Mariana Sanches - O Globo
Mônica Moura era conhecida pelo jogo de cintura com Dilma durante a campanha
Um “trator”, um “cavalo”. As definições, dadas pelos colegas de profissão, destoam da figura tranquila que mascava chiclete com displicência e ostentava um sorriso largo de batom rosado à porta do IML em Curitiba, horas depois de ser presa no âmbito da Operação Lava-Jato. Mônica Moura, casada com o marqueteiro do PT João Santana, é a junção da sorridente mulher cujos traços não traem seus 54 anos e uma profissional incansável, que ajudou a viabilizar a milionária carreira do marido no marketing político.
— A Mônica sempre foi uma peça-chave em campanhas eleitorais, ambientes tensos por definição já que confinam egos gigantes. Ela contemporiza, acalma os ânimos, trabalha muito sem reclamar e sempre consegue produzir até o impossível. No caso das campanhas da Dilma, que é uma pessoa difícil de lidar, ela era muito necessária para intermediar a relação com o João, que é bem esquentadinho. Conseguia falar com a Dilma sobre moda, tranquilizá-la e assim a mulher acabava topando todas as ideias do João — relata um publicitário baiano que trabalhou com ela por anos.
Mônica nasceu em Feira de Santana, na Bahia — o que explica o apelido de “Feira” que lhe foi dado por operadores do esquema de corrupção da Petrobras segundo a Polícia Federal —, e foi em Salvador, na faculdade de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia, aos 17 anos, que conheceu Santana. Naquele momento, Mônica era caloura, João já era um jornalista bem-sucedido, e o caminho dos dois não se cruzou definitivamente. O marqueteiro, que se diz adepto a “monogamias sucessivas”, como explicou ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho, na biografia “João Santana, um marqueteiro no poder”, reencontrou Mônica apenas seis matrimônios mais tarde. O casal tem dois filhos cada um, frutos de relacionamentos anteriores.
CASAMENTO E NEGÓCIOS
Além de sétima mulher de Santana, Mônica se tornou uma espécie de superassessora do marido. O casamento coincide com a expansão do trabalho no exterior do marqueteiro, para o qual o senso prático de Mônica foi fundamental. Nas palavras de um amigo do casal, ela “passou a cuidar dos detalhes tão pequenos de nós dois” depois que eles se casaram, em 1999. Coube a Mônica lidar com questões administrativas, burocracias, relação com cliente e imprensa e organização da empresa Pólis Propaganda, que ela e o marido criaram em sociedade em 2002 — tarefas que Santana sempre abominou. Do recebimento de valores milionários à organização de um prosaico encontro entre João Santana e os antigos parceiros da banda de juventude Bendegó, da coordenação de campanhas estrangeiras a problemas das ex-mulheres do marqueteiro, Mônica tomava a frente em todas as situações. Acordava de madrugada para ouvir os estalos criativos do marido e foi a maior entusiasta para que ele lançasse sua frustrada carreira como escritor, com o romance erótico “Aquele sol negro azulado”, dedicado a ela: “Para Mônica, que ressuscitou esse livro. Amor”. O contrato tácito do casal era de que Mônica cuidaria de tudo para que João ficasse livre para usar sua criatividade, que geraria lucro formidável aos dois.
— É real que só ela cuidava da contabilidade e da administração, assuntos pelos quais o João nunca se interessou. Duvido mesmo que ele soubesse o nome dos pagadores — afirma um político baiano que já foi cliente do casal.
Em depoimento à Polícia Federal, Mônica assumiu sozinha a responsabilidade pelos problemas contábeis do casal, admitiu sonegação fiscal por não ter declarado conta no exterior e reconheceu que pagamentos feitos em dólares pela Odebrecht eram recurso não contabilizado de campanhas do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e do mandatário de Angola, José Eduardo dos Santos. Mônica disse que o casal recebia recursos de caixa 2 apenas quando os clientes exigiam tal condição. Já o marqueteiro negou aos investigadores saber até mesmo quanto dinheiro tinha nas contas. Os procuradores da Lava-Jato, no entanto, desconfiam que Santana tenha sido remunerado pelo trabalho nas campanhas de Dilma e Lula com dinheiro de propina desviado de contratos da Petrobras por políticos e empreiteiras. Mônica e Santana negam.
Quando não estavam à frente de campanhas, Mônica e Santana evitavam frequentar a alta sociedade baiana e gostavam de passar períodos em sua casa num condomínio na praia de Interlagos, na Bahia, ou longas temporadas em Nova York, onde têm um apartamento.
Antes da prisão, diante do clima no país, estudavam sair um pouco de cena da política nacional e, quem sabe, retirarem-se para um período sabático. Assim como muitos marqueteiros profissionais, o casal avaliava que a atividade tem sido criminalizada e deixaria de ser tão lucrativa com a mudança da legislação eleitoral que veda doações de empresas. Agora, presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, terão de rever os planos.