Este foi o ano do debate perdido. A economia piorou um pouco a cada dia, as previsões de crescimento murcharam, e as mais pessimistas projeções de déficit fiscal foram suplantadas pela realidade. Por ser época de eleições, 2014 poderia ter sido a oportunidade de discutir os rumos do país, olhar os erros e gargalos com sinceridade e se comprometer com as correções.
Foi impossível conversar a sério sobre os vários dilemas. Como reduzir gastos? Por que o país não cresce? O que está errado na política econômica? De que forma combater a inflação? Como aumentar a poupança e o investimento? Com que armas proteger o país da corrupção?
O governo impediu que o debate ocorresse. Foi dele, a culpa. A oposição tentou de diversas formas. A campanha para a reeleição da presidente Dilma será lembrada como uma violenta estratégia de desqualificar adversários, ideias e programas. E de dissimular a verdade.
Todos os candidatos treinam com seus marqueteiros. É do jogo. Mas a campanha oficial levou as respostas pré-fabricadas a extremos. A presidente negou veementemente os fatos que estavam diante de todos. Algumas agências governamentais aceitaram adiar más notícias.
Perdemos o melhor ano para discutir novos avanços. A vitória do governo não foi ruim, mas sim a vitória construída em cima de mentiras. A inflação está alta demais; o crescimento não tem força; por mais que o BNDES empreste, o investimento não aumenta; o país está perdendo mercados para suas exportações; a maior empresa do país está mergulhada na mais assustadora crise da sua história.
Será demorado tirar a Petrobras da zona de turbulência e ela tem um efeito multiplicador na economia. A empresa está cercada de perigos: as nebulosas transações feitas por alguns dos seus diretores e gerentes, as dúvidas dos investidores, o risco do rebaixamento, o endividamento muito alto, a queda do preço do petróleo.
Na gestão da água, os governos erraram. Ano de seca grave no Nordeste e Sudeste. Erros foram cometidos pelo governo de São Paulo que, também por razões eleitorais, deixou de tomar as medidas sensatas que o momento exigia. Preferiu ir buscando água cada vez mais fundo, em vez de assumir o racionamento.
Os reservatórios das hidrelétricas baixaram durante todo o ano, e o governo preferiu também adiar as medidas necessárias de racionamento. Se adotado em tempo, menor risco haveria no futuro. Chega-se ao fim do ano com menos água em reservatórios do que no ano do apagão. Se houvesse indução à redução do consumo, haveria menos necessidade de uso das térmicas e, portanto, menor seria a conta a ser paga pelos consumidores em 2015.
O mundo está instável e com um crescimento desigual. Estados Unidos em recuperação forte, e a Europa, sofrendo os efeitos das punições que ela mesma aplicou ao governo da Rússia. Moscou, por sua vez, continuou na sua aventura bélica que lhe custou a desordem em que está neste momento, com recessão, inflação, desabastecimento e fuga de capitais. Nossos vizinhos maiores da América do Sul aprofundaram seus erros e receberam uma conta amarga. Rússia, Argentina e Venezuela provaram que, em economia, aqui se faz, aqui se paga. Não foi o pior ano da crise que começou em 2008 e não explica a nossa conjuntura. Perdeu-se a chance de discutir que tipo de relação queremos ter com o mundo.
Na democracia, o debate direto que permite correção dos erros e novos avanços deveria ser a regra em eleições. Não foi possível, desta vez, mas recomeçar sempre dá esperança. Por isso, Feliz Ano Novo para todos nós.