quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Abraçado ao gambá, PSDB foge do mau cheiro

Com Blog do Josias - UOL


Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati passou a defender a saída de Aécio Neves do comando da legenda. “Eu acho que ele não tem mais condições, dentro das circunstâncias, de ficar na presidência do partido”, disse Tasso nesta quarta-feira. “Precisamos ter uma solução definitiva, e não provisória. Não tem mais condições.” Heimmmm?!?!?
Na véspera, Tasso e todos os tucanos presentes à sessão do Senado posicionaram-se a favor de Aécio na votação que devolveu ao correligionário o mandato que o Supremo Tribunal Federal havia congelado. Quer dizer: depois de impor aos brasileiros o retorno de Aécio à ribalta, o tucanato quer se livrar do companheiro tóxico, renunciando-o de uma presidência partidária da qual já está licenciado.
Submetido ao paradoxo, Tasso disse que a decisão do Senado foi “mal interpretada”. Hã?!? “No meu entender, é dar ao senador Aécio o que ele não teve até agora, que foi o direito de defesa.” Conversa fiada. Afastado do mandato, Aécio conservava intactos os direitos de investigado. O que lhe falta não é direito de defesa, mas a própria defesa. Os R$ 2 milhões recebidos da JBS em malas e mochilas transformaram o príncipe do tucanato num sapo indefeso.
“Agora, aqui, no próprio Senado, ele vai ter o Conselho de Ética. E, no Conselho de Ética, vai ter que se defender”, acrescentou Tasso. Lorota. Aécio já teve a chance de enfrentar de fronte alta um primeiro pedido de cassação do seu mandato. Preferiu a fuga. Aliou-se à fina flor do arcaísmo para obter o arquivamento da representação no Conselho de Ética. Acossado por uma segunda peça, nada faz supor que adotará comportamento distinto.
“Ao mesmo tempo, o julgamento no Supremo continua”, prosseguiu Tasso. “E, no Supremo também ele vai ter o direito de apresentar sua defesa.” Lero-lero. Se Tasso estivesse preocupado com os rumos do processo, teria votado não a favor de Aécio, mas da manutenção da decisão da Primeira Turma da Suprema Corte. O afastamento de Aécio não prejudicava a defesa. Ao contrário, era um estímulo para que o investigado priorizasse a busca de explicações que ainda não foi capaz de apresentar.
Devolvido ao Senado como se nada tivesse sido descoberto sobre ele, Aécio ganha outra prioridade: conspirar contra qualquer iniciativa que se pareceça com um esforço anticorrupção. Vale a pena, a propósito, recordar um trecho do diálogo vadio que o senador tucano manteve com o delator Joesley Batista, da JBS:
— Aécio: Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade.
— Joesley: Não vai parar com essa merda?
— Aécio: Cara, nós tamos vendo (…) Primeiro temos dois caras frágeis pra caralho nessa história é o Eunício [Oliveira, presidente do Senado] e o Rodrigo [Maia, presidente da Câmara], o Rodrigo especialmente também, tinha que dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (…) na terça-feira.
— Joesley: Texto do quê?
— Aécio: Não… São duas coisas, primeiro cortar o pra trás (…) de quem doa e de quem recebeu.
— Joesley: E de quem recebeu.
— Aécio: Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O Eunício afirmando que tá com colhão pra votar, nós tamo (sic). Porque o negócio agora não dá para ser mais na surdina, tem que ser o seguinte: todo mundo assinar, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A ideia é votar na… Porque o Rodrigo devolveu aquela tal das Dez Medidas, a gente vai votar naquelas dez… Naquela merda das Dez Medidas toda essa porra. O que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.
— Joesley: Lógico.
— Aécio: O Rodrigo enquanto não chega nele essa merda direto, né?
— Joesley: Todo mundo fica com essa. Não…
— Aécio: E, meio de lado, não, meio de leve, meio de raspão, né, não vou morrer. O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra caralho, tinha que mandar um recado pro Rodrigo, alguém seu, tem que votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô assustando ele, entendeu? Se falar coisa sua aí… forte. Não que isso? Resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade… O que esse Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona por quê? O Eunício não é o Renan.
— Joesley: Já andaram batendo no Eunício aí, né? Já andaram batendo nas coisas do Eunício, negócio da empresa dele, não sei o quê.
— Aécio: Ontem até… Eu voltei com o Michel ontem, só eu e o Michel, pra saber também se o cara vai bancar, entendeu? Diz que banca, porque tem que sancionar essa merda, imagina bota cara.
— Joesley: E aí ele chega lá e amarela.
— Aécio: Aí o povo vai pra rua e ele amarela. Apesar que a turma no torno dele, o Moreira [Franco], esse povo, o próprio [Eliseu] Padilha não vai deixar escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do Eunício.
(…)
— Joesley: Esse é bom?
— Aécio: Tá na cadeira (…). O ministro [da Justiça] é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair. Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (…). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro João.
— Joesley: Pro João.
— Aécio: É. O Aécio vai pro Zé (…)
(…)
— Aécio: Tem que tirar esse cara.
— Joesley: É, pô. Esse cara já era. Tá doido.
— Aécio: E o motivo igual a esse?
— Joesley: Claro. Criou o clima.
— Aécio: É ele próprio já estava até preparado para sair.
— Joesley: Claro. Criou o clima.
Difícil saber o que é maior, se a desfaçatez ou a insensatez. Ao pregar a saída de Aécio da presidência do PSDB um dia depois de ter votado a favor do retorno dele ao Senado, Tasso Jereissati exagera no cinismo. Parece supor que a plateia é feita de bobos. Luta por um partido limpinho ao mesmo tempo que tenta zelar pelo conforto do companheiro enlameado. Ainda não se deu conta. Mas faz o papel do sujeito que tenta fugir do mau cheiro abraçado a um gambá.