Quando escuto a expressão “política industrial” já tenho calafrios e automaticamente levo a mão ao bolso, num ato involuntário de proteção do meu suado dinheirinho. É que todas as “políticas industriais” costumam partir da premissa equivocada de que o governo deve ser a locomotiva do progresso, e acabam em medidas prejudiciais como protecionismo e subsídios. No governo Dilma não foi diferente. Na verdade, foi pior, pelo grau excessivo de intervencionismo.
O tema de debate no editorial do GLOBO de hoje foi justamente esse, com o jornal condenando a “política industrial” do governo Dilma, e um deputado petista defendendo a “moderna” visão de mundo da “presidenta”. Nem preciso dizer qual dos dois lados tem razão. O contraste é evidente, com o jornal apresentando bons argumentos contra, e o deputado apelando para malabarismos no afã de defender o indefensável. Diz o editorial:
A política, ou estratégia, industrial seguida pela presidente Dilma em seu primeiro governo foi um monumento ao intervencionismo estatal. E por isso não deu certo, como de resto toda sua política econômica, chamada de “nova matriz”, também contaminada pelo mesmo viés ideológico.
[...] O BNDES desengavetou velho programa do governo militar de Ernesto Geisel, e passou a escolher “campeões nacionais”, empresas que teriam de ser grandes em escala internacional. Não deu certo àquela época e não funcionaria agora.
[...] O protecionismo — à parte vulnerabilizar o país na OMC, caso das montadoras de veículos —, impede uma conexão maior da indústria brasileira com grandes cadeias globais de produção. Dessa forma, barra a absorção de tecnologias de ponta, prejudica, portanto, a formação mais apurada da mão de obra, e assim por diante.
A todo este quadro, adicione-se outro erro, o do preconceito contra a iniciativa privada participar de projetos de infraestrutura, equívoco só revisto na parte final do governo. Mas, parece, sem grandes convicções.
As deficiência de infraestrutura e logística passaram, portanto, a atravancar também a indústria. O resultado é que o PIB industrial , em outubro, havia retrocedido 3,4%, em bases anuais. E como previsto, o mercado de trabalho passou a se estreitar: outubro foi o sétimo mês com corte de vagas.
Ao deputado petista Newton Lima, restou a árdua tarefa de “argumentar” que Dilma fez muito bem à indústria nacional, e que sua “política industrial” foi muito “vigorosa”. Para variar, o petista coloca a culpa do resultado terrível nas estrelas, ou seja, sempre fora do país, do governo. É tudo culpa do governo anterior ou do resto do mundo, da tal “crise internacional”.
Estranho: a indústria de outros países mais capitalistas e abertos vai bem, obrigado. Como os leitores já estão até cansados de saber, visitei recentemente Israel, e tive a oportunidade de ver um pouco do que ocorre no primeiro mundo, antes de partir pela peregrinação ao Antigo Testamento. Em Tel Aviv há o que existe de mais moderno em termos de tecnologia. Um Vale do Silício bem ali, ao lado de Jaffa, cidade milenar.
Por que Israel prospera na indústria de tecnologia, a ponto de ser considerada uma “start-up nation“? Seria porque o BNDES deles é mais ativo ainda na seleção dos “campeões nacionais”? Ou seria porque o governo garante ainda mais subsídios e protege as indústrias locais da concorrência “predatória” global? Nada disso, como o leitor adivinhou. Israel tem uma indústria de ponta porque goza de boa educação e um ambiente de ampla liberdade econômica, estimulando a livre concorrência.
É por isso que grandes multinacionais de tecnologia possuem laboratórios de pesquisa em Israel. É por isso que várias inovações conhecidas saíram de lá. Aplicativos como o Waze, que facilitam a vida de tanta gente, foram produzidos em Israel pelo mesmo motivo. E empresas que o leitor jamais ouviu falar (ainda), como IronSource, planejam a abertura de capital para levantar centenas de milhões de dólares e investir em mais progresso e inovação.
Israel, ao contrário do Brasil, tem uma indústria de tecnologia pujante, inserida na era da informação. Aqui, temos um governo que protege as multinacionais automotivas, uma “indústria infante” com 70 anos de idade (o infante mais velho que se tem notícia), e o resultado, além dos carros mais caros do planeta, é a queda violenta na exportação de automóveis, a menor em 12 anos. E o PT ainda celebra tanta mediocridade!
É por isso que vamos ver, de longe, o sucesso industrial de outros países, mais livres e capitalistas, enquanto amargamos a perda de espaço da nossa indústria no mundo global. Alguns grupos vão ganhar muito dinheiro com essa “política industrial”, e o povo vai pagar a conta. É o resultado inexorável do intervencionismo estatal, fruto de uma mentalidade arrogante de quem se julga capaz de controlar a economia de cima para baixo.