O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado em 1967 pelo governo federal para proteger o trabalhador demitido sem justa causa. Com ele, segundo o site oficial do FGTS, o trabalhador tem a oportunidade de formar um patrimônio, sacar para aquisição da casa própria, na aposentadoria e em situações de dificuldades, como demissão sem justa causa e algumas doenças graves.
Em meados de 2000, o governo vendeu um bocado de ações ordinárias da Petrobras para capitalizar a empresa. Por que não permitir o acesso de todos os trabalhadores ao mercado de capitais? Assim foi feito. Foram liberados R$ 3,1 bilhões para a compra das ações, com um desconto de 20%. Cada trabalhador pôde sacar até 50% do seu FGTS e se tornar sócio da Petrobras, uma das maiores e sólidas empresas brasileiras, na época.
Parecia um bom negócio como alternativa à remuneração pífia de TR mais 3% ao ano do FGTS. E foi. Segundo cálculos de analistas, uma aplicação de R$ 10 mil feita em agosto de 2000 valia R$ 160 mil em maio de 2008, auge da cotação das ações da Petrobras no mercado.
O trabalhador podia resgatar a aplicação para realizar esse lucro fantástico? Podia, e o dinheiro voltaria para o FGTS, de onde saiu. Fácil falar agora, quando o futuro da época já virou passado, que era o momento certo para vender.
Naquele momento, muitos acreditaram que tinham descoberto a galinha dos ovos de ouro e que esse ritmo de ganho podia se manter. Não foi bem assim. Quem deixou a oportunidade passar e manteve a posição em Petrobras tem hoje cerca de R$ 18 mil, quase 90% abaixo do valor de 2008. A queda das ações foi tão grande que o trabalhador tem menos do que teria se o dinheiro tivesse ficado no FGTS, R$ 20 mil.
Em 2002 foi feita uma operação semelhante com ações da Vale. Muita gente embarcou nessa onda porque as ações da Petrobras iam de vento em popa. Quem tinha comprado Petro investiu mais dinheiro. Quem não tinha feito nada achou que era a chance de entrar. O preço das ações da Vale também caiu muito, mas o rendimento, por enquanto, ainda é superior ao do FGTS.
LIÇÕES APRENDIDAS
Concentração de risco: trabalhadores, com pouco ou nenhum conhecimento de investimento em renda variável, foram incentivados a comprar ações de duas empresas do mesmo setor de commodities minerais, petróleo e minério de ferro. O preço dessas mercadorias é cotado nas Bolsas internacionais e sofre forte influência de circunstâncias do mercado, como a oferta e demanda.
Aversão a risco: quem já tinha aversão a risco se convenceu de que estava certo e que o mercado de renda variável não é para ele. Quem não tinha agora tem. Os efeitos de experiência tão negativa deixaram marcas profundas. Pouco provável que esse trabalhador volte a investir no mercado de capitais.
Hora de vender: mais difícil que comprar é tomar a decisão, nada simples, de vender. Se estamos ganhando, achamos que o céu é o limite e vamos ganhar cada vez mais. Se estamos perdendo, nos agarramos à esperança de que a ação retorne ao valor de meses ou anos atrás. Razoável seria estabelecer uma expectativa de ganho no momento da compra e sair da posição quando o ganho ocorrer. Se o cenário de perda se apresenta, reavaliar a decisão de compra, analisar os fatos novos que impactaram o preço negativamente e decidir entre manter a posição e aguardar possível recuperação ou realizar a perda e partir para outra.
Ancoragem: vai ser muito difícil para o trabalhador resgatar sua posição nessas duas carteiras por um valor muito menor do que já valeram um dia. O viés de ancoragem sedimentou essa expectativa de valor na mente das pessoas e muitos não farão nada, com a esperança de que as ações recuperem o preço mágico do passado.
Diversificação: uma maneira possível de tentar recuperar parte das perdas é diversificar o risco transferindo o dinheiro para outros fundos da modalidade carteira livre. Eles investem parte dos recursos em renda fixa e o percentual de renda variável é alocado em ações de várias empresas, de setores econômicos distintos. O risco de mercado permanece, mas está diluído; ganhos em algumas ações ajudam a compensar perdas em outras.