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O cientista político Larry Diamond concede palestra em São Paulo sobre o declínio da democracia |
IVAN MARTÍNEZ-VARGAS - Folha de São Paulo
O panorama atual da democracia e suas perspectivas no curto e médio prazos não são nada bons, diz o cientista político americano Larry Diamond, professor da Universidade Stanford.
Para ele, populismos e posições extremistas à direita e à esquerda têm ganhado força como resultado do descrédito dos regimes democráticos ao redor do mundo, que falham em temas como responsabilidade dos agentes públicos e respeito à lei.
O caminho, diz o americano, passa por aprofundar as instituições e fazer com que regimes democráticos consigam ir além da transparência nas eleições e possam, também, assegurar justiça social e representatividade.
Diamond esteve no Brasil na semana passada para uma série de eventos de lançamento da "Coletânea da Democracia", obra editada pelo Instituto Atuação e que inclui textos de sua autoria.
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Folha - O sr. diz que vivemos numa recessão da democracia no mundo. O que o leva a fazer essa afirmação?
Larry Diamond - Nos últimos dez anos, a democracia no mundo começou a cair, de acordo com medições como a da [ONG] Freedom House. E os regimes autoritários projetam hoje uma autoconfiança maior que no passado.
Os fatores comuns mais visíveis nos casos de retração da democracia são má governança, corrupção e abuso de poder. Isso faz com que a população perca a fé na democracia. Uma justiça que falha em identificar e punir abusos também piora a situação.
Quais as perspectivas para a democracia no mundo?
Há um desejo humano natural de ter liberdade, dignidade, seus direitos protegidos. São coisas difíceis de se garantir em um regime autoritário. Por isso, não acredito que esses regimes serão bem-sucedidos no longo prazo.
Mas democracia precisa governar bem, ter boa performance tanto no campo econômico quanto na hora de atingir objetivos que a população demanda em temas como a responsabilidade de agentes públicos e respeito às leis. É aí que há falhas hoje em dia.
Mas até que ponto esse ceticismo com a política leva à escolha de caminhos alternativos e não comprometidos com a democracia?
Isso tem levado populações a optarem por líderes populistas e alternativas autoritárias que representam risco à democracia. Isso ocorreu nas Filipinas, no ano passado, e há crescente apoio a essas alternativas na Europa.
O sr. classifica líderes como Putin, Maduro, Le Pen e Trump como populistas. O que define um populista?
Populista é alguém que faz apelos diretos à população sem mediação de instituições como partidos, o congresso e a imprensa. Busca ter uma relação direta com a massa. Todos os movimentos populistas, à esquerda e à direita, não toleram a divergência.
Há hoje no Brasil um sentimento de desilusão com o sistema político e com os políticos em geral no país. Quais os riscos dessa situação?
Esse tipo de caso, em que há a baixa eficiência do sistema democrático em resolver problemas, tem ajudado a eleger populistas no mundo. Seria difícil descartar a possibilidade de que isso possa ocorrer no Brasil.
O sr. afirma que regimes autoritários hoje são mais resilientes, mas coloca em dúvida a estabilidade do regime chinês. Por quê?
O capitalismo crônico tem deixado marcas na China. Há ali uma corrupção massiva que leva a distorções econômicas que a tornam mais vulnerável a crises econômicas. Isso pode minar a estabilidade do regime.
Além disso, o desenvolvimento econômico tende a aumentar níveis de educação e informação, levando a mais contestação. Para permanecer estável, o sistema precisa se adaptar e permitir algum grau de pluralismo.