Gente que se preocupa com o país e com políticas públicas está uma arara com a presença de tanta gente menor ou até gentinha nesse segundo bloco de ministros de Dilma Rousseff. Mas em que se baseia a ideia de que esse ministério seja pior do que aqueles da estreia ou do encerramento de Dilma 1?
Para quem se revolta com a ruindade particular do ministério 2014, convém lembrar que o ministério 2011, mal havia esquentado nas cadeiras, foi depenado devido a rolos com ministros. O governismo marquetou o vexame como "faxina" de uma equipe nomeada fazia meses pela própria presidente recém-eleita, representante de um governo superpopular e, portanto e a princípio, por cima da carne seca para nomear à vontade.
Essa farsa seria varrida para debaixo do tapete meses depois, em 2012, pois os partidos faxinados ameaçavam rebelião, entre outros motivos por serem tidos como banda podre de um governo do qual eram no entanto unha e carne.
Visto de fora e excetuada a equipe econômica, os gabinetes de Dilma 2 e 1 parecem diferir tanto quanto as escalações da seleção brasileira da Copa do Mundo deste ano.
Com exceção de uma ou outra esperança remota, os nomeados não parecem representar projetos ou agregação de pessoas identificadas a um plano setorial de governo. Um ministério, enfim, é isso: um vice-governo.
Pode bem ser que a presidente tenha outra vez juntado a fome (necessidade de "blindagem" e barganha políticas) com a vontade de comer, sua fantasia centralista e contraproducente de poder e administração. A presidente ainda imaginaria que o governo é ela. Os ministros em geral não passariam de fantoches ou figuras dedicadas a outros negócios; a presidente seria de fato auxiliada por capatazes de segundo escalão, que tocariam o trabalho cotidiano nos ministérios.
Essa poderia ser tanto a descrição do gabinete com o qual Dilma encerrou o primeiro mandato quanto um diagnóstico da equipe que vai assumir daqui a quatro dias.
A indignação de cidadãos honestos e prestantes está um tanto deslocada. O ministério Dilma 2 não poderia ser muito diferente do primeiro porque:
1) Falta outra vez projeto de governo, articulação de interesses sociais a fim de tocar reformas substantivas, com o que seriam necessárias lideranças de peso, "políticas" ou "técnicas", com autonomia para tocar a tarefa. Mas a presidente não faz alianças transformadoras. Parece tão isolada política, social e intelectualmente quanto sempre e tão inclinada ao microgerenciamento como de costume. Sem projeto, nomes de ministros são secundários;
2) A presidente está acuada pelos próprios reveses, com pouco prestígio para queimar. Enfrenta os incêndios que tocou nas contas públicas, na Petrobras ou no setor elétrico, por exemplo. Corre o risco da crise política do Petrolão. Terá de lidar com tudo isso durante mais um ou dois anos de estagnação econômica, desta vez com desgaste social. Caso tivesse algum desejo de renovação, por ora estaria sem autonomia para realizá-lo.
Os nomes, ruins quanto possam ser, parecem apenas consequência dessas injunções, ainda que se entenda a frustração repetida, talvez terminal, com o ministério.