O homem acusava Joaquim Barbosa de desonrar o Judiciário!
Não basta nomear para o ministério da Defesa o governador (Jaques Wagner) de um dos estados mais violentos do Brasil (a Bahia). Não basta nomear para o ministério do Esporte um ex-deputado federal (George Hilton) expulso do PFL em 2005 por ter sido flagrado no aeroporto de Belo Horizonte com onze malas de dinheiro com cerca de 600 mil reais que seriam provenientes de doações de membros da Igreja Universal do Reino de Deus. Não.
Foi preciso, também, presentear o mensaleiro José Dirceu com a nomeação para o ministério das Comunicações de seu fiel defensor Ricardo Berzoini, o presidente do PT quando estourou o caso dos aloprados em 2006, cuja operação passou por ele, e que trouxe para o cargo de tesoureiro do partido em 2005 no lugar do mensaleiro Delúbio Soares o sindicalista João Vaccari Neto, hoje enrolado com o caso Bancoop e apontado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa como um dos destinatários dos recursos desviados dos cofres da Petrobras.
A coluna Esplanada noticiou que, antes das férias de Dilma Rousseff, Dirceu visitou a presidente no Palácio da Alvorada, onde tiveram uma longa conversa. A assessoria do mensaleiro logodivulgou nota no UOL afirmando que Dirceu “nega com veemência” a visita. Dirceu também negou com veemência o mensalão. Petistas negaram com veemência o petrolão. Toda vez que negam com veemência alguma coisa, o mais provável é que seja verdade.
Pouco importa, no entanto, se o brinde Berzoini – que o PT queria na pasta para tocar aquela censura travestida de regulação de mídia – foi entregue pessoal ou virtualmente. No debate da Globo, Aécio Neves havia dado a chance para Dilma repudiar o mensalão e garantir que Dirceu não voltaria a dar as cartas em seu governo. Como a presidente não fizera uma coisa nem outra, não deveria surpreender ninguém que ela o receba agora no Palácio e/ou lhe faça agrados.
O fato é que Dirceu ganhou nas Comunicações um ministro que, na época do julgamento do mensalão, pronunciou-se assim: “Eu quero iniciar essa fala de hoje primeiro dizendo que a nossa solidariedade ao companheiro José Dirceu, ao companheiro José Genoino e ao companheiro Delúbio Soares, está expressa na palavra e na atitude de cada deputado da bancada do PT.”
O vídeo abaixo dá uma ideia de quem é Berzoini.
Com aquele misto de inversão leninista e vitimismo acusatório que constitui o discurso petista, ele acusava o então ministro do STF Joaquim Barbosa de 10 proezas:
1) confrontar “um dos princípios mais fundamentais da nossa Constituição, que é o princípio da impessoalidade”;
2) “constranger seus pares quando discordaram de sua opinião”;
3) tomar a ação do mensalão “como se fosse um patrimônio pessoal para fazer propaganda política, para fazer marketing político de si próprio”;
4) “criar um ambiente onde só havia no Supremo Tribunal Federal com legitimidade aqueles que quisessem o linchamento público daqueles que estavam acusados” (coitadinhos!);
5) “intenção de provocar um resultado previamente combinado com aqueles que têm interesse político nisso”;
6) “má intenção”, “nefasta, inconstitucional, desonesta nesse processo”;
7) desonrar “o poder Judiciário brasileiro ao agir fora da impessoalidade”;
8) usar o 15 de novembro, dia da Proclamação da República, “para fazer manipulação política”;
9) cometer “mais uma ilegalidade: trouxe para Brasília pessoas que tinham direito de cumprir suas penas – penas injustas, diga-se de passagem – mas cumprir suas penas no seu local de moradia”;
10) violentar “a Constituição em nome da Justiça”.
2) “constranger seus pares quando discordaram de sua opinião”;
3) tomar a ação do mensalão “como se fosse um patrimônio pessoal para fazer propaganda política, para fazer marketing político de si próprio”;
4) “criar um ambiente onde só havia no Supremo Tribunal Federal com legitimidade aqueles que quisessem o linchamento público daqueles que estavam acusados” (coitadinhos!);
5) “intenção de provocar um resultado previamente combinado com aqueles que têm interesse político nisso”;
6) “má intenção”, “nefasta, inconstitucional, desonesta nesse processo”;
7) desonrar “o poder Judiciário brasileiro ao agir fora da impessoalidade”;
8) usar o 15 de novembro, dia da Proclamação da República, “para fazer manipulação política”;
9) cometer “mais uma ilegalidade: trouxe para Brasília pessoas que tinham direito de cumprir suas penas – penas injustas, diga-se de passagem – mas cumprir suas penas no seu local de moradia”;
10) violentar “a Constituição em nome da Justiça”.
Em reportagem de abril de 2011, a edição impressa de VEJA mostrava que Berzoini “conquistou respeito pela lealdade que sempre demonstrou nos momentos difíceis e pela presteza e discrição com que se desincumbiu de missões espinhosas no interesse do partido. Berzoini é um daqueles quadros partidários de atuação modesta sob os holofotes, mas eficientíssima longe deles. Ele sabe seu valor e se considera um dos principais responsáveis pela ascensão do PT ao poder.”
Na época, ele andava inconformado com a diminuição de suas prerrogativas no atual governo e ameaçava até se rebelar. Três anos depois, o mesmo Lula que transferiu sua responsabilidade a Berzoini no caso dos aloprados o impôs a Dilma para o ministério das Relações Institucionais, dada a experiência de Berzoini em relação… não institucionais.
Agora ele já pode ficar ainda mais calminho.
Sua cumplicidade – reconhecida por Lula, Dirceu e Dilma – acaba de ser premiada de novo.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil