segunda-feira, 9 de outubro de 2017

"Angela Merkel, líder do Ocidente", por Rodrigo Botero Montoya

Com O Globo


Chanceler alemã teve que ser a porta-voz do Ocidente e assumir a defesa dos valores da democracia liberal

O resultado das eleições para compor o Bundestag (o Parlamento alemão) tem uma importância que transcende as fronteiras da República Federal da Alemanha.
Foi recebido com um suspiro de alívio pelas autoridades de Paris e de Bruxelas. Garante a continuação de estreita relação com a França, a qual, por sua vez, tem implicações favoráveis ao fortalecimento da União Europeia.
Com a perspectiva de iniciar um quarto período no cargo de chanceler, Angela Merkel alcançaria uma trajetória governamental comparável às de Konrad Adenauer e Helmut Kohl.
Seu triunfo eleitoral, embora menos contundente do que teria sido desejável, representa um voto de confiança na gestão que deu à economia e à política exterior da Alemanha.
Sua meta não foi criar uma Europa alemã, mas sim consolidar uma Alemanha europeia.
Sem ter se proposto a isto, e como consequência do isolamento populista da administração Trump, Angela Merkel teve que ser a porta-voz do Ocidente e assumir a defesa dos valores da democracia liberal.
Dada sua aversão ao protagonismo e a vangloriar-se, compartilha essa responsabilidade com Emmanuel Macron, da França, e Justin Trudeau, do Canadá.
Por força dos fatos, dada a dimensão geopolítica da Alemanha e o tamanho de sua economia, a liderança de Merkel será decisiva para impulsionar o projeto de unificação europeia, defender o livre comércio, combater a mudança climática e manter vigente a cooperação para o desenvolvimento.
A decisão anunciada em 2015 de acolher na Alemanha cerca de um milhão de refugiados — provenientes de Síria e outras nações islâmicas — teve um custo interno e foi motivo de desencontros com representantes de governos amigos.
Esta medida foi duramente criticada por Donald Trump durante a campanha presidencial e causou fricções com países do Leste da Europa.
Por ter crescido na República Democrática da Alemanha, sob o regime comunista, Merkel concede um papel prioritário ao império da lei e à luta em defesa dos valores liberais.
Quando Viktor Orban, o dirigente autoritário da Hungria, propôs em uma reunião de cúpula da União Europeia construir um muro para impedir a chegada de refugiados, ela respondeu: “Já vivi durante tempo suficiente atrás de um muro. Isso não é algo que gostaria de voltar a fazer.”
Como resultado de um retrocesso eleitoral, o Partido Social Democrata decidiu se retirar do governo e passar à oposição. Isto vai exigir a formação de uma nova coalizão governamental integrada pelo partido majoritário de centro-direita, CDU-CSU, o Partido Verde, de orientação ecológica, e o Partido Democrático Liberal, de orientação liberal.
Os três partidos concordam em apoiar as diretrizes políticas atuais em favor da União Europeia, a Otan e a cooperação internacional.
Um aspecto preocupante é a chegada ao Bundestag do partido nacionalista xenófobo Alternativa para a Alemanha (AfD). O desafio externo de Angela Merkel será fortalecer a unificação europeia apesar da animosidade de Washington e Moscou
Angela Merkel (Foto: Odd Andersen  / AFP)Angela Merkel (Foto: Odd Andersen / AFP)
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia