segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Ampla vitória legislativa de Macri abre caminho para reformas e reeleição


Presidente Mauricio Macri celebra vitória da aliança governista em eleições legislativas da Argentina Foto: CLAUDIO PERIN / AFP

Janaína Figueiredo - O Globo



BUENOS AIRES — Até pouco tempo atrás, a governabilidade era motivo de preocupação na Argentina. O presidente, Mauricio Macri, foi eleito em 2015 derrotando o até então poderoso kirchnerismo, depois de 13 anos no poder. Foi uma proeza, que surpreendeu ao próprio Macri, porque naquela eleição, além de conquistar a Presidência, o seu partido, Mudemos, derrotou o kirchnerismo na província de Buenos Aires, principal distrito eleitoral do país, com uma candidata, na época, de 43 anos e pouca trajetória política. Passada a euforia inicial, o que veio depois foi o desafio de governar um país mergulhado numa grave recessão econômica, ainda em situação de calote internacional, com um mercado cambial controlado, sem estatísticas públicas confiáveis e obrigado a adotar medidas impopulares de ajuste para começar a equilibrar suas contas. Tudo isso, sem o controle do Parlamento. Resultado: rapidamente, começou a duvidar-se na Argentina sobre as chances de Macri, até mesmo, terminar seu mandato. Cristina_2210
Esse cenário incerto faz hoje parte do passado. As Legislativas de domingo passado transformaram Macri num presidente forte e na garantia de governabilidade do país. Não só já não se fala nos riscos que ele poderia representar. Passou a falar-se, intensamente, em sua possível reeleição em 2019. O chefe de Estado argentino cresceu, seu partido venceu nos principais distritos eleitorais, deixando o peronismo (não somente o kirchnerismo) no que já é considerada uma das crises mais duras de sua História. Macri não terá maioria no Parlamento, mas sim a primeira minoria na Câmara. E, no Senado, ele conseguiu acabar com o controle do peronismo.
A ex-presidente Cristina Kirchner foi eleita senadora, porém, ficou em segundo lugar, o que representa um revés inesperado para quem ainda sonha em voltar à Casa Rosada. Seu discurso pós-derrota foi interessante: destacou a construção, em quatro meses, do que ela considera a principal alternativa de poder ao macrismo, mas admitiu que “não nos alcançou” para vencer.
Cristina será senadora e uma voz de peso na oposição. Mas numa oposição hoje totalmente ofuscada por Macri e seu bem-sucedido partido. O Mudemos venceu em províncias tradicionalmente peronistas. Venceu nas terras natais dos ex-presidentes peronistas Carlos Menem e Néstor Kirchner, La Rioja e Santa Cruz, respectivamente. Foi um furacão político de proporções impressionantes.
Com essa vitória em mãos, o presidente pretende avançar com reformas profundas, entre elas do sistema eleitoral, do mercado de trabalho e, talvez, uma tributária. O tempo dirá se as reformas farão de Macri um chefe de Estado ainda mais popular, ou não. O presidente tem dois anos pela frente para consolidar uma base de poder que hoje é majoritária na Argentina. Os fantasmas da ingovernabilidade foram afastados.