham para o nosso caixinha como se fosse a salvação final para o desequilíbrio".
MAIS PERTO DE JESUS
Em relação à filiação ao PSC, Rabello de Castro tergiversou e disse que é candidato a fazer "o melhor possível no BNDES".
Segundo ele, a filiação partidária indica apenas um movimento "pró-ativo", de "mais um brasileiro se preocupando em não deixar que terceiros não decidam por ele".
Rabello de Castro disse que escolheu o PSC porque "está mais perto de Jesus" e disse se identificar com a plataforma conservadora do partido.
"Sou a favor da vida e da família. Todos os brasileiros somos", afirmou.
JBS
Ressaltando a idade do atual presidente da JBS, Rabello de Castro disse que a nomeação do fundador da companhia para a posição de presidente da companhia tem "toda a cara" de ser uma situação intermediária e que o BNDEs não quer tirar a família do comando, mas passar a compartilhar responsabilidades, como convém a uma governança profissionalizada.
"O senhor José Batista goza do nosso mais amplo respeito. É um senhor que merece consideração", disse.
Ele ponderou, no entanto, que normalmente, um CEO "está mais na faixa de 40 a 50 anos do que 70 a 80".
"Portanto, dentro das características de dinamismo empresarial que precisamos, haveria outras posições, como de chairman emérito, que caberiam melhor à figura do fundador. É isso que o BNDES quer e acho que vai obter rapidamente".
Segundo o economista, é preciso apurar eventuais prejuízos causados pela administração anterior da JBS e ressarcir os minoritários conforme as arbitragens abertas, para que a JBS volte a "brilhar no mercado de carnes".
Questionado se o presidente poderia ser Gilberto Tomazoni, Rabello de Castro disse que "quem resolve isso é o conselho de administração".
O economista negou que queira afastar a família do comando da empresa.
"Queremos que o artigo 159 da Lei das S.As seja respeitado. Aquele que, em situações especiais como a que passa a empresa JBS, abra uma avaliação sobre possíveis prejuízos causados à companhia pelo administrador."
LINHA SEIS LARANJA
Rabello de Castro disse ainda que o grupo japonês Mitsui, que tem uma fatia de 5% no investimento na linha 6-laranja do metrô de São Paulo, estaria disposto a ampliar essa participação.
O grupo poderia substituir outros participantes que enfrentam problemas, como a UTC e a própria Odebrecht.
Segundo Rabello de Castro, o grupo busca um parceiro para compartilhar riscos e estaria próximo de conseguir esse segundo investidor. O BNDES também atuaria.
"O BNDES trabalha para dar a essa futura dupla o conforto que eles merecem e que não tem nada a ver com a operação Lava Jato". Segundo ele, o novo concessionário não teria que responder por um malfeito "que passou longe da casa dele".
O anúncio do novo parceiro deve estar próximo, disse o economista, e o BNDES, como parceiro emprestador, tem interesse em que isso seja resolvido no prazo do contrato, que já sofreu uma extensão.